sexta-feira, abril 02, 2010




Relato sobre a morte de Cristo



Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo.


Por treze anos vivi em companhia de cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo.


Posso portanto escrever sem presunção a respeito de uma morte como aquela.


Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra.


O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas.


E o faz com a precisão de um clínico.


O suar sangue, ou hematidrose, é um fenômeno raríssimo.


É produzido em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo.


O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus.


Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.


Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes.


Pilatos cede, e então ordena a flagelação de Jesus.


Os soldados despojam Jesus e o prendem pelo pulso a uma coluna do pátio.


A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos.


Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura.


Golpeiam com chibatadas a pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de sangue.


A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra.


A cada golpe Jesus reage em um sobressalto de dor.


As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas.


Se não estivesse preso no alto pelos pulsos, cairia em uma poça de sangue.


Depois o escárnio da coroação.


Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça.


Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).


Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, o entrega para ser crucificado.


Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da Cruz; pesa uns cinquenta quilos.


A estaca vertical já está plantada sobre o Calvário.


Jesus caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos.


Os soldados o puxam com as cordas.


O percurso é de cerca de 600 metros.


Jesus, fatigado, arrasta um pé após o outro, frequentemente cai sobre os joelhos.


E os ombros de Jesus estão cobertos de chagas.


Quando ele cai por terra, a viga escapa-lhe, escorrega, e esfola-lhe o dorso.


Sobre o Calvário tem início a crucificação.


Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz.


Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata.


Cada fio de tecido adere à carne viva: ao levarem a túnica, dilaceram-se as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas.


Os carrascos dão um puxão violento.


Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim.


O sangue começa a escorrer.


Jesus é deitado de costas, as suas chagas incrustam-se de pedregulhos.


Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz.


Os algozes tomam as medidas.


Com uma broca, é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos pregos.


Os carrascos pegam um prego (longo, pontudo e quadrado), apoiam-no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem sobre a madeira.


Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente.


O nervo mediano foi lesado.


Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante, agudíssima, que se difundiu pelos dedos, e espalhou-se pelos ombros, atingindo o cérebro.


A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida pela lesão dos grandes troncos nervosos provoca uma síncope e faz perder a consciência.


Em Jesus não.


O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha.


A cada solavanco, a cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes.


Um suplício que durará três horas.


O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-o primeiro sentado e depois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, o encostam na estaca vertical.


Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz sobre a estaca vertical.


Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira áspera.


As pontas cortantes da grande coroa de espinhos penetram o crânio.


A cabeça de Jesus inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na madeira.


Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor.


Pregam-lhe os pés.


Ao meio-dia Jesus tem sede.


Não bebeu desde a tarde anterior.


Seu corpo é uma máscara de sangue.


A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a pender.


A garganta, seca, queima-lhe, mas ele não pode engolir.


Tem sede.


Um soldado estende-lhe sobre a ponta de uma vara uma esponja embebida em bebida ácida, em uso entre os militares.


Tudo aquilo é uma tortura atroz.


Um estranho fenômeno se produz no corpo de Jesus.


Os músculos dos braços enrijecem-se em uma contração que vai se acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos curvam-se.


E como acontece a alguém ferido de tétano.


A isto que os médicos chamam tetania, quando os sintomas se generalizam: os músculos do abdômen enrijecem-se em ondas imóveis.


Em seguida, aqueles entre as costelas, os do pescoço, e os respiratórios.


A respiração se faz pouco a pouco mais curta.


O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair.


Jesus respira com o ápice dos pulmões.


Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco torna-se vermelho, depois transforma-se num violeta purpúreo e enfim em cianótico.


Jesus é envolvido pela asfixia.


Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se.


A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita.


Mas o que acontece?


Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto de apoio sobre o prego dos pés.


Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços.


Os músculos do tórax se distendem.


A respiração torna-se mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial.


Por que este esforço?


Porque Jesus quer falar: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.


Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça.


Foram transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá elevar-se tendo como apoio o prego dos pés.


Inimaginável!


Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao redor do seu corpo, mas ele não pode enxotá-las.


Pouco depois o céu escurece, o sol se esconde: de repente a temperatura diminui.


Logo serão três da tarde, depois de uma tortura que dura três horas.


Todas as suas dores, a sede, as cãibras, a asfixia, o latejar dos nervos medianos arrancam-lhe um lamento:


Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?


Jesus grita:


Tudo está consumado!


Em seguida num grande brado diz:


Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.


E morre.


Em meu lugar ... e no seu.


Relato das dores de Jesus feita por um grande estudioso francês, o médico Dr. Barbet : dando a possibilidade de compreender realmente as dores de Jesus durante a sua paixão.

AUTOR DESCONHECIDO