domingo, novembro 29, 2015

Presunção e grandeza real - Eros





Presunção e grandeza real

Eros



Sobre verdejante relva uma violeta colorida exalava perfume.


Um animal invejoso, então, ameaçou-a:


- Esmago-te e se acaba a tua beleza.


Respondeu-lhe a flor:


- Se o fazes, abençoo-te com o meu perfume e viverei impregnada em ti.


Desgostoso com o brilho do pirilampo, coaxou o sapo repelente:


- Cubro-te de baba peçonhenta e apago tua luz.


O inseto pequenino sorriu e contestou:


- Sacudindo tua peçonha de sobre mim, prosseguirei brilhando.


A flauta, recostada num estojo de veludo, zombou de ágil rouxinol numa gaiola de frágeis talas de palmeira:


- Sou maior do que tu e mais nobre. 


Toda feita de prata, passeio por mãos perfumadas e recebo os beijos do artista que me sopra. 


E tu?


A avezita feliz, surpreendida com o motejo, redarguiu:


- De minha parte, não tenho inveja de ti. 


É certo que és bela e forte, enquanto sou pequeno e frágil. 


Apesar disso, consigo algo que jamais lograrás: sem que ninguém me sopre, eu canto.


E passando à ação, pôs-se a trinar, embevecido.


A vela tremeluzente, espalhando fraca luminosidade, gabou-se de haver vencido a sombra.


A estrela de primeira grandeza, fulgurante no Infinito, todavia não comentou nada.


A lagarta rastejante reclamava por viver naquela situação lastimável.


A vida escutou-a e deixou-a dormir.


Quando despertou, flutuava no ar como leve e feliz borboleta.



O regato risonho acusou a vegetação da margem porque esta lhe roubava o líquido precioso.


Arrancada, impunemente, por mãos irresponsáveis, dela o córrego sorriu, vitorioso.


Sem a defesa natural, que a sombra lhe propiciava, a ardência do Sol, por sua vez, absorveu a água, e o regato desapareceu.


O pavio, na lamparina, petulante, disse ao azeite em que mergulhava:


- Como te desprezo, pegajoso e desagradável, que és.


O combustível calou e prosseguiu, humilde, permitindo-lhe arder e iluminar, pois que tal, era o seu mister.


A soberba fenece, após o brilho ilusório, enquanto a humildade permanece e felicita.


Seja você aquele cuja importância ninguém nota, mas, quando se encontra ausente, nada funciona.


Cumpra, assim, com o seu dever, e não se preocupe com a presunção ou a fatuidade dos que estão enganados em si mesmos.


Você é vida! 


Aja com inteireza e nunca passará.




FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Eros. Do livro Em algum lugar do futuro, 2.ed, 1987, p. 10.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

“Deixe aqui um comentário”