terça-feira, maio 12, 2009



A Aranha

Casemiro Cunha



Geralmente, em toda parte,

No ângulo mais sombrio

Dos recantos desprezados,

Vem a aranha e tece o fio.



Escura, silenciosa,

Atendendo ao próprio instinto,

Seja dia, seja noite,

Vai fazendo o labirinto.



Por manter o enorme enredo,

Insiste e nunca esmorece,

Condenar-se por si mesma

É seu único interesse.



Desdobrando movimentos

Nos impulsos insensatos,

Pratica perseguições,

Multiplica assassinatos.



Insetos despreocupados,

Na ilusão cariciosa,

Transformam-se em prisioneiros

Da pequena criminosa.



Satisfeita, a aranha escura.

Prossegue na horrenda lida,

Nos venenos que segrega

Traz a morte e suga a vida.



Mas um dia, o espanador,

Na luta material,

Vem e arranca essa infeliz

Das teias de horror do mal.



A aranha, porém, não cede,

Com teimosia e com arte,

Foge ao bem que se lhe fez,

E vai tecer noutra parte.



Quem medita na conduta

Dessa aranha renitente,

Encontra a cópia fiel

Da vida de muita gente.



Há muitos presos do engano,

Deus envia a dor e as provas;

Mas, depois de liberdade,

Vão prender-se em redes novas.



Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Cartilha da Natureza. Ditado pelo Espírito Casemiro Cunha.