quinta-feira, novembro 06, 2008




A SERPENTE E O SÁBIO




Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo.


Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto.


Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo.


A serpente o atacou, desrespeitosa.


Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:


- Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.


A víbora recolheu-se, envergonhada.


Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente.


Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes.


Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela.


Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas.


A infeliz recolheu-se à toca, desalentada.


Vivia aflita, medrosa, desanimada.


Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la.


Espantou-se, observando tamanha ruína.


A serpente contou-lhe, então, a história amargurada.


Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas perseguiam-na.


O sábio pensou, pensou e respondeu após ouví-la:


- Mas, minha irmã, ouve um engano de tua parte.


Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses de assustar os maus.


Não ataques as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor.


Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso à distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos.


Chico Xavier - Da obra Chico de Francisco

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