segunda-feira, novembro 15, 2010



Sobre o casamento


Momento Espírita



O escritor brasileiro Rubem Alves escreveu uma crônica muito inteligente, a respeito do tema casamento.


Eis suas palavras:


Depois de muito meditar sobre o assunto, concluí que os casamentos - relacionamentos - são de dois tipos: há os casamentos do tipo "tênis" e há os casamentos do tipo "frescobol".


Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos, e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e tem a chance de ter vida longa.


Explico-me:


Para começar, uma afirmação de Nietzsche com a qual concordo inteiramente.


Dizia ele:


"Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice"?


Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.


O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola.


Joga-se tênis para fazer o outro errar.


O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua "cortada", palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.


O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.


Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.


O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.


Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.


Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.


Aquí, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre.


O que errou pede desculpas, o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...


Em relacionamentos inspirados na ideia do "frescobol", o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.


Bola vai, bola vem - cresce o amor...


Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...


* * *


Pensemos nisso. Reflitamos sobre nosso comportamento nos relacionamentos que abraçamos.


Juntos, num mesmo jogo, numa mesma existência.


O bom jogador será sempre aquele que conhece o companheiro e que, acima de tudo, deseja vê-lo feliz.


Redação do Momento Espírita com trecho da crônica Tênis e frescobol, de Rubem Alves, retirada do site recantodasletras.uol.com.br.


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