domingo, agosto 20, 2006


Logo cedo manifestou- se nele profunda inteligência e senso de responsabilidade,
acervo conquistado naturalmente nas experiências de vidas pretéritas.
Era ainda bem moço, porém muito estudioso e com tendências para o ensino,
por isso foi incumbido pelo seu mestre- escola de ensinar aos próprios
companheiros de aula.
Respeitável representante político de sua comunidade, tornou- se secretário da
Irmandade de São Vicente de Paula, tendo participado ativamente da fundação
do jornal "Gazeta de Sacramento" e do "Liceu Sacramentano". Logo viu- se guindado
à posição natural de líder, por sua segura orientação quanto aos verdadeiros valores
da vida.

Através de informações prestadas por um dos seus tios, tomou conhecimento da
existência dos fenômenos espíritas e das obras da Codificação Kardequiana.
Diante dos fatos voltou totalmente suas atividades para a nova Doutrina,
pesquisando por todos os meios e maneiras, até desfazer totalmente suas dúvidas.
Despertado e convicto, converteu- se sem delongas e sem esmorecimentos,
identificando-se plenamente com os novos ideais, numa atitude sincera e própria
de sua personalidade, procurou o vigário da Igreja matriz onde prestava sua
colaboração, colocando à disposição do mesmo o cargo de secretário da Irmandade.

Repercutiu estrondosamente tal acontecimento entre os habitantes da cidade e
entre membros de sua própria família. Em poucos dias começou a sofrer as
conseqüências de sua atitude incompreendida.
Persistiu lecionando e entre as matérias incluiu o ensino do Espiritismo,
provocando reação em muitas pessoas da cidade, sendo procurado pelos pais
dos alunos, que chegaram a oferecer- lhe dinheiro para que voltasse atrás quanto
à nova matéria e, ante sua recusa, os alunos foram retirados um a um.
Sob pressões de toda ordem e impiedosas perseguições, Eurípedes sofreu forte
traumatismo, retirando- se para tratamento e recuperação em uma cidade vizinha,
época em que nele desabrocharam várias faculdades mediúnicas, em especial
a de cura, despertando- o para a vida missionána. Um dos primeiros casos de cura
ocorreu justamente com sua própria mãe que, restabelecida, se tornou valiosa assessora
em seus trabalhos.

A produção de vários fenômenos fez com que fossem atraídas para Sacramento
centenas de pessoas de outras paragens, abrigando- se nos hotéis e pensões,
e até mesmo em casas de famí1ias, pois a todos Barsanulfo atendia e ninguém
saía sem algum proveito, no mínimo o lenitivo da fé e a esperança renovada e,
quando merecido, o benefício da cura, através de bondosos Benfeitores Espirituais.
Auxiliava a todos, sem distinção de classe, credo ou cor e, onde se fizesse necessária
a sua presença, lá estava ele, houvesse ou não condições materiais.

Jamais esmorecia e, humildemente, seguia seu caminho cheio de percalços,
porém animado do mais vivo idealismo. Logo sentiu a necessidade de divulgar o
Espiritismo, aumentando o número dos seus seguidores. Para isso fundou o
"Grupo Espírita Esperança e Caridade", no ano de 1905, tarefa na qual foi apoiado
pelos seus irmãos e alguns amigos, passando a desenvolver trabalhos interessantes,
tanto no campo doutrinário, como nas atividades de assistência social.

Certa ocasião caiu em transe em meio dos alunos, no decorrer de uma aula.
Voltando a si, descreveu a reunião havida em Versailles, França, logo após a
I Guerra Mundial, dando os nomes dos participantes e a hora exata da reunião
quando foi assinado o célebre tratado.
Em 1o. de abril de 1907, fundou o Colégio Allan Kardec, que se tornou verdadeiro
marco no campo do ensino. Esse instituto de ensino passou a ser conhecido em todo
o Brasil, tendo funcionado ininterruptamente desde a sua inauguração, com a média
de 100 a 200 alunos, até o dia 18 de outubro, quando foi obrigado a cerrar suas
portas por algum tempo, devido à grande epidemia de gripe espanhola que assolou
nosso país.

Seu trabalho ficou tão conhecido que, ao abrirem- se as inscrições para matrículas,
as mesmas se encerravam no mesmo dia, tal a procura de alunos, obrigando um
colégio da mesma região, dirigido por freiras da Ordem de S. Francisco, a encerrar suas atividades por falta de freqüentadores.

Liderado a pulso forte, com diretriz segura, robustecia- se o movimento espírita
na região e esse fato incomodava sobremaneira o clero católico, passando este,
inicialmente de forma velada e logo após, declaradamente, a desenvolver uma
campanha difamatória envolvendo o digno missionário e a doutrina de libertação,
que foi galhardamente defendida por Eurípedes, através das colunas do jornal
"Alavanca", discorrendo principalmente sobre o tema: "Deus não é Jesus e
Jesus não é Deus", com argumentação abalizada e incontestável,
determinando fragorosa derrota dos seus opositores que, diante de um gigante
que não conhecia esmorecimento na luta, mandaram vir de Campinas, Estado de S. Paulo,
o reverendo Feliciano Yague, famoso por suas pregações e conhecimentos, convencidos
de que com suas argumentações e convicções infringiriam o golpe derradeiro no Espiritismo.

Foi assim que o referido padre desafiou Eurípedes para uma polêmica em praça pública, aceita e combinada em termos que foi respeitada pelo conhecido apóstolo do bem.
No dia marcado o padre iniciou suas observações, insultando o Espiritismo e os espíritas, "doutrina do demônio e seus adeptos, loucos passíveis das penas eternas",
numa demonstração de falso zelo religioso, dando assim testemunho público do ódio,
mostrando sua alma repleta de intolerância e de sectarismo.

A multidão que se mantinha respeitosa e confiante na réplica do defensor do Espiritismo,
antevia a derrota dos ofensores, pela própria fragilidade dos seus argumentos vazios e inconsistentes.

O missionário sublime, aguardou serenamente sua oportunidade, iniciando sua parte
com uma prece sincera, humilde e bela, implorando paz e tranqüilidade para uns e
luz para outros, tornando o ambiente propício para inspiração e assistência do plano
maior e em seguida iniciou a defesa dos princípios nos quais se alicerçavam seus
ensinamentos.

Com delicadeza, com lógica, dando vazão à sua inteligência, descortinou os desvirtuamentos doutrinários apregoados pelo Reverendo, reduzindo- o à insignificância dos seus parcos conhecimentos, corroborado pela manifestação alegre e ruidosa da multidão que desde o princípio confiou naquele que facilmente demonstrava a lógica dos ensinos apregoados pelo Espiritismo.

Ao terminar a famosa polêmica e reconhecendo o estado de alma do Reverendo,
Eurípedes aproximou- se dele e abraçou- o fraterna e sinceramente, como sinceros
eram seus pensamentos e suas atitudes.
Barsanulfo seguiu com dedicação as máximas de Jesus Cristo até o último instante
de sua vida terrena, por ocasião da pavorosa epidemia de gripe que assolou o mundo
em 1918, ceifando vidas, espalhando lágrimas e aflição, redobrando o trabalho do grande missionário, que a previra muito antes de invadir o continente americano,
sempre falando na gravidade da situação que ela acarretaria.

Manifestada em nosso continente, veio encontrá- lo à cabeceira de seus enfermos,
auxiliando centenas de famílias pobres. Havia chegado ao término de sua missão terrena. Esgotado pelo esforço despendido, desencarnou no dia 1.º de novembro de 1918, às 18 horas, rodeado de parentes, amigos e discípulos.

Sacramento em peso, em verdadeira romaria, acompanhou- lhe o corpo material
até a sepultura, sentindo que ele ressurgia para uma vida mais elevada e mais sublime.

Notícias de outras reencarnações :

¨... Eurípedes Barsanulfo, o abnegado servidor de Jesus, que abraçara o martírio
nos primórdios do Cristianismo nas Gálias lugdunenses, assinalando o seu sacrifício
com a coragem e a fé inamovível no Herói da Cruz.( ...)
Depois de inumeráveis existências profícuas o missionário do amor renascera em Zurique,
no ano de 1741, com o nome de Johann Kaspar Lavater, havendo manifestado desde
muito cedo pendor místico, que o levou através dos anos à adoção da religião dominante,
na área do protestantismo.(...)
Admirável teólogo passou a ser considerado o criador da moderna Fisiognomonia,
em razão do livro que deixou e foi publicado mais tarde sob o título de A ARTE DE
CONHECER OS HOMENS PELA FISIONOMIA.
(sic.¨Tormentos da Obsessão¨ Manoel Philomeno de Miranda / Divaldo Franco,
p.123/124 - 1ª edição - LEAL)

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