As Quatro Bolas
Um homem chamado Ganesha tinha
quatro filhos.
Quando os filhos estavam em plena
adolescência, o pai começou a inquietar-se.
Notou que cada um deles tinha um
temperamento e que eram muito diferentes entre si.
O mais velho era calado e
apático, sem ânimo para trabalhar, sempre tímido.
O segundo era cheio de manias,
teimoso e nunca dava atenção aos conselhos e advertências paternas.
O terceiro, inteligente, hábil e
criativo, esforçava-se para prosperar na vida.
O quarto revelava-se arrebatado,
violento, impulsivo e desonesto.
Impressionado com aquela
inexplicável diversidade de gênios, Ganesha foi procurar um sábio, um eremita
de incontáveis virtudes, e consultou-o:
Tenho quatro filhos, que foram
educados por mim da mesma forma, com exemplos idênticos e orientados por iguais
ensinamentos.
E agora que estão crescidos, o
que vejo?
Cada um deles tem um caráter, um
gênio.
Como se explica isso, essa
diferença entre criaturas que beberam a mesma água, comeram o mesmo arroz,
viveram sob o mesmo teto e ouviram as mesmas preces e conselhos?
O sábio levou Ganesha a uma sala
ampla, onde havia apenas uma mesa quadrada de ferro e sobre ela estavam
colocadas quatro bolas escuras.
Está vendo estas bolas, meu
amigo? São rigorosamente iguais na forma, no tamanho, na densidade e na cor,
certo?
Sim, poderia jurar que as quatro
bolas são iguais.- Respondeu Ganesha.
Pois, bem, as aparências enganam,
disse o sábio.
Atire uma a uma, com a mesma
força, com o mesmo impulso, de encontro àquela parede.
Ganesha obedeceu, atirando a
primeira bola, a qual, com o choque, achatou-se e caiu disforme.
Tomou, a seguir, a segunda bola e
arremessou-a à parede, exatamente como fizera com a primeira.
Ao chocar-se com a parede, ficou
pregada no lugar em que havia batido e dali não se desprendeu.
A terceira, ao ser lançada como
as anteriores, bateu na parede e saltou de novo, perfeita, como se fosse movida
por estranha mola segura e firme.
A quarta e última bola, arrojada
à parede, deu um estalido forte e fragmentou-se em vários pedaços, que saltaram
para todos os lados, ameaçadoramente.
Estas quatro bolas – disse o
sábio – são como os filhos de um mesmo pai.
Parecem iguais, mas cada qual tem
um caráter, um feitio.
A primeira bola, que bateu na
parede e caiu como um molambo, é o filho inútil, moleirão.
O filho teimoso, obstinado, está
representado pela segunda bola, que permanece agarrada à parede.
A terceira bola é o filho
prestativo e bom que salta radiante para voltar às mãos do pai e servir de
novo.
A última bola é a imagem do filho
desmancha-prazeres, violento e impulsivo.
* * *
Cada ser carrega dentro de si uma
bagagem diversa daqueles que o cercam.
Por isso, filhos de um mesmo pai,
criados da mesma forma e a quem foram oferecidas as mesmas oportunidades,
apresentam-se tão diferentes.
São Espíritos com histórias,
conquistas e dores diversas.
Compete àqueles que têm a função
de educar ou orientar crianças ou jovens, atentar para essa inegável realidade.
E tirar proveito desse fato que
pode servir de recurso de crescimento e progresso para todos aqueles que se
encontram agora reunidos, por justas razões, não ignoradas pela Providência
Divina.
Redação do Momento Espírita, com
base em conto, do livro Contos e lendas orientais, de Malba Tahan, ed. Nova Fronteira.Disponível em
www.momento.com.br
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