Filhos
Emmanuel
Nasce a criança, trazendo consigo o patrimônio moral que lhe
marca a individualidade antes do renascimento no plano físico;no
entanto, receberá os reflexos dos pais e dos mestres que lhe imprimirão à nova
chapa cerebral as imagens que, em muitas ocasiões, lhe influenciarão a
existência inteira.
Indiscutivelmente, a instrução espera-lhe o espírito em nova
fase, enriquecendo-lhe o caminho nesse ou naquele mister; contudo,
importa reconhecer que a palavra escrita, em confronto com a palavra
falada ou com o exemplo direto, revela poderes de repercussão menos vivos,
mormente quando torturada entre os preconceitos da forma gramatical.
E que a voz e a ação prática jazem impregnadas do magnetismo
indutivo que se desprende da reflexão imediata, operando
significativas transformações para o bem ou para o mal, segundo a natureza que lhes
personaliza as manifestações.
As crianças confiadas na Terra ao nosso zelo são portadoras
de aparelhagem neurocerebral completamente nova em sua
estrutura orgânica, à feição de câmara fotográfica devidamente habilitada a
recolher impressões.
A objetiva, que na máquina dessa espécie é constituída por um
sistema de lentes apropriadas, capazes de colher imagens corretas sobre
recursos sensíveis, é representada na mente infantil por um espelho renovado em
que se conjugam visão e observação, atenção e meditação por lentes da alma,
absorvendo os reflexos das mentes que a rodeiam e fixando-os em si
própria, como elementos básicos de Conduta.
Os pequeninos acham-se, deste modo, à mercê dos moldes
espirituais dos que lhes tecem o berço ou que lhes asseguram a escola, assim
como a argila frágil e viva ante as idéias do oleiro.
Não podemos, pois, esquecer na Terra que nossos filhos,
embora carreando consigo a sedimentação das experiências passadas,
em estágios anteriores na gleba fisiológica, são companheiros que nos
retomam transitoriamente ao convívio, quase sempre para se reajustarem conosco, aos impositivos da Lei Divina, necessitados quanto nós mesmos,
de provas e ensinamentos, no que tange ao trabalho da regeneração
desejada.
Excetuados aqueles que transcendem aos nossos marcos
evolutivos, à face da missão particular de que se investem na renovação do
ambiente comum, todos eles nos sofrem os reflexos, assimilando
impressões entranhadamente perduráveis que, às vezes, lhes acompanham os passos desde a meninice até a morte do corpo denso.
Tratá-los à conta de enfeites do coração será induzi-los a
funestos enganos, porquanto, em se tornando ineficientes para a luta
redentora, quando se lhes desenvolve o veículo orgânico facilmente se ajustam
ao reflexo dominante das inteligências aclimatadas na sombra ou na
rebeldia, gravitando para a influência do pretérito que mais deveríamos evitar e
temer.
É assim que toda criança, entregue à nossa guarda, é um vaso
vivo a arrecadar-nos as imagens da experiência diária,
competindo-nos, pois, o dever de traçar-lhe noções de justiça e trabalho, fraternidade e
ordem, habituando-a, desde cedo, à disciplina e ao exercício do bem, com a força
de nossas demonstrações, sem, contudo, furtar-lhe o clima de otimismo
e esperança.
Acolhendo-a, com amor, cabe-nos recordar que o coração da
infância é urna preciosa a incorporar-nos os reflexos, troféu que nos retratará
no grande futuro,no qual passaremos todos igualmente a viver, na função de
herdeiros das
nossas próprias obras.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Emmanuel. Pensamento
e Vida, cap.13, p.23-24.
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