domingo, julho 23, 2006
UMA HISTÓRIA DE AMOR
Luiz Carlos Prates - Diário Catarinense - 07/07/2006
"Todos temos o nosso ponto fraco. O meu é o amor."
Não falo do amor das alcovas, do amor das volúpias dos amantes.
Não é desse amor que falo.
O amor que me tira a respiração é o amor das transcendências da condição humana,
é o amor que sublima os defeitos dos seres humanos,
é o amor que transforma pessoas em anjos.
E essas pessoas dão dignidade à vida, florescem a Terra.
Acabo de ler uma história que não é comum,
uma história de amor entre dois irmãos.
Sim, eu disse que não é comum esse amor.
Será preciso provas?
Uma vez contei aqui de um professor que tive e que um dia,
numa aula de Psicologia Social,
pediu-nos que levantassem a mão os que tivessem três amigos, não mais,
amigos daqueles que chegam primeiro que os bombeiros
quando nossa casa está em chamas...
E o professor, cruelmente, acrescentou: - Não vale pai e mãe, irmãos vale.
Crueza do professor, crueza alicerçada numa triste verdade estatística.
A história que me renovou a crença no bem,
tamanha a grandeza do amor que nela existe, chegou-me da cidade de Itaqui,
Rio Grande do Sul.
Foi assim. Uma mãe e quatro filhos, três meninas e um adolescente,
gente pobre, saiu para recolher gravetos num mato que ladeava o Rio Cambaí.
Faziam isso seguidamente, buscavam lenha para o fogão da casa.
A família se preparava para voltar à casa, muitos gravetos recolhidos,
quando a mãe, num descuido, não conseguiu impedir que uma filha,
garotinha de 8 anos, caísse no rio.
Ficaram todos em choque, a menina não sabia nadar.
Afogava-se. Sem vacilar, o irmão, um guri de 14 anos,
jogou-se no rio e salvou a menina, sua irmãzinha de 8 anos.
E ele morreu, morreu afogado.
Sabes por que, leitora? Porque ele não sabia nadar.
Não sabia. Há pessoas que vão à casa das divindades encarnadas,
que não pensam que não podem quando vêem alguém em perigo, sofrendo.
Não pensam em si, agem pelo formidável instinto de amor,
doam-se pelos outros.
Esse menino de 14 que se jogou no rio sem saber nadar,
sabia que não sabia nadar.
Mas no rio, morrendo, estava sua irmãzinha, sua companheirinha de brinquedos.
Todos na família, ao velá-lo, diziam isso:
"O Rodrigo, (esse o nome do menino) deixava de ir jogar bola com os amigos se,
por qualquer razão, as irmãs precisassem dele.
E a princezinha de 8 anos, Juliandra, era sua bonequinha".
Que bonito, Rodrigo, que bonito!
Sabes, Rodrigo, eu não tenho dúvidas, Deus te mandou à Terra em sangue de irmão
para salvar a vida da menina Juliandra.
E tu cumpriste teu papel, querido Rodrigo.
Tu não disseste nada a ninguém, tu te jogaste nas águas do rio,
dela tiraste tua maninha e lá mesmo deixaste teu corpo jovem.
Para que corpo se tu eras uma alma? Uma alma de irmão.
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