CAPÍTULO II
Bruce H. Lipton
É o Ambiente, Sua Besta
Jamais me esquecerei de
algo que vim a saber em 1967, quando aprendi a clonar células-tronco na faculdade.
Levei décadas para
perceber quanto aquela informação tão simples poderia me ajudar em minha
carreira e em minha vida pessoal.
O grande cientista Irv
Konigsberg, meu professor e mentor, foi um dos primeiros biólogos celulares a
dominar a arte da clonagem de células-tronco.
Ele nos explicou que
quando há algo de errado com as células que estudamos devemos analisar primeiro
o ambiente em que elas se encontram e não apenas as células para descobrir a
causa do problema.
Claro, meu professor não
era tão rude quanto James Carville, responsável pela campanha de Bill Clinton
na época, e que elegeu a frase "é a economia, sua besta" como mantra
da campanha para a eleição de 1992.
Mas os biólogos celulares
bem que poderiam ter colocado placas com o aviso "é o ambiente, sua
besta" na parede de seus laboratórios de estudo, exatamente como fizeram
os partidários de Clinton.
Na época não percebi, mas
com o tempo comecei a ver que se trata de uma questão-chave para compreendermos
a essência da vida.
Sempre me lembrava do
conselho de Irv.
Toda vez que estabelecia
um ambiente saudável para a cultura de células elas se tornavam mais
resistentes.
Mas se algo no ambiente
não era favorável, elas logo se enfraqueciam.
Bastava fazer alguns
ajustes para tornar o ambiente mais propício e elas voltavam a se revitalizar.
A maioria dos biólogos,
porém, não sabia desse detalhe sobre técnicas de cultura de células e passaram
a dar ainda menos importância ao fato após a revelação de Watson e Crick sobre
o código genético do DNA.
Até mesmo Charles Darwin
admitiu, no final de sua vida, que sua teoria evolucionista havia subestimado o
papel do meio ambiente.
Em uma carta que escreveu
para Moritz Wagner em 1876, ele declara (DARWIN, 1.888):
"Em minha opinião, o
maior erro que cometi foi não dar a devida atenção à ação do ambiente sobre os
seres, como no caso dos alimentos, clima etc. independentemente do fator
seleção natural...
Quando
escrevi “A origem das espécies”, e mesmo nos anos seguintes, jamais percebi as
evidências da ação direta do meio ambiente; hoje elas são muito claras para
mim".
Mas os cientistas que
seguem a teoria de Darwin continuam a cometer o mesmo erro.
Na verdade, o problema
dessa indiferença dos cientistas em relação ao ambiente é a ênfase exagerada da
"natureza" sob o aspecto do determinismo genético, ou seja, a crença
de que os genes "controlam" a biologia.
Isso custou ao governo
centenas de dólares em pesquisas, como mostrarei mais adiante, porém o mais
importante é que essa teoria mudou nossa maneira de pensar sobre a vida.
Se alguém acredita que os
genes controlam sua vida e que são programados desde o momento da concepção,
tem uma boa desculpa para se considerar uma vítima da hereditariedade.
"Não
tenho culpa de ter maus hábitos.
Não
posso mudar minha tendência de deixar tudo para a última hora... São minhas
características genéticas!"
Desde que se iniciou a era
da genética, temos sido levados a crer que não há como lutar contra aquilo que
fomos programados para ser.
O mundo está cheio de
pessoas com medo de que seus genes possam se voltar contra elas.
Imagine o número de
indivíduos que se consideram verdadeiras bombas-relógio, com medo de que o
câncer se desenvolva em seu organismo a qualquer momento só porque isso
aconteceu com seus pais, irmãos ou tios.
Outros atribuem sua falta
de saúde não apenas a uma combinação de fatores mentais, físicos, emocionais e
espirituais, mas também a falhas no mecanismo bioquímico de seu organismo.
Seus filhos não se comportam
bem?
A primeira reação dos
médicos é corrigir seu "desequilíbrio químico" por meio de
medicamentos em vez de tentar descobrir o que há de errado com seu corpo, mente
ou espírito.
Claro, algumas doenças
como coreia de Huntington, talassemia e fibrose cística são de origem genética.
Mas distúrbios desse tipo
afetam menos de dois por cento da população.
A maioria das pessoas vem
a este mundo com uma carga genética capaz de lhes proporcionar uma vida muito
feliz e saudável.
Doenças que ainda não tem
cura como a diabetes, problemas cardíacos e o câncer podem destruir a vida de
muitos, mas não são resultado de um único gene e sim de complexas interações
entre genes múltiplos e fatores ambientais.
O que pensar então das
manchetes sensacionalistas anunciando a descoberta de um gene para cada doença,
de depressão a esquizofrenia?
Mas leia esses artigos com
calma e você vai descobrir outra verdade por trás deles.
Os cientistas associaram
diversos genes a diferentes doenças e características, mas ainda não chegaram à
conclusão de que um simples gene possa ser a fonte delas.
A confusão ocorre porque a
mídia deturpa o sentido de dois termos muito importantes: correlação e causa.
Uma coisa é dizer que um
fator está relacionado a uma doença, outra é dizer que ele é a causa dela, pois
isso envolve uma ação direta.
Se eu lhe mostrar um molho
de chaves e disser que uma delas "controla" meu carro, você vai achar
que faz todo sentido, pois sabe que é necessário usar uma chave para dar
partida em um automóvel.
Mas será que a chave
realmente "controla" o carro?
Se fosse assim, não se
poderia deixar a chave no carro porque ela iria querer passear sozinha com ele
quando você não estivesse por perto.
A chave está
"relacionada" ao controle do carro; a pessoa que a tem nas mãos tem
controle sobre ele.
Da mesma maneira,
determinados genes estão relacionados ao comportamento de um organismo e às
suas características.
No entanto, permanecem em
estado passivo a menos que uma força externa aja sobre eles.
Mas que força é
essa que pode ativar os genes?
Uma resposta muito interessante
para essa questão foi publicada em um ensaio de 1990 intitulado
"As metáforas, o
papel dos genes e o desenvolvimento", de H. F. Nijhout (NIJHOUT, 1990).
O autor apresenta
evidências de que os genes que controlam a biologia se repetem com tanta
frequência e por períodos tão longos de tempo que os cientistas se esqueceram
de que se trata apenas de uma hipótese, não de verdade comprovada.
Na verdade, a ideia de que
os genes controlam a biologia é apenas uma suposição jamais comprovada e até
questionada pelas descobertas científicas mais recentes.
Nijhout afirma que o
controle genético se tornou uma metáfora em nossa sociedade.
Queremos acreditar que os
engenheiros geneticistas são os novos mágicos da medicina e que vão curar as
doenças com a mesma maestria de gênios como Einstein ou Mozart.
Mas metáforas não combinam
com verdades científicas.
Nijhout apresenta a verdade:
"Quando determinada
característica de um gene se faz necessária, o ambiente gera um sinal que o
ativa.
O gene não se manifesta
por si só".
Ou seja, quando se trata
de controle genético o que fala mais alto "é o ambiente, sua besta".
*
Proteína: o Material da Vida
É fácil entender como o
controle genético se tornou uma metáfora, pois os cientistas se adaptaram
rapidamente aos conceitos a respeito do mecanismo do DNA.
Especialistas em química
orgânica descobriram que as células são feitas de quatro tipos de moléculas
grandes: polissacarídeos (açúcares complexos), lipídeos (gorduras), ácidos
nucléicos (DNA/RNA) e proteínas.
Embora a célula precise
das quatro, o componente mais importante para a vida dos organismos é a
proteína.
A estrutura de nossas
células é composta, em grande parte, de blocos de proteína.
Observando os trilhões de
células que compõem o nosso corpo, poderíamos dizer que são pequenas máquinas
de proteína, embora já se saiba que são muito mais que meras máquinas!
Parece algo simples, mas
não é.
Para se ter uma ideia, são
necessários mais de 100 mil tipos diferentes de proteínas para compor nosso
corpo.
Vejamos como elas são
organizadas.
Cada proteína é uma cadeia
ou "cordão" linear de moléculas de aminoácidos parecida com aqueles
colares de contas plásticas coloridas de brinquedo de que as meninas gostam.
Veja a ilustração
seguinte.
Cada cadeia representa uma
das 23 moléculas de aminoácidos utilizadas pelas células.
Embora a analogia do colar
de contas seja interessante para elucidar o conceito, nem todos os aminoácidos
tem formato tão perfeito.
Para se aproximar do
formato real, tente imaginar um colar que saiu da fábrica um pouco deformado.
Fonte: LIPTON, Bruce H. A biologia da crença .São
Paulo: Butterfly, 2007,p.32.
Para ter uma ideia ainda
melhor de como são os aminoácidos que formam a "espinha dorsal"das
proteínas das células, imagine um colar mais maleável que o de bolinhas de
plástico, mas que pode se romper se for esticado ou dobrado com muita
intensidade.
A estrutura e o comportamento
dessa coluna vertebral também podem ser comparados aos de uma cobra, com
pequenos ossos interligados chamados vértebras, que lhe permitem se mover e
ficar nas posições mais variadas ou mesmo se enrodilhar.
As juntas flexíveis
(ligações peptídicas) entre os
aminoácidos dessa coluna de proteínas permitem que cada uma delas adote um
formato diferente.
Com a rotação e flexão de
suas "vértebras" de aminoácidos, as moléculas de proteína parecem
nanocobras, capazes de se contorcer e esticar.
Há dois fatores básicos
que determinam o contorno da espinha dorsal de uma proteína, e por conseguinte
sua forma: um é o padrão físico definido pela sequência de aminoácidos de
formatos diferentes que formam o colar.
O segundo é a interação de
carga eletromagnética entre os aminoácidos da cadeia.
A maioria deles tem carga
positiva ou negativa, o que os transforma em uma espécie de ímã: carga
semelhante faz as moléculas se repelirem e carga oposta faz com que se atraiam.
Como mostra a figura
acima, a espinha dorsal flexível de proteínas encontra a posição ideal quando suas
juntas de aminoácidos giram e se adaptam para equilibrar a força gerada pelas
cargas positiva e negativa.
Fonte:
LIPTON, Bruce H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007,p.32.
Diferente dos colares de
contas plásticas uniformes, cada um dos 20 aminoácidos que formam a espinha
dorsal da proteína tem um formato diferente.
Para facilitar, veja na
figura a diferença entre o formato das contas ou bolinhas de plástico e dos
canos de PVC.
As espinhas dorsais de
algumas moléculas de proteína são tão longas que requerem ajuda de
"assistentes", chamadas proteínas acompanhantes, para serem dobradas.
Proteínas em posição
incorreta não funcionam direito, exatamente como a coluna vertebral humana.
Essas proteínas anormais
são marcadas pela célula para serem destruídas.
A cadeia é então
desmontada e seus aminoácidos reciclados na síntese de novas proteínas.
Fonte:
LIPTON, Bruce H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007,p.33.
As espinhas dorsais AeB
tem exatamente a mesma sequência de aminoácidos (junções de PVC), mas estão em
posições (conformações) totalmente diferentes.
As variações no formato da
coluna são resultado dos diferentes movimentos de rotação nas junções entre os
encaixes.
Assim como as junções de
PVC, os elos (ligações peptídicas) dos aminoácidos giram, permitindo que a
espinha dorsal se contorça como a de uma cobra.
A maioria deles pode
adotar as formas mais diversas, porém tem preferência por duas ou três
configurações específicas.
Qual das duas então (A ou
B) você imagina que essa hipotética proteína irá preferir?
A resposta tem a ver com o
fato de que os elos dos aminoácidos das pontas têm carga negativa.
Como cargas semelhantes se
repelem, quanto mais distantes estiverem uma da outra mais estável será a
configuração.
Portanto, a configuração A
seria a mais provável porque suas extremidades ficam mais distantes uma da
outra do que as da configuração B.
*
Como as Proteínas Criam a
Vida
O que distingue os
organismos vivos dos outros é a capacidade de se moverem, ou seja, o fato de
serem entidades animadas.
A energia que permite seus
movimentos é responsável por todo o “trabalho" que caracteriza a vida dos
organismos, como a respiração, a digestão e a contração muscular.
Para entendermos melhor a
natureza da vida, precisamos compreender um pouco sobre o funcionamento das
"máquinas" de proteína.
O formato final ou
conformação (termo técnico utilizado pelos biólogos) de uma molécula de
proteína é o resultado do estado de equilíbrio entre suas cargas
eletromagnéticas.
Mas se as cargas positiva
e negativa das proteínas são alteradas, sua espinha dorsal muda drasticamente
de posição para ajustá-las à nova distribuição de energia.
A distribuição dessa carga
eletromagnética pode ser seletivamente alterada por diversos processos: ligação
com outras moléculas ou grupos químicos como os hormônios, remoção enzimática
ou adição de íons carregados ou mesmo a interferência de campos
eletromagnéticos como aqueles emitidos por telefones celulares (TSONG, 1989).
As proteínas de formato
adaptável exemplificam uma ação de engenharia ainda mais impressionante, pois
seu formato tridimensional também lhes permite estabelecer ligação com outras
proteínas.
Quando uma delas encontra
outra molécula que a complementa em termos físicos e energéticos, as duas se
conectam, exatamente da mesma maneira que os produtos de fabricação humana,
como o mecanismo de uma batedeira ou de um relógio analógico, por exemplo.
Fonte:
LIPTON, Bruce H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007,p. 34.
A figura A mostra a
disposição preferida de nossa hipotética espinha dorsal de proteína.
As forças entre os dois terminais
de aminoácidos (arcos) negativamente carregados se repelem e fazem com que a
estrutura se estenda, deixando-os o mais longe possível um do outro. A Figura B
mostra mais de perto a estrutura de uma extremidade do aminoácido.
Um sinal, que neste caso é
uma molécula com uma carga elétrica altamente positiva (esfera branca), faz com
que ela seja atraída e estabeleça uma ligação com a extremidade negativa do
aminoácido da proteína.
Neste caso, a carga do
sinal é mais positiva e mais forte que a carga negativa do aminoácido.
Quando o sinal se ajusta à
proteína, passa a haver um excesso de carga positiva nessa extremidade da
espinha dorsal.
E como cargas positiva e
negativa se atraem, os aminoácidos da espinha dorsal giram e adaptam seu
formato para que as pontas positiva e negativa da estrutura se aproximem.
Fonte:
LIPTON, Bruce H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007, p. 34.
A Figura C mostra a
proteína mudando da configuração A para a configuração B.
Essa adaptação gera um movimento,
que por sua vez gera uma função ou atividade como digestão, respiração ou
contração muscular.
Quando o sinal se interrompe,
a proteína retorna à posição reta, de sua preferência.
E assim que as proteínas, estimuladas
por sinais, geram os movimentos da vida.
Veja as duas ilustrações
seguintes.
A primeira mostra cinco
proteínas de formato único, um exemplo clássico das "engrenagens"
presentes nas células.
Essas engrenagens possuem
extremidades tridimensionais mais macias que aquelas fabricadas por mãos
humanas, mas que se encaixam e mantêm de maneira firme e segura a ligação com
outras proteínas complementares.
Fonte:
LIPTON, Bruce H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007,p.35.
Um jardim zoológico de
proteínas.
Esta figura mostra cinco
exemplos diferentes de moléculas de proteína.
Cada uma delas possui uma
configuração tridimensional muito precisa e cada uma de suas células tem uma
cópia perfeita desse formato:
A) A enzima que digere
átomos de hidrogénio;
B) Filamentos entrelaçados
de proteína de colágeno;
C) Um canal (proteína de
membranas com uma abertura central);
D) Subunidade de proteína
de uma "cápsula" que contém vírus;
E) Enzima sintetizadora de
DNA com uma molécula helicoidal de DNA ligada a ela.
Na segunda ilustração,
selecionei o mecanismo de um relógio para mostrar o funcionamento da célula.
A primeira figura mostra
uma máquina de metal com suas engrenagens, molas, pedras e a caixa do
mecanismo.
Quando a Engrenagem A
gira, faz com que a Engrenagem B gire também, e o movimento de B desencadeia o
movimento em C.
Na imagem seguinte
sobrepus as engrenagens do relógio e o suave mecanismo das proteínas orgânicas
(ampliadas milhões de vezes para ter o mesmo tamanho de um relógio) para que se
possa ter uma noção mais exata.
Imagine a Proteína A
"de metal" girando, fazendo com que a Proteína B se movimente e,
consequentemente, colocando a Proteína C em movimento.
Observe então a terceira
figura, em que retirei a estrutura do relógio. Voilà!
Você está vendo o
"mecanismo" de uma dos milhões de proteínas que compõem uma célula!
Fonte:
LIPTON, Bruce H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007, p. 36.
Proteínas citoplásmicas
que cooperam entre si para criar funções fisiológicas específicas são agrupadas
em grupos chamados vias.
Estes grupos são
identificados por suas funções, como os das vias respiratórias, digestivas, de
contração muscular e o infame ciclo de Krebs, amaldiçoado pelos estudantes de
ciências que são obrigados a memorizar cada um de seus componentes de proteína
e todas as suas complexas reações químicas.
Você consegue imaginar a
alegria dos biólogos quando descobriram o funcionamento dessas máquinas de
montagem de proteínas?
As células utilizam os
movimentos desse mecanismo para desenvolver funções específicas de metabolismo
e comportamento.
O movimento constante e
adaptável das proteínas, que pode se repetir centenas de vezes em uma fração de
segundos, é o movimento que impulsiona a vida.
*
A Supremacia do DNA
Você já deve ter percebido
que eu ainda não falei sobre DNA, mas há um motivo.
A mudança da carga eletromagnética
das proteínas é a responsável pelo movimento que gera o comportamento delas, e
não o DNA.
Até hoje não sei como
pudemos pensar que os genes "controlam" a biologia!
Em A origem das espécies,
Darwin sugeria que os fatores "hereditários" eram passados de geração
em geração, controlando as características de cada uma delas.
A influência dessa teoria
foi tão grande que os cientistas acabaram concentrando suas pesquisas em
identificar o material hereditário que acreditavam ser a base da vida.
Em 1910, análises
microscópicas revelaram que as informações hereditárias que passavam de uma
geração para outra estavam nos cromossomos, estruturas semelhantes a fios que
se tornam visíveis nas células no momento em que elas se dividem em dois
"filhotes".
Os cromossomos são
incorporados à organela maior desses filhotes, o núcleo.
Os cientistas isolaram
então o núcleo, dissecaram os cromossomos e descobriram que os elementos
hereditários eram compostos de apenas dois tipos de moléculas: proteína e DNA.
Perceberam então que, de
alguma maneira, as máquinas de proteína da vida faziam parte da estrutura e da
função dessas células de cromossomos.
A compreensão das funções
dos cromossomos se tornou mais clara em 1944, quando os cientistas determinaram
que era o DNA que continha as informações hereditárias (AVERY et al., 1944; LEDERBERG,
1994).
As experiências de seleção
do DNA foram solenes.
Aqueles cientistas
isolaram DNA puro de uma espécie de bactéria - que vou chamar de espécie A - e
adicionaram esse DNA a culturas que continham apenas bactérias do que chamarei
de espécie B.
Em pouco tempo, as
bactérias da espécie B começaram a apresentar traços hereditários que antes só
existiam na espécie A.
Quando se descobriu que
não era necessário nenhum outro elemento além do DNA para transmitir traços de
uma espécie para a outra, as moléculas de DNA se transformaram em estrelas da
ciência.
Faltava, então, desvendar
a estrutura e as funções daquela molécula milagrosa.
Moléculas de DNA são
longas e tem o formato de um fio.
São compostas de quatro
produtos químicos que contêm nitrogénio, chamados bases: adenina, timina,
citosina e guanina (ou A, T, C e G).
A descoberta de Watson e
Crick sobre a estrutura do DNA levou à conclusão de que a sequência das bases
A, T, C e G explicam a sequência de aminoácidos em uma espinha dorsal de
proteína (WATSON e CRICK, 1953).
Estes longos fios de
moléculas de DNA podem ser subdivididos em genes isolados, segmentos que
fornecem o projeto de proteínas específicas.
O código para se criar
máquinas de proteína havia sido finalmente desvendado!
Watson e Crick também
explicaram por que o DNA é a molécula hereditária perfeita.
Cada um desses fios é
normalmente entrelaçado a outro, uma configuração chamada de "dupla
espiral".
O conceito genial desse
sistema é que as sequências das bases de DNA em ambas as espirais são cópias
perfeitas uma da outra.
Então, se elas se separam,
cada uma contém as informações necessárias para criar outra cópia exata de si
mesma.
Essa característica lhes
permite ser autoreprodutora.
Por isso os cientistas
imaginaram que o DNA pudesse "controlar" seu processo de duplicação,
ou seja, que fosse "dono do próprio nariz".
O "conceito" de
que o DNA tivesse esse poder de reprodução e também que servisse de modelo para
as proteínas levou Francis Crick a criar o dogma central da biologia, a crença
de que o DNA controla a vida.
Este dogma passou a ser
tão importante para a biologia moderna que se tornou algo como os Dez
Mandamentos da ciência.
Também chamado de
"supremacia do DNA", está presente em todos os textos científicos da
atualidade.
O DNA figura com destaque
na teoria do funcionamento da vida, seguido de perto pelo RNA.
O RNA é uma espécie de
fotocópia do DNA, um gabarito físico que contém todas as sequências de aminoácidos
que formam a espinha dorsal de uma proteína.
O diagrama da supremacia
do DNA descreve a base lógica da era do determinismo Genético.
Como as características de
um organismo vivo são definidas pela natureza de suas proteínas e o código
delas está no DNA, faz todo sentido dizer que ele é sua "causa" ou
fator determinante.
*
O Projeto Genoma Humano
Agora que o DNA havia
atingido o status de superestrela da ciência, o desafio seguinte era criar um
catálogo de todas as estrelas genéticas no firmamento humano.
Iniciou-se, então, em
1980, o projeto Genoma Humano, um esforço científico global para classificar
todos os genes de nossa composição orgânica.
Tratava-se de um projeto
ambicioso e de grandes proporções.
Convencionou-se que o
corpo precisava de um gene-modelo para cada uma das 100 mil proteínas que
compõem nosso corpo e tam-bém de mais 20 mil genes reguladores para orquestrar
a atividade de codificação das proteínas.
Os cientistas concluíram
que o genoma humano deveria conter um mínimo de 120 mil genes entre nossos 23 pares
de cromossomos. Mas não era só isso.
Parecia que os cientistas
estavam no meio de uma piada cósmica, o tipo daquela que acontece sempre que
alguém acha que descobriu os segredos do universo.
Imagine o impacto que
Nicolau Copérnico causou ao anunciar em 1543 que a Terra não era o centro do
universo como pensavam os cientistas-teólogos da época.
O fato de que era a Terra
quem gravitava ao redor do Sol e o de que nem mesmo o Sol era o centro do
universo colocaram em xeque os ensinamentos da Igreja.
As descobertas de
Copérnico deram início à revolução científica ao desafiar o conceito de
"infalibilidade" da Igreja e fizeram com que a ciência a substituísse
como fonte de conhecimento e de descoberta dos mistérios do universo.
Os geneticistas também
tiveram um grande choque ao descobrir que, ao contrário de sua estimativa de
120 mil genes, o genoma humano tem apenas 25 mil (PENNISI, 2003a e 2003b; PEARSON,
2003; GOODMAN, 2003).
Mais de 80 por cento do
que se presumia ser DNA simplesmente não existe!
A falta desses genes
causou mais impacto do que se poderia supor.
O conceito de gene e
proteína únicos era o princípio básico do determinismo genético.
Com isso, o projeto Genoma
Humano veio abaixo e todos os nossos conceitos sobre o funcionamento básico da
vida tiveram de ser revistos.
Não era mais possível
continuar acreditando que a engenharia genética iria resolver todos os dilemas
biológicos.
Não há genes suficientes
para compor um quadro tão complexo quanto a vida ou as doenças humanas.
Fonte:
LIPTON, Bruce H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007, p.39.
O dogma central.
Também chamado de
supremacia do DNA, define o fluxo de informações nos organismos biológicos.
Como indicam as setas, o
fluxo segue em uma única direção, do DNA para o RNA e depois para a proteína.
O DNA representa a memória
de longo prazo da célula, que é passada de geração em geração.
O RNA, uma cópia mais
instável da molécula de DNA, é a memória ativa utilizada pela célula como
modelo físico para a síntese das proteínas.
As proteínas são os
tijolos moleculares que compõem a estrutura e o comportamento das células.
O DNA é considerado a
"fonte" que controla as características das proteínas das células,
daí o conceito de supremacia, ou seja, de que ele é a "causa
primária" de todo o processo.
Pode até parecer coisa do
estúdio da Disney:
o galo Chicken Little
anunciando aos berros que o céu está desmoronando e Chicken Big, o galo maior,
ajudando a espalhar a notícia.
David Baltimore,um dos
maiores geneticistas mundiais e ganhador do prémio Nobel, fez comentários sobre
os resultados surpreendentes do projeto Genoma Humano e de sua complexidade (BALTIMORE,
2001):
"Amenos
que o genoma humano contenha alguns genes invisíveis aos nossos computadores,
fica claro que não somos superiores a nenhum verme ou planta em termos de
complexidade orgânica ou número de genes.
Entender
este conceito nos mostra que temos uma imensa complexidade, um grande
repertório comportamental, habilidade de produzir ação consciente, incrível
coordenação física, reações precisas às variações externas do ambiente,
capacidade infinita de aprendizado, memória... preciso dizer mais?
É
um desafio para o futuro".
Segundo Baltimore, os
resultados do projeto Genoma Humano nos forçam a considerar outras ideias sobre
o funcionamento da vida.
"Compreender o que
nos torna tão complexos... é um desafio para o futuro". O céu está mesmo
desmoronando.
Além disso, esses resultados
mostram que precisamos rever nosso relacionamento genético com outros
organismos na biosfera.
Não podemos continuar
usando os genes para explicar por que os seres humanos estão no topo da escala
evolucionária.
Parece não haver muita
diferença entre o número de genes encontrados em nossa espécie e em outras a
que chamamos primitivas.
Vejamos três dos modelos
animais mais utilizados nas pesquisas genéticas: um microscópico nematódeo
chamado Caenorhabditis elegans, a mosca das frutas e o rato de laboratório.
O verme primitivo
Caenorhabditis serve de modelo perfeito para o estudo do papel dos genes no
desenvolvimento e no comportamento dos seres.
E um organismo que cresce
e se desenvolve com muita rapidez, tem um corpo de padrão preciso composto de
exatamente 969 células e um cérebro muito simples de 302 células.
No entanto, apresenta um
repertório único de comportamento e é bastante dócil para o trabalho em
laboratório.
Tem aproximadamente 24 mil
genes (BLAXTER, 2003).
O corpo humano, composto
de mais de 50 trilhões de células, contém apenas 1500 genes a mais que este
microscópico e humilde ser.
A mosca-das-frutas, outro
espécime preferido dos cientistas para este tipo de estudo, possui 15 mil genes
(BLAXTER, 2003; CELNIKER et al., 2002).
Portanto, esta pequena
mosca, de organismo muito mais complexo, tem nove mil genes a menos que o
primitivo verme Caenorhabditis.
E quando se trata de
comparar homens e ratos a situação é ainda mais crítica.
Teremos de passar a
tratá-los com mais dignidade, pois os resultados dos projetos genoma paralelos
revelam que humanos e roedores têm aproximadamente o mesmo número de genes!
*
Biologia Celular 101
Depois de todas essas
pesquisas, os cientistas já deviam ter concluído que os genes não controlam
nossa vida.
Por definição, o cérebro é
o órgão responsável pelo controle e coordenação da fisiologia e do
comportamento dos organismos.
Mas será que o núcleo é o
cérebro das células?
Se a hipótese de que o
núcleo e seu material de DNA são o "cérebro" da célula estivesse
correta, remover este núcleo (um processo chamado enucleação) causaria sua
morte imediata.
Mas então, para surpresa
geral...
(Maestro, que rufem os
tambores!)
Um cientista arrasta nossa
pobre e relutante célula até a área de visão do microscópio e a prende a uma
base fixa.
Usando um
micromanipulador, leva uma micropipeta até a célula e a insere no interior do
citoplasma.
Aplicando uma leve sucção,
o núcleo é aspirado para dentro da pipeta, que é então retirada do interior do
citoplasma.
Encontra-se então em
nossas mãos o objeto do sacrifício da célula:
seu "cérebro".
Mas, espere!
Ela ainda está se movendo!
Não pode ser... a célula
ainda está viva!
O ferimento se fecha e,
assim como um paciente após uma cirurgia, a célula começa a se recuperar.
Algum tempo depois já está
de pé (digo, sobre seus pseudópodes), fugindo do campo do microscópio,
esperando nunca mais ver um cientista em sua vida.
Muitas células sobrevivem
dois ou três meses sem seus genes após esta enucleação (retirada do núcleo) e,
ao contrário do que se imagina, não passam a viver como autômatos, sem vontade
própria.
Continuam a ingerir e metabolizar alimentos, mantem todas as operações
de seu sistema fisiológico (respiração, digestão, excreção, mobilidade etc.),
comunicam-se com as outras células e respondem normalmente aos estímulos de
crescimento e proteção que recebem do ambiente.
Mas, claro, há efeitos
colaterais.
Sem os genes, as células
não podem mais se dividir ou repor as proteínas que perdem com o desgaste
normal do citoplasma.
Essa impossibilidade de
reposição de proteínas citoplásmicas gera disfunções mecânicas que acabam
resultando em sua morte.
O objetivo dessa
experiência é verificar se o conceito de que o núcleo é o "cérebro"
da célula tem validade.
Se ela tivesse morrido
imediatamente após a enucleação, a teoria estaria correta.
Mas os resultados são
muito claros: células enucleadas mantêm seu complexo e coordenado comportamento
de manutenção da vida, o que nos leva a concluir que seu "cérebro"
ainda está intacto e em pleno funcionamento.
Mas o fato de as células
enucleadas manterem as funções biológicas, apesar da ausência de genes, não é
uma descoberta nova.
Cem anos atrás os
embriologistas já removiam os núcleos das células de ovos e mostravam que uma
única célula conseguia se desenvolver até o estágio de blástula,
desenvolvimento embrionário de seres de 40 ou mais células.
Hoje, as células
enucleadas são utilizadas na indústria em camadas de células
"alimentadoras" para a cultura de vírus de vacinas.
Bem, mas se o núcleo e
seus genes não são o cérebro de uma célula, qual é a verdadeira contribuição do
DNA para a vida celular?
Células enucleadas não
morrem porque perdem o cérebro, e sim a capacidade de reprodução.
Sem essa habilidade não
conseguem mais repor proteínas ou mesmo se dividir para criar réplicas de si
mesmas.
Então, pode-se concluir
que o núcleo não é o cérebro da célula, e sim sua gônada!
Confundir órgãos sexuais
com cérebro é até um erro aceitável já que a ciência sempre adotou um
comportamento patriarcal.
Como machos são
normalmente acusados de pensar com suas gônadas, não é de se surpreender que os
cientistas tenham confundido o núcleo das células com o cérebro!
Fonte da imagem: http://www.imagick.com.br/?p=21398
*
Epigenética: A Nova
Ciência Nos
Permite Resgatar O Controle
Sobre
Nossa Vida
Os teóricos que defendem a
tese de que os genes comandam nosso destino parecem ignorar as experiências
sobre as células anucleadas realizadas há mais de 100 anos.
Mas não podem ignorar as
novas pesquisas, que também mostram que eles estão enganados.
Enquanto o projeto Genoma Humano
figurava em todas as manchetes, um grupo de cientistas iniciava um novo e
revolucionário campo da biologia chamado epigenética.
A ciência da epigenética,
que significa literalmente "controle sobre a genética", modificou
completamente os conceitos científicos sobre a vida (PRAY, 2004; SILVERMAN, 2004).
Na última década, as
pesquisas epigenéticas estabeleceram que os padrões de DNA passados por meio
dos genes não são definitivos, isto é, os genes não comandam nosso destino!
Influências ambientais
como nutrição, estresse e emoções podem influenciar os genes ainda que não
causem modificações em sua estrutura.
Os epigeneticistas já
descobriram que essas modificações podem ser passadas para as gerações futuras
da mesma maneira que o padrão de DNA é passado pela dupla espiral (REIK E
WALTER, 2001; SURANI, 2001).
Não há dúvida de que as
descobertas epigenéticas deixaram para trás as descobertas genéticas.
Desde a década de 1940, os
biólogos vem isolando o DNA do núcleo das células para estudar os mecanismos
genéticos.
Nesse processo de abrir a
membrana do núcleo retirado e remover os cromossomos, compostos metade de DNA e
metade de proteínas reguladoras, em sua ânsia de estudar o DNA, jogavam fora as
proteínas.
Na verdade, estavam
jogando fora o bebê junto com a placenta.
Hoje esse bebê está sendo
resgatado com o estudo das proteínas dos cromossomos, que desempenham um papel
tão crucial na hereditariedade quanto o DNA.
O DNA forma o centro do
cromossomo e as proteínas formam um revestimento ao seu redor.
Enquanto os genes estão
cobertos, porém, sua informação não pode ser "lida".
Imagine que seu braço é o
DNA responsável pela característica de olhos azuis e que ele é recoberto por
uma camada de proteínas reguladoras que o protegem como a manga de uma camisa,
impedindo que suas informações sejam acessadas.
Fonte: LIPTON, Bruce
H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007, p.42.
A primazia do ambiente.
A nova ciência revela que
as informações que controlam a biologia tem origem nos sinais ambientais.
Estes, por sua vez,
controlam as ligações das proteínas reguladoras do DNA, que regulam as
atividades dos genes.
As funções do DNA, do RNA
e das proteínas são as mesmas descritas no painel de primazia do DNA.
Observe que o fluxo de
informações não é mais unidirecional.
Nos anos 7 960, Howard
Temin desafiou o dogma central ao apresentar experiências que revelavam que o
RNA podia seguir um fluxo oposto ao estabelecido pelas regras científicas de
até então e modificar o DNA.
Inicialmente,
ridicularizado por suas heresias, Temin acabou ganhando o Prêmio Nobel por sua
teoria de transcriptase reversa, mecanismo molecular que permite ao RNA
modificar o código genético.
A transcriptase reversa
ficou ainda mais conhecida ao ser utilizada na manipulação do RNA do vírus da
Aids para controlar o DNA das células infectadas.
Também já se sabe que
fazer modificações nas moléculas de DNA adicionando ou removendo grupos
químicos de metil pode influenciar a ligação das proteínas regulatórias.
As proteínas precisam
seguir o fluxo previsto de informações, já que os anticorpos de proteínas em
células imunes são responsáveis pelas modificações do DNA nas células que os
sintetizam.
O tamanho das setas que
indica o fluxo de informações também não é o mesmo.
Há sérias restrições
quanto à reversão desse fluxo; uma composição que evitaria mudanças radicais no
genoma das células.
Como se remove essa manga?
Somente um sinal do
ambiente pode fazer com que essa capa de proteína modifique seu formato como
ocorre com a dupla hélice de DNA, por exemplo, permitindo que seus genes sejam
lidos.
Quando o DNA fica exposto,
a célula pode fazer uma cópia dele, e a atividade do gene passa a ser
"controlada" pela presença ou pela ausência da capa de proteína que,
por sua vez, é controlada pelos sinais do ambiente.
A história do controle
epigenético é a história de como os sinais ambientais controlam a atividade dos
genes.
Agora fica claro que o
quadro de primazia do DNA tem falhas.
O esquema revisado do
fluxo de informações hoje pode ser chamado de "primazia do ambiente".
Este novo e mais
sofisticado fluxo de informações da biologia começa com um sinal do ambiente
que age sobre as proteínas reguladoras, depois sobre o DNA, o RNA e finalmente
sobre o resultado final, a proteína.
A ciência da epigenética
também deixa claro que há dois me-canismos pelos quais os organismos transmitem
suas informações hereditárias.
Ambos permitem aos cientistas
estudar tanto as contribuições da natureza (genes) quanto as do aprendizado
(mecanismos epigenéticos) sobre o comportamento humano.
Se focarmos nossa atenção
apenas nos padrões, como os cientistas vêm fazendo há décadas, jamais vamos
entender a influência do ambiente (DENNIS, 2003; CHAKRAVARTI e LITTLE, 2003).
Vamos usar uma analogia
para tornar mais clara essa relação entre a epigenética e os mecanismos
genéticos.
Você se lembra da época em
que a programação da televisão acabava à meia-noite?
Quando os canais saíam do
ar, um "padrão de teste" era exibido na tela.
A imagem era semelhante à
de um alvo de dardos, como na figura seguinte.
Imagine que o padrão da
tela é o padrão codificado por um deter-minado gene, como o de olhos castanhos,
por exemplo.
Os botões e os controles
da TV permitem que você modifique a aparência horizontal e vertical da tela,
ligue ou desligue o aparelho e altere características como cor, tonalidade,
contraste e brilho.
Ao fazer essas
modificações você pode alterar a aparência da tela, mas não modificar o padrão
original da imagem.
Esse é o papel das
proteínas reguladoras.
Estudos de síntese de
proteínas revelam que os "controles" epigenéticos podem criar mais de
duas mil variações de proteínas a partir de um mesmo padrão genético (BRAY,
2003; SCHMUKER et al., 2000).
Fonte: LIPTON, Bruce
H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007, p.44.
Nessa analogia
epigenética, o padrão de teste na tela representa o padrão da estrutura da
proteína codificado por um gene.
Os controles da TV permitem
que se altere a aparência do padrão (B e C), mas não o padrão original da transmissão
(no caso, do gene).
O controle da epigenética
modifica a leitura do gene sem modificar o código de DNA.
*
Experiências Da Vida Dos
Pais Moldam O Perfil
Genético Das Crianças
Sabemos que as regulagens
geradas pelo meio ambiente descritas acima podem ser passadas de geração em
geração.
Um estudo importante
publicado pela Universidade de Duke em agosto de 2003 sobre biologia molecular
e celular mostra, por meio de experiências com ratos, que um ambiente rico pode
ter influência mais forte que as mutações genéticas (WATERLAND e JIRTLE, 2003).
Nesse estudo, cientistas
observaram os efeitos de suplementos dietéticos sobre ratas prenhes com genes
de cutia.
Este tipo de rato costuma
apresentar pelagem amarelada e obesidade extrema, o que o predispõe a doenças
cardiovasculares, diabetes e câncer.
As irmãs cutias: fêmeas
cutias de um ano de idade geneticamente idênticas.
Suplementos metiladores da
doadora materna alteram a coloração da pelagem de amarelo para marrom e fazem
com que a incidência de obesidade, diabetes e câncer seja reduzida (Foto:
cortesia de Jirtle e Waterland©).
Fonte: LIPTON, Bruce
H. A biologia da crença .São Paulo: Butterfly, 2007, p.44.
As irmãs cutias: fêmeas cutias de um ano de idade geneticamente idênticas. Suplementos metiladores da doadora materna alteram a coloração da pelagem de amarelo para marrom e fazem com que a incidência de obesidade, diabetes e câncer seja reduzida (Foto: cortesia de Jirtle e Waterland©).
Na experiência, um grupo
de cutias-mães amarelas e obesas recebeu suplementos ricos em metil do tipo
encontrado em lojas de produtos alimentares: ácido fólico, vitamina BI2,
betaína e colina.
Esses suplementos foram
escolhidos porque muitos estudos mostram que o grupo químico metil está
associado a modificações genéticas.
Ao entrar em contato com o
DNA, esses nutrientes modificam as características das proteínas cromossômicas
reguladoras.
Se elas se juntam ao gene
e o envolvem, a carcaça de proteína não pode ser removida e as informações do
gene não podem ser lidas.
Assim, o DNA metilado pode
impedir ou modificar a atividade do gene.
Dessa vez, as manchetes de
"Dieta supera os genes" estavam corretas.
Ratas que tomaram metiladores
tiveram filhotes de tamanho e peso normais e pelagem marrom, apesar dos genes
cutia que herdaram da mãe.
Já as que não tomaram os
suplementos produziram filhotes amarelos, com tendência a ingerir quantidades
muito maiores de alimentos que os filhotes marrons e que dobraram de peso muito
mais rápido que eles.
A fotografia mostra
claramente as diferenças.
Embora os dois ratos sejam
geneticamente idênticos, têm aparência completamente diferente.
Um é magro e marrom
enquanto o outro é amarelo e obeso.
Outra diferença é que o
amarelo é diabético enquanto o marrom é totalmente saudável.
Outros estudos mostram que
os mecanismos epigenéticos são um fator importante em diversas doenças, entre
elas o câncer, os problemas cardiovasculares e a diabetes.
Na verdade, apenas cinco
por cento dos pacientes de câncer ou que apresentam problemas cardiovasculares podem
atribuir suas doenças a fatores hereditários (WILLET, 2002).
A mídia alardeou a
descoberta do gene do câncer de mama, mas deixou de mencionar que 90 por cento
dos casos desse tipo de câncer não está associado a genes herdados.
A maioria ocorre por alterações
induzidas pelo ambiente e não por genes defeituosos (KLING, 2003; JONES, 2001;
SEPPA, 2000; BAYLIN, 1997).
As evidências epigenéticas
foram tantas que alguns cientistas mais tradicionais começaram a mencionar o
nome de Jean-Baptiste de Lamarck, o evolucionista antes tão desdenhado, que
acreditava que os traços adquiridos por influência do ambiente podem ser
transmitidos.
A filósofa Eva Jablonka e
o biólogo Marion Lamb declaram em seu livro publicado em 1995, Epigenetic
inheritance and evolution - the lamarchian dimension [Herança epigenética e
evolução - a dimensão lamarquiana]:
"Nos últimos anos, a
biologia molecular mostrou que o genoma é mais amplo e suscetível ao ambiente
do que se imaginava.
Mostrou também que as
informações podem ser transmitidas aos descendentes de várias maneiras, não
apenas por meio da sequência básica do DNA" (JABLONKA e LAMB, 1995).
Bem, voltamos ao ponto em
que iniciamos este capítulo, o ambiente. Em meu trabalho de laboratório, pude
testemunhar diversas vezes o impacto do ambiente modificado nas células que estava
estudando.
Porém, foi somente no
final de minha carreira de pesquisador, em Stanford, que a mensagem se tornou
mais clara em minha mente.
Percebi que a estrutura e a função das células
endoteliais (da mucosa dos vasos sanguíneos) se modificavam dependendo do
ambiente a que eram expostas.
Quando eu adicionava
produtos químicos inflamatórios à cultura, as células se transformavam
rapidamente em macrófagos, os limpadores do sistema imunológico responsáveis
por eliminar corpos estranhos.
O mais interessante foi
constatar que mesmo após eu ter destruído o seu DNA com raios gama elas ainda
se transformavam.
Ou seja, mesmo
"funcionalmente enucleadas", essas células endoteliais conseguiam
modificar seu comportamento biológico em resposta a agentes inflamatórios da
mesma maneira que faziam quando tinham seus núcleos intactos.
Isso me mostrou claramente
que apresentavam algum tipo de controle "inteligente" apesar da
ausência de genes (LIPTON, 1991).
Vinte anos se passaram desde que meu mentor
Irv Konigsberg me orientou a analisar o ambiente quando as células estudadas
adoecem, mas somente agora compreendo exatamente o que ele quis dizer.
O
DNA não controla a biologia e o núcleo não é o cérebro das células.
Assim
como eu e você, elas são moldadas pelo ambiente em que vivem.
Então,
finalmente entendi a célebre frase: é o ambiente, sua besta.
FONTE
LIPTON, Bruce H. A biologia da crença. Capítulo II. São Paulo: Butterfly, 2007.Ciência e espiritualidade na mesma sintonia: o poder da consciência sobre a matéria e os milagres Tradução Yma Vick , p. 29-46.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
“Deixe aqui um comentário”