sábado, agosto 08, 2009

Tela de Boudin



Do Medo à Confiança: Como realizar seu projeto de vida


"Aquilo que você mais teme é o que você será". Provérbio indígena norte americano
Roberto Ziemer



Quem pode dizer que não tem ou não sente medo?



Infelizmente, este tem sido um sentimento constante em nossa vida, e sua presença penetrante tem levado muitos de nós a tomar decisões e opções que geram fracasso e infelicidade, expressos por relacionamentos conflituosos, escolhas afetivas e profissionais frustrantes, comportamentos compulsivos, etc...



Acredito que todos os seres humanos têm um potencial de auto-realização, que raramente se expressa em sua totalidade, devido a vários fatores, entre eles:



A perda da verdadeira identidade (alma), e a instalação de uma identidade falsa (codependente), em virtude de pressões e disfunções familiares e sociais;



A criação de um juiz ou crítico interno que impede a criatividade e a auto-realização, impondo uma agenda ("deveria") que limita as possibilidades de expressão pessoal;



A formação de uma auto-estima negativa que influencia nossas escolhas e decisões;



O reforço de crenças ou mitos pessoais que "hipnotizam" ou direcionam nossa consciência, gerando uma visão de mundo baseada no medo e na escassez.



Embora muito poderosos, estes instrumentos do medo podem e devem ser ultrapassados. Eles fazem parte de nossa história, mas não representam quem realmente somos. No meu trabalho com indivíduos, grupos e organizações tenho ouvido repetidamente: "este padrão (destrutivo) é muito antigo, já faz parte de minha identidade ... ele influenciou a vida de meus pais e avós ... não acredito que seja possível mudá-lo".



Se por um lado existe um forte apelo para mantermos padrões e comportamentos conhecidos, mesmo que destrutivos, podemos verificar também a atuação de uma força criativa, evolutiva, que nos impulsiona a sermos mais autênticos, "cada vez mais nós mesmos".



Esta força interior é chamada de força de auto-realização, necessária para ultrapassarmos os obstáculos e enfrentarmos os desafios em nossa vida. Quando estamos sob a sua influência nos perguntamos: Quem sou eu? Qual é a minha tarefa? Qual a minha contribuição única ao mundo? Como posso ajudar?



Mas se a influência do medo em nossas vidas é muito grande, se as experiências do passado são mais reais que as possibilidades do presente, não temos acesso a nossa força de auto-realização. Isto gera uma série de sintomas destrutivos, entre eles:


Sintomas psicossomáticos;


"Acidentes" e problemas graves de saúde;


Término de relacionamentos afetivos importantes;


Término ou estagnação de carreiras profissionais;


Falta de significado na vida.


Infelizmente muitos de nós interpretamos estes sintomas como "acidentes", "falta de sorte" ou "incompetência". Ao nos colocarmos no papel de vítimas estamos apenas reforçando os padrões do medo. Estamos confirmando para nós mesmos e os outros que fomos incapazes de nos desvencilhar das amarras e condicionamentos do passado.



Para nos libertarmos das influências nocivas do passado e realizarmos nosso potencial é necessário que encaremos os medos, fracassos e desilusões do passado, reconhecendo que estas experiências, ao invés de serem ignoradas, negadas ou temidas, devem ser valorizadas, pois guardam em si os ensinamentos necessários para a nossa evolução.



Na medida em que reafirmamos a coragem e a determinação de nos despedir daquilo que nos limita, libertamos o potencial que necessitamos para perseguir os objetivos essenciais de nossa vida.



A auto-realização é um processo de assumir cada vez mais responsabilidade pelas nossas ações e decisões.



É não buscar culpados pelas nossas dificuldades.



É perceber os problemas como estímulo para respostas criativas.



É questionar crenças e valores e se libertar de padrões improdutivos.



É apoiar a evolução das pessoas e grupos com os quais nos relacionamos, ao invés de controlá-los.



É expandir nosso conceito de identidade para incluir tudo o que nos cerca - família, amigos, instituições e comunidade.



Durante esta jornada - do medo à confiança - nossa visão de mundo vai se expandindo gradativamente, como descrita abaixo:


1. O Mundo é um mistério sobre o qual eu não tenho controle - vemos o mundo como misterioso e ameaçador, do qual nos sentimos dependentes e impotentes. Palavras chave: paranóia, preconceito, guerra, inimigos, controle, autoritarismo, centralização, opressão, ameaça, egoísmo, escassez, solidão.



2. O Mundo é um problema com o qual eu tenho que lidar - vemos o mundo como um problema em relação ao qual utilizamos nossa razão (ciência) e vontade para sobreviver e evoluir. Palavras chave: ordem, disciplina, paciência, amizade, hierarquia, obediência, respeito, sucesso, competição, dever, eficiência, lealdade, responsabilidade.



3. O Mundo é um projeto no qual eu quero participar - vemos o mundo como um projeto no qual queremos participar, de forma independente ou mesmo interdependente. Palavras chave: autoridade, flexibilidade, integridade, auto -realização, vocação, conhecimento, iniciativa, empatia, generosidade, assertividade, relaxamento, esperança, confiança, ética, criatividade, discernimento, inovação, simplicidade, unidade.



4. O Mundo é um mistério que cuidamos numa escala global - vemos o mundo como um mistério que está além de nossa capacidade de compreensão, e que nos maravilha pela sua beleza e ordem intrínseca. Palavras chave: verdade, sabedoria, comunidade, interdependência, visão, sinergia, transcendência, harmonia, justiça, direitos humanos.



Aqueles que foram capazes de encarar seus medos e o desafio do autodesenvolvimento verificaram reflexos positivos em vários níveis de suas vidas, entre eles:


Físicos - maior capacidade para identificar e lidar com tensões e estresses acumulados; mais energia, bem estar e entusiasmo.



Emocionais - mais recursos para lidar com emoções negativas ou improdutivas, como depressão prolongada, medo de novos projetos, recusa a desapegar-se do passado, raiva de pessoas e acontecimentos antigos; maior capacidade de utilizar as emoções de forma benéfica e produtiva (inteligência emocional).



Profissionais - maior motivação, desempenho e flexibilidade às mudanças, sensação expandida de poder pessoal ("empowerment"); maior compromisso com as estratégias e a missão da empresa, maior sinergia para trabalhar em equipe.



Existenciais - maior conexão com a vida.



Roberto Ziemer é mestre em psicologia social pela PUC-SP e terapeuta formado pelo Grof Transpersonal Center. É palestrante e coordena grupos e seminários em transformação humana e organizacional, utilizando a metodologia dos sete estágios de consciência. É coordenador do Institute for Psychohistory no Brasil, e professor da "Associação Palas Athena" de São Paulo. É autor do livro Do Medo à Confiança: como realizar seu projeto de vida (Editora Gente), e Mitos Organizacionais: O Poder Invisível na Vida das Empresas (Editora Atlas).



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