quarta-feira, setembro 03, 2008



Letreiros Vivos


André Luiz



Nas faixas mínimas da sua experiência cotidiana surge o roteiro humano que você representa para os outros.



Os traços do semblante pintam-lhe o clima interior.



Os seus objetos de uso pessoal compõem o edifício da sua simplicidade.



A ordem dos seus afazeres indica-lhe o grau de disciplina.



O cumprimento das suas obrigações denuncia-lhe o valor da palavra empenhada.



O teor da amizade dos seus vizinhos, para com a sua pessoa, qualifica a sua capacidade de se fazer entendido.



O diapasão da sua palestra dá o tom da sua altura íntima.



A segurança da sua opinião traduz a firmeza dos seus ideais.



Os tecidos que lhe envolvem o corpo configuram-lhe o senso de naturalidade.



As iguarias da sua mesa revelham-lhe o papel do estômago no mundo moral.



A natureza do cuidado com o seu físico fala francamente de suas possíveis relações com a vaidade.



O seu presente diz, para todos, o que você foi no passado e o que você será no porvir, com reduzidas possibilidades de erro.



A uniformidade entre o movimento das suas idéias, dos seus conceitos e das suas ações disseca, à vista de todos, a fibra da sua vontade.



Todas as criaturas que lhe partilham a existência lêem incessantemente os letreiros vivos que lhe estabelecem a verdadeira identidade nos panoramas da Vida, respondendo-lhe as mensagens inarticuladas com aversão ou simpatia, contentamento ou desagrado, conforme a sua plantação de bem ou mal.




"O Espírito da Verdade", 76, FEB

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