quinta-feira, março 31, 2022

31 de Março - 153 ANos da Desencarnação de Allan Kardec em 31 Março de 1869.

 



Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de 1869), mundialmente conhecido como Allan Kardec, foi o codificador do Espiritismo.

 *

Realizou a tarefa missionária de codificar, isto é, apresentar em livros, metódica, didática e logicamente organizados, comentados e explicados, os postulados da Doutrina Espírita.

 *

Conheça os 10 fatos sobre Allan Kardec neste episódio do Minha Nada Mole Encarnação disponível na FEBtv: https://www.youtube.com/watch?v=tO9U2uGgyQo&t=5s 


quarta-feira, março 30, 2022

DOR - João de Deus

 

DOR

João de Deus


Onde a dor exige chagas,


Angústias, misérias, pragas,


Desânimo
e solidão,


Espalhemos com bondade


As rosas da caridade


Que nunca fenecerão.

 

XAVIER, Francisco Cândido por autores diversos. Agenda de Luz.

 

terça-feira, março 29, 2022

DESCULPAS - André Luiz

 



 DESCULPAS

André Luiz


A desculpa ante as faltas de que você tenha sido vítima, invariavelmente, é ação em seu próprio favor.


Preste uma informação sem desaprimorar quem a solicita.



Atenda ao bem pela alegria de servir, sem cobrar tributos de gratidão.


Não exija a cooperação dos outros em tarefas que você possa realizar por si mesmo.

 

XAVIER, Francisco Cândido por autores diversos. Agenda de Luz.

 

segunda-feira, março 28, 2022

A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE Bordeaux. Médium: Sra. Cazemajoux /REVISTA ESPÍRITA

 








A FÉ, A ESPERANÇA E A CARIDADE

Bordeaux. Médium: Sra. Cazemajoux




 

A FÉ



Sou a irmã mais velha da Esperança e da Caridade; chamo-me Fé.

*

Sou grande e forte. 


Aquele que me possui não teme nem o ferro, nem o fogo: é à prova de todos os sofrimentos físicos e morais. 


Irradio sobre vós com um facho cujos jatos cintilantes se refletem no fundo de vossos corações e vos comunico a força da vida. 


Dizem, entre vós, que transporto montanhas; eu, porém, vos digo: 


Venho erguer o mundo, porquanto o Espiritismo é a alavanca que me deve auxiliar. Uni-vos a mim; venho convidar-vos: sou a Fé.


 *

Sou a Fé! 


Moro com a Esperança, a Caridade e o Amor no mundo dos Espíritos Puros. 


Muitas vezes deixei as regiões sublimadas e vim à Terra para vos regenerar, dando-vos a vida do Espírito. 


Mas, excetuando os mártires dos primeiros tempos do Cristianismo e, de vez em quando, alguns fervorosos sacrifícios ao progresso da ciência, das letras, da indústria e da liberdade, só encontrei entre os homens indiferença e frieza, retomando tristemente o meu voo para o céu. 


Julgais-me em vosso meio, mas vos enganais, porque a Fé sem obras é um simulacro de Fé. 


A verdadeira Fé é vida e ação.


 *

Antes da revelação espírita a vida era estéril; era uma árvore que, ressequida pelos raios, não produzia nenhum fruto. 


Reconhecem-me por meus atos: ilumino as inteligências, aqueço e fortaleço os corações; afasto para longe de vós as influências enganosas e vos conduzo a Deus pela perfeição do espírito e do coração. 


Vinde abrigar-vos sob a minha bandeira; sou poderosa e forte: eu sou a Fé.


 *

Sou a Fé e o meu reino começa entre os homens; reino pacífico, que os tornará felizes no presente e na eternidade. 


A aurora do meu advento entre vós é pura e serena; seu sol será resplandecente e seu crepúsculo virá docemente embalar a Humanidade nos braços de eternas felicidades. 


Espiritismo! 


Derrama sobre os homens o teu batismo regenerador. 


Eu lhes faço um apelo supremo: eu sou a Fé.

 

Georges, Bispo de Périgueux

 

FONTE 

FEBNET. Disponível em http://www.sistemas.febnet.org.br/site/indiceGeralDeRevistas/verArtigo.php?CodArtigo=409&Palavra=Virtudes%20irm%C3%A3s. Acesso: 18 JUN 2021.






A ESPERANÇA

 

Meu nome é esperança. 


Sorrio à vossa entrada na vida; sigo-vos passo a passo e não vos deixo senão nos mundos onde para vós se realizam as promessas de felicidade, incessantemente murmuradas aos vossos ouvidos. 


Sou vossa fiel amiga; não repilais minhas inspirações: eu sou a Esperança.

 *


Sou eu que canto pela voz do rouxinol e que faço ecoar nas florestas essas notas lamentosas e cadenciadas que vos fazem sonhar com o céu; 


sou eu que inspiro à andorinha o desejo de aquecer os seus amores no abrigo de vossas moradas; 


brinco na brisa ligeira que acaricia os vossos cabelos; 


espalho aos vossos pés o suave perfume das flores dos vossos jardins, e quão pouco pensais nessa amiga que vos é tão devotada! 


Não a repilais: é a Esperança.

 *


Tomo todas as formas para me aproximar de vós. 


Sou a estrela que brilha no azul; o cálido raio de sol que vos vivifica; 


embalo as vossas noites com sonhos alegres; 


expulso para longe as negras preocupações e os pensamentos sombrios; 


guio os vossos passos para a senda da virtude; 


acompanho-vos nas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos e vos inspiro palavras afetuosas, que consolam. 


Não me repilais: eu sou a Esperança!


 *

Eu sou a esperança! 


Sou eu que, no inverno, faço crescer na casca dos carvalhos o musgo espesso com que os passarinhos constroem seus ninhos; 


sou eu que, na primavera, coroo a macieira e a amendoeira de flores brancas e rosas e as espalho sobre a terra como uma juncada celeste, que faz aspirar aos mundos felizes; 


sobretudo estou convosco quando sois pobres e sofredores; 


minha voz ressoa incessantemente aos vossos ouvidos.

 *


Não me repilais: eu sou a Esperança. 


Não me repilais, porque o anjo do desespero me faz uma guerra obstinada e se consome em vãos esforços para tomar o meu lugar junto de vós. 


Nem sempre sou a mais forte e, quando ele consegue me afastar, vos envolve com as suas fúnebres asas, desvia os vossos pensamentos de Deus e vos arrasta ao suicídio. 


Uni-vos a mim para afastar sua funesta influência e vos deixai embalar docemente em meus braços, porque eu sou a Esperança.

 

Felícia,

 

Filha do médium


 FONTE

FEBNET. Disponível em http://www.sistemas.febnet.org.br/site/indiceGeralDeRevistas/verArtigo.php?CodArtigo=409&Palavra=Virtudes%20irm%C3%A3s. Acesso: 18 JUN 2021.







A CARIDADE

 


Eu sou a Caridade. 


Em nada me assemelho à caridade cujas práticas seguis. 


Aquela que entre vós usurpou o meu nome é fantasista, caprichosa, exclusiva, orgulhosa; 


venho vos prevenir contra os defeitos que, aos olhos de Deus, diminuem o mérito e o brilho de suas boas ações. 


Sede dóceis às lições que o Espírito de Verdade vos dá por minha voz. 


Segui-me, meus fiéis: eu sou a Caridade.


 *

Segui-me. 


Conheço todos os infortúnios, todas as dores, todos os sofrimentos, todas as aflições que assediam a Humanidade. 


Sou a mãe dos órfãos, a filha dos idosos, a protetora e sustentáculo das viúvas; 


penso as chagas infectadas; 


curo todas as doenças; 


dou roupas, pão e um abrigo aos que não os têm; 


subo às mais miseráveis águas-furtadas, às mais humildes mansardas; 


bato à porta dos ricos e poderosos, porque, onde quer que viva uma criatura humana, sempre existirá, sob a máscara da felicidade, as mais amargas e acerbas dores. 


Oh! quão grande é a minha tarefa! 


Não poderei cumpri-la se não vierdes em meu auxílio. 


Vinde a mim: eu sou a Caridade.


 *

Não tenho preferência por ninguém. 


Jamais digo aos que necessitam de mim: “Tenho os meus pobres; procurai alhures.” 


Oh! falsa caridade, quantos males provocas! 


Amigos, nós nos devemos a todos. 


Crede-me: não recuseis vossa assistência a ninguém; 


socorrei-vos uns aos outros com bastante desinteresse para não exigir nenhum reconhecimento de parte dos que tiverdes socorrido. 


A paz do coração e da consciência é a doce recompensa de minhas obras: eu sou a verdadeira Caridade.

 *


Ninguém conhece na Terra o número e a natureza de meus benefícios. 


Só a falsa caridade fere e humilha aqueles a quem alivia. 


Acautelai-vos contra esse funesto desvio; 


as ações desse gênero não têm nenhum mérito perante Deus e atraem sobre vós a sua cólera. 


Só Ele deve saber e conhecer os generosos impulsos de vossos corações quando vos tornais os dispensadores de seus benefícios. 


Guardai-vos, pois, amigos, de dar publicidade à prática da assistência mútua; 


não mais lhe deis o nome de esmola. 


Crede em mim: eu sou a Caridade.


 *


Tenho tantos infortúnios a aliviar que muitas vezes fico com o colo e as mãos vazios; 


venho dizer-vos que espero em vós. 


O Espiritismo tem por divisa Amor e Caridade; 


e todos os verdadeiros espíritas quererão, no futuro, conformar-se a esse sublime preceito pregado pelo Cristo há dezoito séculos. 


Segui-me, pois, irmãos; 


eu vos conduzirei ao reino de Deus, nosso pai. 


Eu sou a Caridade.

 

Adolfo, Bispo de Argel


FONTE:

FEBNET. Disponível em http://www.sistemas.febnet.org.br/site/indiceGeralDeRevistas/verArtigo.php?CodArtigo=409&Palavra=Virtudes%20irm%C3%A3s. Acesso: 18 JUN 2021.

 

 


INSTRUÇÕES DADAS POR NOSSOS GUIAS A RESPEITO DAS TRÊS COMUNICAÇÕES ACIMA

 

Meus caros amigos, deveis ter imaginado que um de nós havia dado os ensinamentos sobre a fé, a esperança e a caridade, e tivestes razão.

 *

Felizes por ver Espíritos tão elevados vos dar, com tanta freqüência, conselhos que vos devem guiar em vossos trabalhos espirituais, não menos doce e pura é a nossa alegria, quando vimos ajudar a tarefa do vosso apostolado espírita.

 *

Podeis, pois, atribuir ao Espírito Georges a comunicação sobre a Fé; 


a da Esperança a Felícia: aí encontrareis o estilo poético que tinha durante sua vida; 


e a da Caridade a Dupuch, bispo de Argel, que na Terra foi um de seus fervorosos apóstolos. 


Ainda teremos de tratar da caridade sob outro ponto de vista. 


Fá-lo-emos dentro de alguns dias.

 

FONTE

FEBNET. Disponível em http://www.sistemas.febnet.org.br/site/indiceGeralDeRevistas/verArtigo.php?CodArtigo=409&Palavra=Virtudes%20irm%C3%A3s. Acesso: 18 JUN 2021.

 

REENCARNAÇÃO: O ELO ESQUECIDO DO CRISTIANISMO - Jerri Roberto S. de Almeida

 


REENCARNAÇÃO: O ELO ESQUECIDO DO CRISTIANISMO

Jerri Roberto S. de Almeida


PREÂMBULO
Há muito tempo atrás os cristãos acreditavam na reencarnação.


Essa é a conclusão da escritora americana Elizabeth Clare Prophet, em seu livro "Reencarnação: o elo perdido do cristianismo".


A obra é uma análise histórica da reencarnação, especialmente, a partir do cristianismo até os concílios da Igreja e a perseguição aos hereges.


A autora, embora utilizando uma fonte bibliográfica extremamente rica e usando uma terminologia eminentemente espírita (reencarnação, mundo espiritual...) não faz nenhuma referência ao Espiritismo. De qualquer forma, iremos refletir, dentro dessa breve historiografia de idéias sobre a reencarnação, a proposta espírita, oportunizando, na atualidade, a continuação dos ensinos de Jesus sobre as vidas sucessivas.

*
O NOVO TESTAMENTO

O principal alvo de debates sobre a reencarnação no Novo Testamento está centralizado nas passagens que se referem a João Batista como sendo a reencarnação do profeta Elias. O tema é abordado três vezes nos Evangelhos. Vejamos:

*
A primeira, quando João está pregando no deserto e os sacerdotes e levitas chegam para interrogá-lo.


Ele então nega ser Elias.


Mas identifica-se como ' a voz do que clama no deserto...'" (E.S.E. cap. XV).


No entanto, para os judeus essa "voz" havia sido prevista pelo profeta Malaquias como sendo a "voz" do precursor do Messias, identificado como Elias.

*
Segundo Elizabeth, João, por certo, teve um bom motivo para responder dessa forma.


Negou ser Elias para evitar reações das autoridades políticas e religiosas, que mais tarde o decapitaram, mas, ao mesmo tempo, confirmou "veladamente" a sua reencarnação para tranqüilizar seus seguidores.

*

JESUS AFIRMOU QUE JOÃO BATISTA ERA A REENCARNAÇÃO DE ELIAS.


Observemos que, nas outras duas vezes em que a questão sobre Elias aparece, é o próprio Jesus a declara que João era Elias que "retornara".


A primeira vez é quando João está na prisão e Jesus publicamente faz essa referência: "Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.


E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir". (E.S.E. cap. XV, 8 a 10)

*

Após a morte de João Batista, vamos encontrar a cena da transfiguração de Jesus no monte Tabor.


Quando Jesus se transfigura, então Elias e Moisés aparecem e falam com Jesus.


Quando descem do monte, os discípulos perguntam-lhe:


"Porque dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?". em outras palavras:


Se Elias deveria vir primeiro, como profeta, para preparar o caminho para a sua vinda, então por que ele aparece em seu corpo espiritual?

*
"O que está fazendo no 'céu' se ainda não o vimos na Terra?"


Segundo a narrativa de Marcos, Jesus responde:


"(...) Digo-vos, porém, que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como dele está escrito".


Mateus apresenta a mesma história, acrescentando a seguinte frase:



"Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista."


De acordo com Elizabeth, "os discípulos provavelmente entenderam que a declaração de Jesus ' fizeram-lhe tudo o que quiseram' referia-se à decapitação de João, por ordem do rei Herodes Antipas.

*

Observando-se apenas esses três relatos, é razoável concluir-se que o princípio da reencarnação fazia parte dos ensinos de Jesus, como um mecanismo natural da lei do progresso e da evolução.

*

Muitos estudiosos, contrários à idéias da pluralidade das existências, acreditam que a questão da reencarnação de Elias em João, e sua referência por Jesus, na verdade, teria sido acrescentada pelos autores dos Evangelho, ou mesmo, pelos tradutores.


Se analisarmos essa questão do ponto de vista meramente histórico, realmente tornar-se-ia difícil chegar a uma conclusão absoluta e irretoquível.


Primeiro, porque as fontes primárias não foram conservadas, e segundo, porque os autores dos Evangelhos não eram historiadores, mas pessoas com limitações naturais de conhecimento e que puderam conservar pela memória, e/ou pelas tradições orais, os ensinamentos que Jesus lhes havia ministrado. As palavras do Cristo, disseminadas ao longo do tempo, foram transmitidas de boca em boca, e, posteriormente, transcritas em diferentes épocas, muito tempo depois de sua morte.


Não obstante a contribuição da Doutrina Espírita, nessa e em outras tantas questões, é realmente notável.


Allan Kardec, em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", no cap. IV, após analisar as informações dos espíritos superiores encarregados de orientar a codificação do Espiritismo, reafirma:

*
"A idéia de que João Batista era Elias e de que os profetas podiam reviver na Terra se nos depara em muitas passagens dos Evangelhos(...).


Se fosse errônea essa crença, Jesus não houvera deixado de a combater, como combateu tantas outras e a põe por princípio e como condição necessária, quando diz:


"Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.'


E insiste, acrescentando: Não te admires de que eu te haja dito ser preciso nasças de novo".


Em "O Livro dos Espíritos", questão 222, novamente afirmou:


"Muitos repelem a idéia da reencarnação pelo só motivo de ela não lhes convir.(...)


De alguns sabemos que saltam em fúria só com o pensarem que tenham de voltar à Terra.".

*
OS ALEXANDRINOS

Retornando a nossa análise história, encontraremos Filon de Alexandria (20 a.C. - 50d.C.), filósofo judeu e contemporâneo de Jesus, cujas ideias a respeito do objetivo da vida situava-se na própria integração com Deus através de sucessivas existências; teve um papel muito importante na combinação dos pensamentos grego e judaico.



Filon e sua escola de pensamento davam uma interpretação alegórica do Antigo Testamento, conferindo-lhe um significado simbólico.


A reencarnação fazia parte de sua visão filosófica sobre a vida:


"As (almas) que se deixam influenciar pelo desejo de uma vida mortal(...) retornam a ela" - escreveu ele.


Filon viveu na cidade de Alexandria, próximo do delta do Nilo, famosa por sua biblioteca e por ser um grande centro intelectual da época.


Suas ideias influenciaram profundamente alguns patriarcas da igreja romana: Clemente de Alexandria, Orígenes e Ambrório. Filon era um erudito que acreditava e ensinava que o ser humano pode chegar a Deus pela sabedoria e pela transcendência.


Segundo Elizabeth, Orígenes (185 a 254 d.C.), que viveu em Alexandria, ao estudar os textos de Filon, em conjunto com os clássicos gregos de Platão e Pitágoras, passou a associar a idéia da justiça divina com a ideia das vidas sucessivas, fazendo a seguinte indagação:


"se as almas não existiam previamente, por que encontramos cegos de nascença que nunca pecaram, enquanto outros nascem sãos?"


. Logicamente, chegava a conclusão de que a situação atual da criatura humana é oriunda, também, de suas ações pretéritas de outras vidas:


"Se o nosso destino atual não fosse determinado pelas obras de nossas passadas existências, como poderia Deus ser justo, permitindo que o primogênito servisse o mais moço e fosse odiado, antes de haver praticado atos que merecessem a servidão e o ódio?


Só as vidas anteriores podem explicar a luta de Esáu e Jacó, (...) e outros tantos fatos que seriam o opróbrio da justiça divina, se não fosse justificados pelas ações boas ou más praticadas em anteriores existências".


A partir do século IV, no entanto, a ideia das vidas sucessivas, que era naturalmente difundida, mexeria profundamente com as estruturas de interesse da igreja romana.


Um padre chamado Ário, que viveu de 250 d.C. - 336 d.C., nascido no Líbano, ensinava que Jesus era filho de Deus; logo, Jesus teve um princípio.


A proposta de Jesus seria nos ensinar como chegar a Ele.


Ário defendia que isso seria possível através de sucessivas existências físicas.


As ideias arianistas ensejaram o concílio de Nicéia, uma cidade a beira de um lago a sudeste de Constantinopla, em junho de 325.


O ponto central dos debates era se Jesus havia sido criado ou não.


Se houvera sido criado, conforme entendiam os arianistas, então o progresso poderia ser alcançado por nós se seguíssemos simples e tão somente, os seus ensinamentos.


Mas se ele não houvesse sido criado, sendo portanto igual a Deus, como desejavam os ortodoxos, seria totalmente distinto da criação.


Nesse caso, a criatura humana para atingir a "salvação" dependeria exclusivamente da subserviência aos princípios da igreja romana.


É claro que o concílio rejeitou a primeira ideia e aprovou a segunda.


Com isso as idéias de Ário tornaram-se heréticas e suas obras proibidas.


ANATEMATIZADO A REENCARNAÇÃO

Orígenes, que havia concordado com Ário que o objetivo de Jesus era ensinar os seres humanos como atingir a divindade, discrepando dos ortodoxos literaristas, seria sistematicamente condenado em suas ideias entre os séculos V e VI.



Justiniano (527-565 d.C.), imperador romano, por volta da primeira metade do século VI, tomou o partido dos antiorigenistas, promulgando um édito onde condenou dez princípios ensinados por Orígenes, inclusive a pluralidade das existências.


No entanto, somente no ano 553, ao convocar o Quinto Concílio Geral da Igreja, o princípio da reencarnação seria definitivamente abolido.


Esse concílio incluía efetivamente o origenismo na lista dos movimentos heréticos: "se alguém afirmar a fictícia preexistência das almas, afirmará a monstruosa restauração que dela decorre que seja anatematizado" (Restauração" significa o retorno da alma à união com Deus).


A princípio, Agostinho lutou contra a permanência do conceito de reencarnação na doutrina da Igreja.


Naturalmente a visão reencarnacionista ensejava, desde os seus primórdios, a concepção do ser humano ser autor de seu próprio destino e, portanto, dependeria somente do indivíduo e seu livre-arbítrio, lograr o progresso ou a "salvação", e de mais ninguém.


Evidentemente essa proposta desarticulava os interesses de supremacia político-religiosos da época.


Tanto é verdade que Agostinho (354-430 d.C.) chegou a escrever uma carta ao Papa Inocêncio I, advertindo-o sobre a necessidade de condenar-se as ideias sobre as vidas sucessivas, sob pena de a Igreja perder a sua própria autoridade.


Logo, o princípio do esforço pessoal e não simplesmente a aceitação de regras impostas colidia diretamente com o "fora da igreja não há salvação".


Com a rejeição da reencarnação, a igreja teve que encontrar uma outra explicação para a ocorrência de fatos negativos a pessoas boas.


Sem as ações passadas para explicar as diferenças entre os destinos, restou à igreja aceitar a doutrina do pecado original elaborada por Agostinho, que se tornou o mais influente teólogo da igreja.


Assim se expressa Elizabeth:


"O pecado original também era um conceito atraente para os governantes seculares.


Como a doutrina firmava que o homem era naturalmente mau, ele seria, obviamente, incapaz de governar a si próprio.


Assim, deveria obedecer os seus governantes(...)


Certamente foi uma ideologia que servia às necessidades das classes dominantes da sociedade romana".



AGOSTINHO, O RETORNO À REENCARNAÇÃO


Agostinho passou nove anos adepto do maniqueísmo, que combinava idéias cristãs, gnósticas e budistas, antes de voltar-se para o cristianismo.


Certamente, nesse período, manteve contato com as ideias reencarnacionistas, uma vez que esse princípio fazia parte dos ensinamentos do profeta Mani.


Todavia, com a elaboração de sua teologia a posteriori, deixou-se envolver pelos conflitos pessoais e negativistas que somente a obra do tempo poderia retificar.


Foi assim que, com o passar dos séculos, Agostinho aprimorando seus paradigmas sobre os mecanismos pelos quais a justiça divina se manifesta, retornaria ao cenário do mundo, na segunda metade do século XIX, na tarefa de "reascender" na Terra o elo, não "perdido", mas "esquecido" do cristianismo: a reencarnação.


Ao compor a plêiade de espíritos superiores que orientaram o trabalho de Allan Kardec na codificação do Espiritismo, Agostinho tem oportunidade de afirmar:


"Como é bela essa missão!


Assim, com que alegria vimos a vós para vos dar a conhecer os desígnios divinos!


Para vos revelar as maravilhas do além-túmulo!


Mas vós, que já sois iniciados nessas sublimes verdades, espalhai a semente em vosso derredor e a recompensa será bela".

*
A REENCARNAÇÃO DIGNIFICA A VIDA


Consubstanciando a Lei do Progresso, a reencarnação propicia sentido à existência humana.


O seu princípio está na natureza, e, como tal, não pode ser excluído pelo ser humano.


Variando-se as culturas e o tempo, a ideia reencarnacionista sempre acompanhou e acompanhará o pensamento humano ao longo de sua historiografia.


Cabe ressaltar que a Doutrina Espírita, representando a síntese do conhecimento humano, em suas expressões científica, filosófica e religiosa, oportuniza uma cosmovisão da vida e, pelo apelo que faz à razão e ao bom-senso, estimula o ser humano à ação do bem:


"Fora da Caridade não há salvação", isto é, o Espiritismo não diz que fora dele não há salvação, mas apresenta-nos a caridade, como normativa natural de libertação dos ciclos reencarnatórios em desajustes, convidando-nos à plenitude e, portanto, ao aproveitamento máximo de nossa atual existência.


FONTE:
Autor: Jerri Roberto S. de Almeida - Professor de História e Dirigente Espírita) (Revista "A Reencarnação", nº 421)