Devoção filial
Momento Espírita
Existem exemplos, ao longo da História, que falam do amor e da extrema dedicação filial.
Recordamo-nos de uma lenda romana dos tempos finais da República. Muitas foram as perseguições injustas a velhos servidores daquele regime. Afinal, o Império estava por surgir.
Os governantes de Roma chegaram a decretar que velhos servidores da República fossem banidos da cidade.
Entre esses, havia um velho doente. Ora, ele adoecera simplesmente servindo a Roma, que tanto amava.
Por isso mesmo decidiu, apesar da insistência do filho, que não sairia da cidade.
Velho estava, pensou. E doente. Se deveria aguardar a morte, por que fazê-lo distante das terras que tanto amava e que servira, com total dedicação? Preferiria morrer em sua própria cama.
Chegou finalmente a noite do último dia que lhe era permitido ficar. Se fosse apanhado dentro dos muros de Roma, após o prazo, seria morto.
O filho tornou a insistir para que o pai se salvasse.
Sei que você nem consegue andar, meu pai. Mas eu o carregarei. Deixe-me cuidar de você. Reunirei todas as minhas forças para levá-lo para fora da cidade.
Tanto insistiu que o pai acabou por ceder. O rapaz carregou a preciosa carga às costas e seguiu pelas ruas de Roma.
A multidão se apinhava para ver a incrível cena e, ante os esforços do filho, aplaudia, incentivando-o.
Os poderosos simplesmente olhavam. De certa forma, se comoveram e decidiram não interferir.
Aproximava-se a hora em que o velho seria morto se fosse encontrado dentro dos muros da cidade e era ainda grande a distância que separava os dois do portão.
As forças estavam quase no fim. O rapaz se curvava ante o peso do fardo. Mesmo assim avançava, devagar, lento. E a multidão aplaudia.
Conseguiu sair da cidade nos últimos instantes do prazo. Porém, o velho cônsul ainda não estava a salvo. Era preciso deixar as terras romanas.
Encobertos pelas sombras da noite, Appius carregou seu pai até a praia, onde embarcaram para outras terras, a salvo.
Para que nunca fosse esquecido esse gesto de amor filial, ele foi inscrito nos anais da quase extinta República romana.
* * *
O mandamento Honrai a vosso pai e a vossa mãe quer dizer muito mais do que respeitar os que deram a vida aos filhos.
Quer dizer também assisti-los na necessidade e lhes proporcionar repouso na velhice. Cercá-los de cuidados como eles fizeram com os pequenos, no período da infância.
Esse dever se estende naturalmente às pessoas que fazem as vezes de pai e de mãe, as quais tanto maior mérito têm, por abrigarem os filhos alheios em seu seio, alimentando-os com seu amor e carinho.
Os filhos devem aos pais não só o estritamente necessário, devem-lhes também os pequenos nadas supérfluos, os cuidados amáveis, os agradinhos que, ao final, não são mais do que apenas o retorno do que receberam em sua infância e juventude.
Este o verdadeiro sentido do mandamento do Decálogo.
Redação do Momento Espírita, com base no item 3 do cap. XIV do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb e na lenda romana Appius, recontada por H. Twitchell, de O livro das virtudes, v. II, de William J. Bennett, ed. Nova fronteira.
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