APARÊNCIAS
Maria Dolores
Não julgues, nem recrimine
Irmãos que vês em festança,
Às vezes, quem grita e dança,
No auge da exaltação,
Tem no peito atormentado
Um vaso de fogo lento,
Argila de sofrimento
Em forma de coração.
Esse homem que se agita,
Em gestos de embriagado,
É um amigo abandonado
Pela esposa que o não quer...
Possui filhinhos chorosos,
Rogando a materna estima,
É um palhaço que lastima
A deserção da mulher.
Aquela jovem que passa,
Gingando, descontraída,
É quase pobre suicida
Pelas angústias que traz,
Quis ser livre sem trabalho,
Mas correu e caiu fundo,
Nos desencantos do mundo,
Entre os quais sofre sem paz.
Outro transporta consigo
Amarga doença oculta;
Em outro, o que mais avulta
É a roupagem de esplendor;
No entanto, o que mais sente
Nas explosões de alegria,
É a solidão que irradia
A triste fome de amor.
Nunca reproves.
Respeita.
Eu também nos tempos idos,
Cantei, guardando gemidos,
Lamentando os erros meus!...
Às vezes, quem grita e ginga,
Tangendo guisos por fora,
Por dentro é alguém que chora
Buscando a bênção de Deus.
Pelo Espírito Maria Dolores ::Psicografia do médium Francisco Cândido Xavier :: Da obra Caminhos do Amor. São Paulo: CEU, 1983
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