Eu achava que o choro era ruim
A experiência de uma mãe e seu bebê nos traz reflexões muito
profundas e importantes. Diz-nos ela:
É que eu achava que o choro era ruim. Eu achava que o choro
tinha que parar. E acho que é isso que aprendi: não precisa.
Existem, sim, motivos para o choro: desconforto de
temperatura, fome, fralda, refluxo, doença, sono. Mas existe o choro que não
cessa após checar tudo o que pode estar errado.
E esse choro, que pode durar horas até, esse choro não é
errado. E se hoje eu pudesse rever esses dias de maternagem, talvez me
preocupasse menos em silenciar o choro de minha filha e mais em acolher suas
lágrimas.
Talvez eu me focasse menos em ficar dizendo “shhhh”,
balançando Clarinha de um lado pro outro do quarto, tentando todas as táticas
possíveis, me sentindo incapaz de consolá-la, e decidisse aceitar o seu choro,
sua voz, como eu procuro aceitar a de qualquer amigo que me procura em prantos.
Entender que não se pode resolver a dor do outro, mas sempre
se pode acolhê-la.
Entender que o choro às vezes não é dor, mas adaptação a
esse mundo de sons, cheiros, luzes e pessoas, a que o bebê não está acostumado.
Entender que, quando não se fala, não se balbucia e não se
gesticula, só existe o choro como comunicação.
E quantas vezes as minhas tentativas de cessar o choro me
impediram a verdadeira conexão com a minha filha?
O quanto o simples ato de abraçá-la e permitir que ela
chorasse o que precisava, sabendo que eu estava ali com ela, presente,
integralmente presente, sem procurar distraí-la, teria sido tão ou mais
eficiente do que tentar táticas e truques para ela parar de chorar?
O quanto aquele choro não era um pedido por mais presença
com intenção e coração, uma necessidade de dar um basta nas incômodas visitas pós-parto,
um desejo de proximidade e o luto pela separação de não estar mais dentro de
mim, segura e protegida?
Choro é emoção. Não quero ensinar a ela que o choro é
errado. Que as emoções são erradas, que sentir é inadequado. O choro é normal.
* * *
Se percebermos bem, adquirimos este hábito de fazer tudo
para que o choro cesse o quanto antes. Tanto o nosso chorar como o de alguém
que nos é caro.
O choro é incômodo, é constrangedor, em nossa cultura, e ele
precisa ser represado com uma urgência e um desespero injustificáveis – se
pensarmos bem.
Não paramos para pensar que o choro tem seu momento. É algo
que precisa sair e precisa de tempo para isso.
Melhor para fora do que para dentro, disse alguém, um dia,
consolando uma pessoa que se desculpava por não ter conseguido segurar as
lágrimas.
Sim, nós pedimos desculpas por nos emocionarmos... Muito
estranho. Como se fosse sinal de fraqueza.
Chorar é bom. Chorar é importante. Chorar é terapêutico.
Aqueles que guardam anos e anos de lágrimas constroem doenças para si. É isso
mesmo: ficamos doentes porque represamos emoções.
E no que diz respeito à dor do outro, que muitas vezes não
conseguimos resolver, que às vezes teríamos vontade de tirar com as mãos se
pudéssemos – quando é de um filho, de um pai, de uma mãe – essas dores podemos
acolher. Podemos compartilhar lágrimas e dizer: Estou com você.
Acolher o choro de alguém sempre será gesto profundo de
amor.
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria de Gabriela Ruggiero Nor do site
www.vilamamifera.com/cafemae, de 20 de julho de 2014.Disponível em www.momento.com.br.
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