É dando que se recebe
A visão filosófica de Francisco de Assis é profundamente
importante, permitindo-nos a compreensão maior do modo como ele viveu pelos
caminhos do mundo.
O missionário incomparável lançou mão de instrumentos de
vida muito especiais, como as coisas simples de seu tempo.
A percepção íntima de que, em última análise, ninguém é
possuidor de coisa alguma no mundo das formas físicas, levou-o a continuadas
renúncias e a uma viagem fundamental para dentro de si.
No íntimo de seu ser, encontrava a orientação segura de
Jesus a propor que procurasse conquistar a si mesmo, pois aí estaria a riqueza
verdadeira, a que não pode ser usurpada por nenhum gatuno, que nenhuma traça
pode corroer e que não é consumida pela oxidação.
Entendia isso e percebia como são fugazes os haveres materiais.
Como são perecíveis. Como são temporais. Tudo é extremamente vulnerável à ação
indomável do tempo.
O pobrezinho de Assis nos clareia os caminhos, mostrando que
devemos buscar sempre, em primeiro lugar, valores que pulsem no meio dessa
atemporalidade.
O que pertence à alma é aquilo que essa alma pode conduzir
consigo, onde quer que vá, onde quer que esteja.
Os únicos valores passíveis de impregnar a alma, tornando-se
sua parte constitutiva, como brilho, cor, realidade, decorrem da frequência
intensa, desenvolvida através do comportamento individual.
Na conclusão filosófica do jovem de Assis, é dando que se
recebe, não registramos nenhuma referência a qualquer coisa material, mas às
doações da alma.
É assim que, pelas leis da sintonia, da reciprocidade, ou de
causa e efeito, concluiu que o que parte de nós é, de fato, o que a nós
retorna.
A sementeira é sempre livre, mas a colheita é obrigatória.
Na figura apresentada por Jesus, o que se oferece ao solo, o
solo devolve, ampliado, renovado, sejam aromas de flores, sejam espinhos.
* * *
Semeemos simpatia, e a teremos de volta. Espalhemos farpas e
as veremos de retorno.
Distribuamos esperança e nos veremos esperançados. Semeemos
agonia, e poderemos contar com a ação do desespero, logo mais.
Ofertemos nosso tempo precioso para atender ao próximo, e
veremos que as preocupações do nosso próprio coração também estarão sendo
atendidas.
Doemos nosso sorriso ao mundo e o mundo, dentro de nós,
sorrirá satisfeito.
Perdoemos aquele familiar que falhou conosco mais uma vez, e
perceberemos que, quando nós errarmos, encontraremos mais facilmente o
autoperdão.
Semeemos a paz, o otimismo, em meio ao negativismo viciante
dos dias atuais, e colheremos tranquilidade em meio ao caos, silêncio em meio à
balbúrdia ensurdecedora.
É dando que se recebe. É dando-nos, doando-nos que
receberemos a recompensa da consciência pacificada, cumpridora de todos os
deveres para com Deus, o próximo e a nós mesmos.
Amemos e nos estaremos amando. Perdoemos e estaremos nos perdoando.
Doemos e já estaremos recebendo.
Experimentemos a doce exortação de Francisco de Assis e nos
sintamos em paz, desde agora.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.20 do livro A
carta magna da paz, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed.
Fráter. Disponível em www.momento.com.br.
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