sábado, abril 21, 2007



EM ALGUM TEMPO


Caíra a noite e o viajante pedia socorro a Deus.
Sentia-se doente.
Longa fora a caminhada.
Doía-lhe o corpo.
Estava exausto.
Orando sempre encontrou árvore acolhedora
que lhe pareceu agasalhante refúgio.
No pé do tronco anoso, grande cova caprichosamente
forrada de raízes era leito ao luar.
_ Oh! _ suspirou o viajor fatigado _ Deus
ouviu-me! Afinal, o repouso!
Ajoelhou-se e ia estender o manto roto no chão,
quando verdadeira nuvem de maruins surgiu no
assalto.
Picadas na cabeça, no rosto, nas mãos, nos pés...
E eram tantos os dardos vivos e volantes em
derredor que o pobre recuou espavorido, para dormir
ao relento, entre as pedras e espinheiros da retaguarda.
De corpo dorido, pensava desalentado:
_ Tolo que sou de acreditar na oração! Estou
sozinho! Nada de Deus!
Na manhã seguinte, porém, reomando a marcha,
voltou à árvore do caminho e, somente aí, reconheceu,
admirado, que a grande cova de que fora obrigado
a afastar-se era a moradia de vários
escorpiões.

Não descreia da prece em tempo algum.
E nos casos em que você encontre empecilhos para
possuir o a que mais aspira, guarde, entre aborrecimentos
a provações, a certeza de que, muitas vezes,
o que lhe parece uma situação invejável não passa de ninho enganador,
onde se ocultam os lacraus da morte.

Valerium

Do livro Bem Aventurados os Simples

Nenhum comentário:

Postar um comentário

“Deixe aqui um comentário”