Presunção e grandeza real
Eros
Sobre verdejante relva uma violeta colorida exalava perfume.
Um animal invejoso, então, ameaçou-a:
- Esmago-te e se acaba a tua beleza.
Respondeu-lhe a flor:
- Se o fazes, abençoo-te com o meu perfume e viverei
impregnada em ti.
Desgostoso com o brilho do pirilampo, coaxou o sapo
repelente:
- Cubro-te de baba peçonhenta e apago tua luz.
O inseto pequenino sorriu e contestou:
- Sacudindo tua peçonha de sobre mim, prosseguirei
brilhando.
A flauta, recostada num estojo de veludo, zombou de ágil
rouxinol numa gaiola de frágeis talas de palmeira:
- Sou maior do que tu e mais nobre.
Toda feita de prata,
passeio por mãos perfumadas e recebo os beijos do artista que me sopra.
E tu?
A avezita feliz, surpreendida com o motejo, redarguiu:
- De minha parte, não tenho inveja de ti.
É certo que és
bela e forte, enquanto sou pequeno e frágil.
Apesar disso, consigo algo que
jamais lograrás: sem que ninguém me sopre, eu canto.
E passando à ação, pôs-se a trinar, embevecido.
A vela tremeluzente, espalhando fraca luminosidade, gabou-se
de haver vencido a sombra.
A estrela de primeira grandeza, fulgurante no Infinito,
todavia não comentou nada.
A lagarta rastejante reclamava por viver naquela situação
lastimável.
A vida escutou-a e deixou-a dormir.
Quando despertou, flutuava no ar como leve e feliz
borboleta.
O regato risonho acusou a vegetação da margem porque esta
lhe roubava o líquido precioso.
Arrancada, impunemente, por mãos irresponsáveis, dela o
córrego sorriu, vitorioso.
Sem a defesa natural, que a sombra lhe propiciava, a
ardência do Sol, por sua vez, absorveu a água, e o regato desapareceu.
O pavio, na lamparina, petulante, disse ao azeite em que
mergulhava:
- Como te desprezo, pegajoso e desagradável, que és.
O combustível calou e prosseguiu, humilde, permitindo-lhe
arder e iluminar, pois que tal, era o seu mister.
A soberba fenece, após o brilho ilusório, enquanto a
humildade permanece e felicita.
Seja você aquele cuja importância ninguém nota, mas, quando
se encontra ausente, nada funciona.
Cumpra, assim, com o seu dever, e não se preocupe com a
presunção ou a fatuidade dos que estão enganados em si mesmos.
Você é vida!
Aja com inteireza e nunca passará.
FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Eros. Do livro Em
algum lugar do futuro, 2.ed, 1987, p. 10.
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