Saberes diferentes
Narra-se que, num largo rio, de difícil travessia, havia um
barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para outro.
Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora.
Como quem gosta de falar muito e com ar altivo, o advogado
pergunta ao barqueiro:
Companheiro, você entende de leis?
Não. Responde o barqueiro.
E o advogado compadecido acrescenta:
É pena... Você perdeu metade de sua vida!
A professora, então, muito social, adentra na conversa:
Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?
Também não. Responde o remador.
Que pena! - condói-se a mestra. Você perdeu metade de sua
vida!
Nisso, uma onda muito forte vira o barco
O canoeiro, preocupado, pergunta:
Vocês dois sabem nadar?
Não! Responderam eles rapidamente, em conjunto.
Então é pena! - conclui o barqueiro - vocês perderam toda
sua vida!
* * *
O texto do educador Paulo Freire mostra, com bom humor e
profundidade, que não há saber maior ou saber menor, apenas saberes diferentes.
Todos somos importantes e sempre temos algo a contribuir
para com a sociedade.
Cada um com suas habilidades, na sua área de conhecimento
específico, fazemos parte de uma grande engrenagem, tanto na Terra, como no
Cosmos.
Para que essa engrenagem funcione bem, os dentes precisam
estar bem encaixados, uns oferecendo, outros recebendo e vice-versa.
Juntos formamos um organismo completo, onde as pequenas e
importantes peças, sempre solidárias entre si, complementam-se, preenchendo as
deficiências umas das outras.
A Lei maior do progresso dita que todos, um dia, saberemos
tudo sobre tudo. Porém, neste longo caminho a ser trilhado, vamos adquirindo
tais conhecimentos gradualmente.
A Sabedoria Divina, sempre fabulosa, faz com que tenhamos
uma interdependência entre nós, para que nos ajudemos mutuamente e não nos
isolemos.
Desta forma as sociedades precisam dos advogados, das
professoras, dos médicos. Mas também carecem dos barqueiros, dos garis, dos
músicos, etc.
É nisto que está a beleza da vida, das habilidades que se
complementam e se auxiliam para que todos possam não só viver, mas bem viver.
* * *
Nunca desmereça os serviços aparentemente simples e
maquinais.
Os trabalhos manuais enriquecem a alma, da mesma forma que
aqueles que exigem muitos conhecimentos.
Cada um deve servir com suas forças, com aquilo que tem de
melhor. Nossas diferenças nos enriquecem, nos fazem aprender uns com os outros
em toda ocasião.
Aproveitemos as oportunidades de aprender com o diferente,
construindo no íntimo as virtudes da humildade e do respeito.
Viva a diferença que pode conviver em harmonia!
Redação do Momento Espírita, com base no texto A canoa, de Paulo Freire.Disponível
em www.momento.com.br.
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