domingo, agosto 09, 2009








As profissões de meu pai


Meu pai foi, com certeza, o homem que mais profissões exerceu em toda sua longa vida, sem ter sequer concluído o curso fundamental. Tudo que ele aprendeu foi nas primeiras quatro séries que cursou, quando criança. Contudo, era de uma sabedoria sem par.


Descobri que meu pai era um decorador de grandes qualidades, à medida que eu crescia e observava que ele sempre tinha um local no melhor móvel da casa, para as pequenas coisas que fazíamos na escola, meu irmão e eu.


Em nossa casa, nunca faltou espaço para colocar os quadrinhos, os desenhos, os nossos ensaios de escultura em barro tosco.


Tudo, tudo ganhava um espaço privilegiado. E tudo ficava lindo, no lugar que ele colocava.


Descobri que meu pai era um diplomata, formado na melhor escola do mundo (nosso lar), todas as vezes que ele resolvia os pequenos conflitos entre meu irmão e eu.


Fosse a disputa pela bicicleta, pela bola, pelo último bocado de torta, de forma elegantemente diplomática ele conseguia resolver.


E a solução, embora pudesse não agradar os dois, era sempre a mais viável, correta, honesta e ponderada.


Descobri que meu pai era um escritor de raro dom, quando eu precisava colocar no papel as idéias desencontradas de minha cabecinha infantil.


Ele me fazia dizer em voz alta as minhas idéias e depois ia me auxiliando a juntar as sílabas, compor as palavras, as frases, para que a redação saísse a contento.


Descobri que meu pai era enfermeiro, com menção honrosa, toda vez que meu irmão e eu nos machucávamos.


Ele lavava os joelhos ralados, as feridas abertas no roçar do arame farpado, no cair do muro, no estatelar-se no asfalto.


Depois, passava o produto antisséptico e sabia exatamente quando devia usar somente um pequeno bandaid, o curativo ou a faixa de gaze, o esparadrapo.


Descobri que meu pai cursara a mais famosa Faculdade de Psicologia, quando ele conseguia, apenas com um olhar, descobrir a arte que tínhamos acabado de aprontar, o vaso que tínhamos quebrado.


E, depois, na adolescência, o namoro desatado, a frustração de um passeio que não deu certo, um desentendimento na escola.


Era um analista perfeito. Sabia sentar-se e ouvir, ouvir e ouvir.


Depois, buscava nos conduzir para um estado de espírito melhor, propondo algo que nos recompusesse o íntimo e refizesse o ânimo.


Era também pós-graduado em Teologia.


Sua ciência a respeito de Deus transcendia o conteúdo de alguns livros existentes no mundo.


O seu era o ensino que nos mostrava a gota a cair da folha verde na manhã orvalhada e reconhecer no cristal puro, a presença de Deus.


Que nos apontava a fúria do temporal e dizia: Deus vela. Não se preocupem.


Que nos alertava a não arrancar as flores das campinas porque estávamos pisando no jardim de Deus.


Um jardim que Ele nos cedera para nosso lazer, e que devíamos preservar.


Ah, sim. Ele era um ecologista nato.


E plantava flores e vegetais com o mesmo amor.


Quando colhia as verduras para as nossas refeições, dizia: Não vamos recolher tudo.


Deixemos um pouco para os passarinhos.


Eles alegram o nosso dia e merecem o seu salário.


Também deixava uns morangos vermelhinhos bem à mostra no canteiro exuberante, para que eles pudessem saboreá-los.


Era sua forma de manifestar sua gratidão a Deus pelos Seus cuidados: alimentando as Suas criaturinhas.


Meu pai, além de tudo, foi motorista particular.


Não se cansava de ir e vir, várias vezes, de casa para a escola, para a biblioteca, para o dentista, para o médico, para o teatro e de volta para casa.

Meu pai foi um grande trabalhador de Jesus. Aos domingos ele nos levava para brincarmos com as crianças do asilo e levava dezenas de caixas com doces das melhores qualidades e junto a elas cantava " Criança Feliz"... Momentos que jamais se apagarão da nossa memória...

Papai foi um grande empresário no sentido humanístico...Dividia os lucros com quem necessitasse de sua ajuda, e o fazia em nome de Jesus...


Também foi exímio cozinheiro, mordomo, babá, pintor, pedreiro, jardineiro, escritor, matemático,paisagista, decorador, professor, dançarino,cantor e era apaixonado pela família e por minha mãe.


E tudo isto em tempo integral.


Como ele conseguia, eu não sei.


Somente sei que um dia ele partiu súbitamente, após decorar nossa casa para o Natal e haver feito junto a toda a família, uma linda festa de Natal para uma comunidade carente da nossa cidade e agora ele está na Espiritualidade.


E Deus, como recompensa, por tantas profissões desempenhadas na Terra, lhe deu uma missão muito, muito especial: a de anjo guardião dos filhos que ficaram na bendita escola terrena.


Adaptado da Redação do Momento Espírita.Disponível no CD Momento Espírita, v. 12, ed. Fep



Como papai gostava de flores nos canteiros, pedimos a Deus que paisagens como esta sejam-lhe renovadas a cada dia na Pátria Espiritual sob as bênçãos de Jesus, acrescidas das nossas vibrações de gratidão, carinho e amor ...