domingo, outubro 12, 2014

A Mulher Samaritana - Amílcar Del Chiaro Filho






A Mulher Samaritana

Amílcar Del Chiaro Filho


Este é um das mais lindas passagens do Evangelho, e é privativo de João, no capítulo 4: 4 a 30. 


Vamos aproveitar os esclarecimentos dados por Carlos Torres Pastorino, no livro - Sabedoria do Evangelho, porém, vamos abordar uma versão mais simbólica ou esotérica, fechada, mesmo reconhecendo que os elementos objetivos sejam importantes.


Para compreendermos essa passagem em profundidade, precisamos conhecer elementos históricos que deram nascimento a animosidade entre judeus e samaritanos.


Essa inimizade era tão forte, que eles não se falavam, sequer se cumprimentavam.


Não sabemos muito sobre as razões históricas, mas o que sabemos até agora é que, as 12 tribos que compunham a nação, se separaram devido a sucessão de Salomão.


Quando o Rei Salomão morreu, dois dos seus filhos pretendiam o trono.


Dez tribos apoiavam um deles, e duas o outro. 


Houve um "cisma" seguido de luta, e as dez tribos se afastaram e fundaram o Reino de Israel, ou a Samaria.


Herodes, o Grande, fez ali grandes construções e denominou-a Sebastes, (Cidade da Samaria).


Outros povos não judeus se agregaram à região, que pelo seu crescimento passou a ser um Reino separado da Judéia.


A rivalidade, que nasceu com a sucessão de Salomão, portanto, muito antiga, aumentou com o retorno do povo judeu e samaritano que ficaram alguns séculos escravizados na Babilônia. 


Quando Dario, o rei Persa derrotou a Babilônia, permitiu que os judeus retornassem ao seu país, um dos primeiros grupos a retornar, foi liderado pelo sacerdote Zorababel, e dele fazia parte judeus e samaritanos.


Em Jerusalém, encontraram o Templo de Salomão completamente destruído e iniciaram a sua reconstrução, porém, os companheiros de Zorababel não aceitaram a participação dos samaritanos na reconstrução. 


Mais tarde expulsaram Manassés, sacerdote samaritano de Jerusalém, e este liderou a construção de um Templo tão rico e tão belo quanto o de Jerusalém, embora menor, tendo um clero regular, no Monte Garizim, na Samaria. 


Deste modo, os samaritanos ficavam isentos de terem que ir a Jerusalém cumprir suas obrigações rituais.


O Templo do Monte Garizim foi destruído 129 anos a.C. - numa das batalhas, pelo rei dos judeus, João Hircano. 


Entretanto os samaritanos continuaram cumprindo os seus rituais nas ruínas do Templo.


Jesus estava na Judéia (que significa louvor a Deus) e resolveu voltar para a Galiléia (jardim ou horto fechado). 


Não era a primeira vez que ele fazia isto, mas, desta vez tomou um caminho diferente, caminho que passava por terras samaritanas. 


Os discípulos não sabiam porquê, mas não ousavam perguntar.


A verdade é que Jesus tinha um encontro marcado no espaço e no tempo, com uma mulher. 


Ela não sabia, mas ele sim. 


Cerca de meio dia, região muito quente, a pequena comitiva pára junto ao Poço de Jacó, e Jesus envia os discípulos à cidade próxima para comprar provisões. 


Senta-se à sombra e espera.


A mulher não sabia, contudo, era alguém pronta a receber a iniciação superior (quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece). 


A mulher samaritana (alma vigilante) descia diariamente ao poço do coração, porque sabia intuitivamente, que um dia o Mestre dos mestres, apareceria. 


Naquele momento toma a sua "bilha" de barro", a corda, e encaminha-se para o poço, o único existente numa área de vários quilômetros. 


Ali chegando amarra a comprida corda (39 metros) no cântaro e desce-o, olhando aquele moço judeu com o canto do olho. 


Quando ela já estava puxando a vasilha cheia para a borda, ouviu:


- Mulher, dá-me de beber! - disse Jesus incisivo.


- Como sendo tu judeu, pede água a mim, que sou mulher samaritana?


- Se soubera o Dom de Deus e quem é aquele que te diz, "dá-me de beber", tu lhe terias pedido e ele te daria a água viva.


- Senhor, não tens com que a tirar e o poço é fundo, donde, pois, tens essa água viva? 


És tu, por ventura, maior que o nosso Pai Jacó, que nos deu este poço, do qual bebeu ele e os seus filhos e seu gado?


- Todo que bebe desta água, tornará a ter sede, mas quem beber da água que eu lhe der, se tornará nele uma fonte de água para a vida imanente.


O diálogo prosseguiu entre Jesus e a espantada mulher, que pediu da água para não mais ter que retirá-la do poço(lei do menor esforço). 


Esta é a posição da maioria das pessoas que procuram nas religiões meios de melhorar de vida, de curar doenças e de não sofrer. 


Mesmo no movimento espírita, um grande número de pessoas vão ao centro para curar doenças, afastar obsessores, conseguir emprego, ser feliz. 


A maioria não sabe, ou finge não saber, que a felicidade é construção íntima e não pode ser adquirida exteriormente.


Jesus usou o simbolismo da água porque ali era uma região árida. 


Quem beber da água do conhecimento nunca mais terá sede e será uma fonte de ensinamentos e consolações para quem precisar. 


É a água transformada em vinho, que sacia a sede e embriaga de conhecimento e felicidade.


Jesus mandou que ela fosse chamar o seu marido e ela disse que não tinha marido. 


O moço Galileu respondeu que cinco maridos ela teve e que o homem com que, ela vivia não era seu marido. 


A mulher ficou pasmada e disse que ele era profeta (médium). 


As pessoas precisam sempre de coisas inusitadas para acreditar.


Os cinco maridos, e o homem com quem ela vivia, sem ser seu marido, não tem o significado de esposos ou amantes, mas sim, cinco grandes religiões da humanidade, que ela desposara em suas diversas reencarnações, e com nenhum deles aconteceu o verdadeiro esponsalício, isto é, as Bodas do espírito imortal com a verdade superior e eterna. 


Nem mesmo a situação que ela vivia naquele momento, o judaísmo, na condição ou ótica samaritana.


A. N. Wilson narra no seu livro Jesus - Uma Biografia - que no ano 605 antes da Era Cristã, cinco tribos da Babilônia se estabeleceram em Samaria, trazendo consigo seus deuses tribais. 


Tais indivíduos, com o passar do tempo, embora não abandonando inteiramente os próprios deuses babilônicos, passaram a adorar, também, Jeová. 


Devemos considerar a mulher samaritana como um símbolo de Samaria, os cinco inúteis maridos como os cinco deuses trazidos da Babilônia por seus ancestrais, sendo o verdadeiro marido da sua alma o homem ao seu lado, que lhe oferece a água da vida eterna?


Na verdade as religiões não podem salvar ninguém. 


Foi por esse motivo que Jesus afirmou que Deus procura aqueles que o amam em verdadeiro espírito, sem interferência da matéria, da emoção ou da sensibilidade. É a conquista da consciência cósmica.


O restante da passagem não desperta em mim o mesmo interesse, a não ser quando Jesus diz aos seus discípulos que eles colhem o que outros plantaram, porque a semeadura da verdade já vinha sendo feita há milênios, pelos grandes missionários que encarnaram na Terra, como, Rama, Crisna, Hermes Trimegisto, Abraão, Moisés, Buda, Sócrates, Platão, Pitágoras e tantos e tantos outros.


Examinemos, na visão de Pastorino, alguns pontos importantes: 


A mulher samaritana descia diariamente ao poço do coração e ali encontrou o seu Cristo interior. 


Confabulou com ele e descobriu que Deus deve ser adorado em verdadeiro espírito, e não em templos de pedra, mesmo que ajaezado de ouro. 


Não existe santuário mais próprio que o coração do homem para adorar a Deus.


Cairbar Schutel, no livro, Parábolas e Ensinos de Jesus - destaca as palavras de Jesus: 


o "dom" de Deus, é mais do que judeu, é mais que samaritano, é a luz que nos guia para a verdade. 


Que essa luz não é privilégio de castas, de seitas, de famílias. 


Jesus, sendo judeu de nascimento e afirmando que não era verdadeira a adoração no Templo de Jerusalém, assim como não era o Monte Garizim


Vale registrar que Carlos Torres Pastorino, baseado, não sabemos em que, afirma que João Evangelista era a reencarnação de Samuel, e a mulher samaritana, 15 séculos depois, reencarnou como Teresa D’ávila, a única mulher que recebeu o título de Doutora da Igreja.



Fonte:

ESPÍRITO.ORG.BR. Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/cursos/amilcar/cap07.html. Acesso: 12 OUT 2014.





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