A Magia das Células
Uma incursão sobre a epigenética
Bruce H. Lipton
Quando eu tinha sete anos de
idade, subi em uma caixa na sala aula para espiar pela lente de um microscópio.
Para minha decepção, a única imagem que vi foi a da luz refletida.
Aos poucos consegui conter minha ansiedade e ouvir as explicações da senhora Novak sobre
como regular o foco.
Então, algo tão dramático aconteceu que modificou
completamente minha vida: vi um protozoário.
Fiquei hipnotizado.
O barulho das
outras crianças ficou distante e me senti sozinho na sala.
Todo o meu ser
pareceu mergulhar no mundo alienígena das células, algo que até hoje é mais
interessante para mim do que qualquer filme feito por computador.
Na inocência de minha mente
infantil, eu via aquele organismo não como uma célula, mas como uma pessoa em
tamanho diminuto, um ser pensante e consciente.
Para mim, ele não estava nadando a esmo, mas sim
cumprindo uma missão, embora eu não soubesse como descrever isso tudo naquela
época.
Fiquei observando seus movimentos ao redor de um grupo de algas.
Nesse
instante, o grande pseudópodo de uma ameba desengonçada também começou a se
mover.
Então, enquanto eu fazia minha viagem maravilhosa naquele mundo
liliputiano, Glenn, o mais perverso de meus colegas de classe, me empurrou
para descer da caixa e tomou meu lugar diante do microscópio.
Tentei convencer
a professora Novak a me deixar ver mais um pouco, mas a aula estava terminando
e outros alunos também esperavam sua vez.
Naquela tarde corri para casa e
contei, esbaforido, minha descoberta à minha mãe.
Usando todos os poderes de
persuasão que a idade me permitia, implorei e a bajulei até conseguir que ela
comprasse um microscópio para mim.
Passava horas maravilhado com aquele mundo
alienígena do outro lado da lente[...]
Mais tarde, na faculdade,
passei a usar um microscópio eletrônico, mil vezes mais potente.
A diferença é
mais ou menos como a dos telescópios que os turistas usam para ver cenas da
cidade do alto dos edifícios comerciais em relação aos do tipo Hubble, que
transmitem imagens do espaço sideral.
Entrar na ala de microscópios de um
laboratório é como uma cerimônia iniciática para estudantes que aspiram a se
tornar biólogos.
O portal desse mundo maravilhoso é uma porta giratória preta
como aquelas que isolam as salas escuras de revelação de filmes fotográficos.
Até hoje me lembro da primeira vez que passei por ela.
Era uma divisória entre
dois mundos: minha vida de estudante e meu futuro como cientista e pesquisador.
Quando a porta terminou de girar, eu me vi em uma sala grande e escura,
iluminada apenas por pequenas lâmpadas vermelhas de segurança.
Enquanto meus
olhos se adaptavam à escuridão, fiquei assombrado com o que vi.
As luzes
vermelhas refletiam a superfície espelhada de uma imensa coluna de aço
inoxidável com lentes eletromagnéticas que subiam até o teto no centro da sala
e na base da coluna havia um grande painel de controle que lembrava os de um
Boeing 727, cheio de chaves, botões, medidores c luzes indicadoras.
Na base
também havia muitos fios, mangueiras e cabos de vácuo que se espalhavam como tentáculos
ou como as raízes de uma árvore.
O som das bombas de vácuo e de circuladores de
água para refrigeração enchiam o ambiente.
Tive a nítida impressão de estar
entrando na sala de comando da nave U.S.S. Enterprise.
Mas aparentemente
aquele era o dia de folga do capitão Kirk, pois quem estava à frente dos
comandos era um de meus professores, ocupado com o complexo processo de colocar
uma amostra de tecido orgânico em uma câmara de vácuo no centro da coluna de
metal.
Enquanto os minutos passavam, comecei a ter a mesma sensação que tive
aos sete anos de idade, quando vi uma célula pela primeira vez.
Finalmente, uma
imagem verde fluorescente surgiu tia tela.
Mal se podia distinguir as manchas
escuras do plasma.
A imagem estava ampliada em 30 vezes seu tamanho original.
O
professor começou então a aumentar o tamanho, passo a passo: 100 vezes, 1.000
vezes, 10.000 vezes.
Quando chegou ao ponto máximo sem distorção, o microscópio
havia ampliado a imagem em 100.000 vezes.
Era realmente uma cena de jornada nas
estrelas, mas em vez de viajarmos pelo espaço estávamos indo em direção ao
microcosmo, onde "nenhum ser humano jamais esteve".
Em um momento,
estávamos observando uma célula em miniatura e, no momento seguinte, podíamos
observar toda a sua arquitetura molecular.
A sensação que tive ao cruzar aquela
barreira científica foi indescritível, principalmente porque fui convidado a
ser co-piloto honorário naquele dia.
Tive a honra de tocar os controles e
"voar" sobre aquela paisagem alienígena celular.
Meu professor foi
meu guia turístico, indicando os pontos principais:
"Aqui está uma
mitocôndria, seu complexo golgiense ali um poro nuclear, uma molécula de
colágeno e mais adiante um ribossomo".
A ideia de ser um pioneiro,
aventurando-me por territórios jamais vistos por olhos humanos me fascinava.
O
microscópio simples despertou minha atenção para o mundo das células e de sua
consciência, mas foi o microscópio eletrônico que me permitiu vislumbrar as
moléculas que são a base da vida.
Sentia que em algum lugar dentro daquela
"citoarquitetura" da célula eu encontraria algo que me levaria a
desvendar os grandes mistérios da existência.
Por um instante, aquelas lentes
se transformaram em bolas de cristal e na tela fluorescente eu vi meu futuro.
Senti que seria um biólogo celular e que iria pesquisar com detalhe todas as
nuances da ultraestrutura celular para descobrir seus segredos.
Afinal, estava
aprendendo na própria faculdade que a estrutura e a função dos organismos
biológicos estão intimamente ligadas.
Tinha certeza de que, estudando mais
profundamente a relação entre a anatomia e o comportamento das células, eu
conseguiria entender seu mecanismo.
Dediquei então todo o meu tempo livre
durante a faculdade, mestrado e doutorado à pesquisa da anatomia molecular,
pois ali estava a chave do que eu procurava. Minha curiosidade sobre estes
"segredos da vida" também me levou a pesquisar a clonagem de células
humanas.
Dez anos após meu primeiro contato com um microscópio eletrônico, eu
me tornara um membro do corpo docente da Escola de Medicina da Universidade de
Wisconsin, internacionalmente reconhecido por minhas pesquisas sobre clonagem
de células-tronco e respeitado dentro da faculdade por minhas habilidades de
professor.
E utilizava microscópios eletrônicos ainda mais poderosos que me
permitiam visualizar imagens tridimensionais de organismos vivos para observar
bem de perto a base da vida.
Embora as ferramentas agora fossem mais
sofisticadas, meus objetivos ainda eram os mesmos.
Jamais perdi a convicção
adquirida aos sete anos de idade ao ver pela primeira vez a imagem de um
protozoário em um microscópio. A vida das células tinha de ter um propósito.
A única coisa que permanecia sem
propósito era minha vida pessoal.
Não acreditava em Deus, embora deva confessar
que quando imaginava a possibilidade de sua existência a figura que surgia em
minha mente era sempre a de um grande e perverso controlador com senso de humor
deturpado.
Eu era, afinal, um biólogo tradicional, para quem a existência de
Deus era uma questão totalmente irrisória.
Considerava a vida mera consequência
do acaso, como a sorte no jogo.
As probabilidades dos resultados genéticos são
as mesmas de um dado rolando sobre uma mesa.
O lema de nossa profissão desde a
época de Charles Darwin era:
"Deus? Não precisamos de um Deus".
Não
que Darwin negasse a Sua existência.
Ele simplesmente afirmava que o acaso, e
não a intervenção divina, é o verdadeiro responsável pela vida na Terra.
Em seu
livro A origem das espécies, publicado em 1859, Darwin afirma que as características
individuais são passadas dos pais para os filhos e que estas são "fatores
hereditários" que controlam a vida de todos nós.
Essa afirmação levou os
cientistas a uma busca frenética para dissecar todas as partes que compõem as
moléculas em uma tentativa de decifrar os mecanismos hereditários responsáveis
pela vida.
A pesquisa chegou ao fim 50 anos
atrás, quando James Watson e Francis Crick descreveram a estrutura e a função
da espiral dupla do DNA, o material do qual os genes são feitos.
Os cientistas
finalmente entendiam os "fatores hereditários" que Darwin mencionou
em seus manuscritos no século 19.
Os jornais anunciaram a nova engenharia
genética, a promessa de bebês com características programadas e os medicamentos
milagrosos.
Até hoje me lembro das manchetes daquele dia memorável em 1953:
"Descoberto o segredo da vida".
Os genes passaram então a ser a
explicação para tudo e os mecanismos pelos quais o DNA controla a vida
biológica se tornaram o dogma central da biologia molecular, descrito com
detalhes em todos os livros e pesquisas.
A longa discussão sobre as
características que herdamos ou que adquirimos durante a vida acabou.
Os
cientistas estavam certos de que tudo é herdado de nossos pais.
No início,
pensavam que o DNA fosse responsável apenas por nossas características físicas.
Com o tempo passaram a acreditar que nossos genes também controlavam nossas
emoções e comportamento.
Portanto, se alguém nascesse com um gene de felicidade
defeituoso só poderia esperar ter uma vida infeliz.
Eu me considerava uma
dessas pessoas; uma vítima da fatalidade de ter um gene de felicidade mutante
ou mesmo ausente.
Justamente nessa época estava passando por muitos problemas
em minha vida.
Meu pai estava morrendo após uma longa e dolorosa batalha contra
o câncer.
E como eu era o responsável por ele, passei os quatro últimos meses
de sua vida viajando duas a três vezes por semana de Wisconsin para Nova York.
Ao mesmo tempo, coordenava um programa de pesquisas, lecionava e escrevia a
tese de renovação de meu título de mestrado no National Institutes of Health.
Para
completar, estava em meio a um divórcio que me consumia emocional e
financeiramente.
Minhas economias se esvaíram rapidamente entre custas de
advogados e pensão para meus dependentes.
Acabei apenas com uma mala de roupas
e morando em um apartamento alugado em um prédio que não recomendaria a meus
piores inimigos.
Tinha medo de meus vizinhos, especialmente o do apartamento ao
lado.
Na primeira semana após me mudar, a porta foi arrombada e meu aparelho de
som desapareceu.
Alguns dias depois, meu vizinho (de 1,90 m de altura e pelo
menos 90 cm de largura) tocou a campainha com uma lata de cerveja em uma das
mãos e palitando os dentes com a outra para me perguntar se eu tinha o manual
de instruções do aparelho.
Mas o ponto alto foi quando atirei o telefone pela
porta de vidro de meu escritório, despedaçando inclusive a placa de "Bruce
H. Lipton, Professor Adjunto de Anatomia, Escola de Medicina da Universidade de
Wisconsin", gritando "eu vou enlouquecer!"
O ataque de nervos
foi causado pelo telefonema de um gerente de banco que me explicou de maneira
gentil, porém direta, que não poderia me conceder um empréstimo.
Parecia uma
cena do filme Laços de ternura em que Debra Winger responde ao marido:
"Não temos dinheiro para pagar nossas contas agora.
E, pelo jeito, não
vamos ter nunca!"
A Magia das Células - Dèjá - Vu
Sem querer, acabei encontrando
uma válvula de escape.
Tirei licença de um ano e fui lecionar em uma
universidade no Caribe.
Claro, meus problemas não iriam desaparecer
simplesmente pelo fato de eu estar longe, mas quando o avião decolou de Chicago
fiquei tão feliz que precisei me controlar para não gargalhar.
Uma alegria
imensa me invadiu e me senti como naquele dia, aos sete anos de idade, quando
descobri o mundo mágico das células.
A felicidade aumentou ainda mais quando
entrei no pequeno avião de seis passageiros que fez a ponte aérea até Monserrat,
uma pequena e isolada ilha de apenas 19 quilômetros no meio do Mar do Caribe.
Se o Jardim do Éden realmente existiu, com certeza era bem parecido com aquele
lugar, um pedaço do paraíso circundado pelo imenso mar cristalino
verde-azulado.
Quando o avião pousou e a porta se abriu, fiquei embriagado pelo
cheiro das flores de gardênia que veio com a brisa.
Os moradores da ilha tinham
o hábito de interromper seus afazeres para observar o pôr-do-sol, um ato de
contemplação tão relaxante do qual em poucos dias eu me tornei um adepto fiel.
Às vezes mal podia esperar para assistir àquele maravilhoso show no final da
tarde.
Minha casa ficava em uma espécie de penhasco 1.500 metros acima do
oceano, virada para o oeste e, seguindo uma pequena trilha, logo em frente eu
podia descer até a água.
Havia também uma pequena gruta com uma passagem cheia
de árvores, plantas e flores que levava a uma praia deserta, onde eu iniciava o
ritual de assistir ao pôr-do-sol mergulhando e deixando para trás todos os meus problemas
diários.
Depois me aconchegava na areia clara e macia para assistir ao
espetáculo do sol desaparecendo lentamente mar adentro.
Ali, longe do estresse
e da competição mercenária do mundo, comecei a ver a vida sem os bloqueios e as
limitações das crenças dogmáticas da civilização.
No início, não conseguia
deixar de criticar e lamentar o desastre que minha vida tinha sido até aquele
momento.
Mas aos poucos comecei a colocar de lado as batalhas internas e a
rever com mais calma meus 40 anos de vida.
Aprendi novamente a vivenciar o
momento presente, exatamente como fazia quando criança.
Reaprendi a sentir o
prazer de estar vivo.
Acabei me tornando mais humano e humanitário naquela ilha
paradisíaca. Também cresci como profissional.
Quase toda a minha formação científica
havia sido dentro de salas de aula, auditórios e laboratórios frios e estéreis.
Meu contato com aquele ecossistema tão rico me fez ver a biologia como um
sistema vivo e integrado, e não mais como um conjunto de espécimes dividindo
espaço em um planeta.
Passeando pelas florestas e mergulhando entre os recifes
de coral, pude observar de perto plantas e animais em seu habitat e perceber
melhor sua interação.
Existe um equilíbrio delicado e dinâmico entre todas as
formas de vida e o ambiente.
O que descobri nos Jardins do Eden do Caribe foi
harmonia e não uma luta desesperada pela sobrevivência.
Percebi que a biologia
tradicional dá pouca ou nenhuma importância à questão da cooperação, pois a
teoria de Darwin enfatiza apenas a natureza competitiva dos seres vivos.
Para o
desgosto de meus colegas norte-americanos, retornei a Wisconsin protestando e
argumentando contra todos os princípios e crenças da biologia tradicional.
Criticava abertamente Charles Darwin e sua teoria da evolução.
Os biólogos me
viam como um padre que se volta contra o Vaticano e acusa o papa de ser
impostor.
Todos pensaram que um coco havia caído em minha cabeça quando pedi
demissão da universidade para seguir um sonho de minha vida: entrar para uma
banda de rock e fazer uma turnê.
Produzi um show de laser com Yanni, que havia
se tornado uma celebridade no mundo musical.
Mas logo percebi que tinha mais
talento como professor e pesquisador do que como produtor de shows de rock.
Entrei em crise, acabei desistindo do mundo da música e voltei ao Caribe para
lecionar biologia celular.
Mas a fase final de minha vida acadêmica foi na
Escola de Medicina da Universidade de Stanford, agora defendendo e propagando
abertamente a "nova" biologia.
Questionava não apenas Darwin e sua
versão canibal da evolução, mas também o dogma central da biologia, segundo o
qual os genes controlam a vida.
Este dogma tem uma séria falha: os genes não
ligam-desligam sozinhos.
Ou, em termos mais técnicos, não são aquilo que
chamamos de "auto-emergentes".
E preciso que fatores externos do
ambiente os influenciem para que entrem em atividade.
Os biólogos já sabiam
disto havia muito tempo, mas o fato de seguirem cegamente os dogmas da ciência
os fazia ignorar esse conhecimento.
Por isso, cada vez que eu me manifestava
era duramente criticado por todos.
Tornei-me um candidato
à excomunhão; um bruxo para ser queimado na fogueira!
Na palestra que tive de
apresentar durante o processo de entrevistas para a vaga de professor em
Stanford, acusei todo o corpo docente, inclusive muitos dos renomados
geneticistas ali presentes, de se comportarem exatamente como os
fundamentalistas religiosos, aceitando o dogma central mesmo sabendo de todas
as suas falhas.
A plateia se alvoroçou, gritando e vociferando contra mim.
Concluí que meu processo de entrevistas havia terminado.
Mas, para minha
surpresa, as pesquisas e descobertas que apresentei sobre a nova biologia os
entusiasmaram a tal ponto que decidiram me contratar.
Agora, finalmente, eu
tinha o apoio dos grandes cientistas de Stanford, principalmente o do diretor
do Departamento de Patologia, para colocar em prática minhas ideias sobre a
pesquisa de clonagem de células humanas.
E para o espanto de todos, os
resultados confirmaram as teorias e princípios que eu havia apresentado.
Publiquei dois ensaios sobre minhas pesquisas e deixei então o mundo
acadê-mico, desta vez definitivamente (Lipton et al., 1991, 1992).
Tomei a
decisão de abandonar a carreira acadêmica porque, apesar de todo o apoio que
recebia em Stanford, sentia que minhas teorias não tinham a atenção que
mereciam.
Mas, desde que deixei o cargo, novas pesquisas confirmam a todo
instante meu ceticismo em relação ao dogma central e ao princípio de que o DNA
é que controla a vida.
Na verdade, a epigenética, que é o estudo dos mecanismos
moleculares por meio dos quais o meio ambiente controla a atividade genética, é
hoje uma das áreas mais atuantes da pesquisa científica em geral.
O papel do
meio ambiente no controle das atividades dos genes já era o foco de minhas
pesquisas 20 anos atrás, antes mesmo de a ciência se interessar pelo assunto
(LIPTON, 1977a, 1977b).
É gratificante saber que hoje mais pesquisadores se
interessam por esta área.
Mas tenho certeza de que, se estivesse lecionando em
uma escola de medicina, meus colegas ainda imaginariam se um coco não caiu em
minha cabeça enquanto eu estive no Caribe.
Nestes últimos dez anos me tornei
ainda mais radical em relação aos padrões acadêmicos e minha preocupação com a
nova biologia hoje é muito mais que mero exercício intelectual.
Acredito que as
células podem nos ensinar muito não apenas sobre os mecanismos da vida, mas
também como viver de maneira mais rica e completa.
Para os elevados padrões da
ciência tradicional, o único prêmio que ideias como as minhas merecem é o de
"cientista maluco".
O que muitos cientistas ainda consideram
antropomorfismo, ou melhor, citopomorfismo, eu chamo de "biologia
101".
Você pode se considerar um indivíduo, mas como biólogo celular eu
lhe digo que você é uma grande comunidade cooperativa de aproximadamente 50
trilhões de células e que a maioria delas vive como amebas, ou seja, organismos
que desenvolvem uma estratégia cooperativista para a sobrevivência de todos.
Em
termos mais simples:
os seres humanos são meros resultados de uma "consciência amebóide
coletiva".
Assim como uma nação reflete as características de seus
cidadãos, nossa condição humana reflete a natureza de nossa comunidade celular.
Aprendendo com as Células
Estudando essas comunidades
celulares cheguei à conclusão de que não somos vítimas de nossos genes e sim
donos de nosso próprio destino, capazes de criar uma vida cheia de paz,
felicidade e amor.
A primeira cobaia dessa teoria fui eu mesmo, pois as pessoas
para quem eu dava palestras sempre me perguntavam por que minhas descobertas não
tinham me transformado em uma pessoa mais feliz.
E estavam certas.
Eu tinha de
colocar em prática meus próprios ensinamentos.
Só percebi que isso estava
acontecendo algum tempo depois, quando estava tomando café em uma lanchonete
numa bela manhã de domingo.
A garçonete comentou enquanto trazia meu pedido:
"Puxa, você é a pessoa mais feliz que eu já vi.
O que aconteceu de tão bom
em sua vida para você ficar assim?"
Quase caí da cadeira tão grande foi
minha surpresa, mas respondi sem pensar:
"Estou nas nuvens!"
A
garçonete balançou a cabeça e saiu murmurando "cada maluco que aparece por
aqui...".
Mas era verdade.
Eu estava muito feliz, como jamais havia estado
em minha vida.
Muitos leitores vão achar exagerado meu conceito de que a Terra
é o paraíso, pois a associação mais comum que fazemos de paraíso é a de moradia
da divindade e/ou dos que já morreram.
Como alguém pode dizer então que uma
cidade como Nova Orleans é uma extensão do paraíso?
Suas ruas estão cheia de
homens, mulheres e crianças vivendo como mendigos; o ar é tão poluído que nem
se pode ver as estrelas no céu à noite.
A água de seus rios é tão suja que
somente formas de vida "estranhas" podem existir ali.
Como chamar um
lugar desses de paraíso?
Como uma divindade pode viver em uma cidade assim?
E o
que este autor maluco chama de divindade?
Será que ele conhece alguma
pessoalmente?
A resposta para essas perguntas é: sim, acredito que vivemos no
paraíso.
Devo confessar que não conheço todas as divindades pessoalmente, pois
não conheço todos os seres humanos.
Afinal, são mais de seis bilhões!
Também
não conheço todos os membros dos reinos animal e vegetal.
Mas sei que todos
vocês fazem parte de um único ser: Deus.
Como disse Tim Taylor no seriado
"Tool time":
"Espera aí! Ele está dizendo que os seres humanos
são Deus?"
Sim... mas não sou o primeiro a fazer esse tipo de afirmação.
Está escrito na Gênese que somos feitos à imagem e semelhança de Deus.
Ninguém
diria que um cientista tão racional quanto eu acabaria citando mestres como
Jesus, Buda ou Rumi ou que minha visão reducionista da vida acabaria dando
lugar à espiritualidade.
Mas se somos realmente a imagem de Deus precisamos
colocar novamente o espírito na equação quando se trata de melhorar nossa saúde
física e mental.
Outro aspecto a ser revisto quando se trata de seres humano é
que não somos meras máquinas bioquímicas que podem recupera o equilíbrio físico e mental simplesmente tomando
medicamentos Remédios e cirurgias são ferramentas muito eficazes desde que
utilizados com cautela.
O conceito de que podem resolver todos os problemas
está errado.
Cada vez que um medicamento é introduzido no organismo para
corrigir um problema "A" acaba inevitavelmente causando um problema
"B", "C" ou "D".
E também não são os hormônios e
neurotransmissores, controlados pelos genes, que dirigem nossa mente, nosso
corpo e nossa vida, mas sim nossas crenças...
Sim, homens de pouca fé! São
nossas crenças que co-mandam nossa existência.
A Mente Consciente esta Muito
Alem da Mera Programação Genética
Ao escrever este livro, sinto-me
como se estivesse desenhando uma linha na areia, que divide a história da
humanidade.
De um lado está o neodarwinismo, que dispõe a vida como uma eterna
batalha entre robôs bioquímicos, e do outro está a "nova biologia",
que a considera uma jornada de cooperação entre indivíduos de vontade própria
que podem se programar para criar uma existência cheia de felicidade.
Ao cruzar
essa linha, passamos a entender claramente os conceitos da nova biologia,
encerrando definitivamente a polêmica sobre aquilo que é natural em nós ou que
herdamos de nossos pais.
Percebemos que a mente consciente está muito além da
mera programação genética.
Creio que neste momento vivenciamos uma mudança
profunda e pragmática em nosso modo de ver a vida, algo semelhante ao que
aconteceu quando o conceito de que a Terra era redonda substituiu todas as
crenças da época.
Aos leigos que estiverem preocupados imaginando que este
livro é muito técnico, aviso que podem ficar tranquilos.
Mesmo em minha fase
mais acadêmica, quando vivia de terno e gravata em intermináveis reuniões,
jamais deixei de fazer algo que adoro: lecionar.
E minha fase pós-acadêmica me
permitiu colocar em prática toda a minha experiência de professor, pois viajei
pelo mundo apresentando os princípios da nova biologia a centenas de pessoas.
Tive de adaptar meu conhecimento acadêmico e utilizar uma linguagem acessível a
todos com exemplos e ilustrações muito claros.
São os que utilizei neste livro.
O Capítulo 1 é sobre a "inteligência" das células e quanto das podem
nos ensinar a respeito de nossa mente e de nosso corpo.
O Capítulo 2 mostra as
evidências científicas de que os genes não controlam os seres vivos e apresenta
as fantásticas descobertas da epigenética, um novo campo da biologia que
desvenda os mistérios de como o ambiente (natureza) pode influenciar o
comportamento das células sem modificar o código genético.
É uma nova face da
ciência, que revela mais detalhes sobre o complexo sistema e estrutura das
doenças, incluindo o câncer e a esquizofrenia.
O Capítulo 3 é sobre a membrana
ou "pele" das células. Você já deve ter ouvido falar que o núcleo das
células contém DNA, mas talvez ainda não saiba sobre a membrana que as reveste.
A ciência hoje
pesquisa e revela detalhes sobre algo que eu já havia concluído 20 anos atrás:
que a membrana é o verdadeiro cérebro de toda a atividade celular.
O Capítulo 4
trata das descobertas da física quântica e seu impacto sobre a compreensão e o
tratamento das doenças.
Mas, infelizmente, a medicina tradicional ainda não a incorporou
às suas pesquisas ou mesmo à sua formação acadêmica, o que representa grandes
perdas tanto para a ciência quanto para a humanidade.
No Capítulo 5, explico
por que dei a este livro o nome de A biologia da crença.
Os pensamentos
positivos têm um efeito profundo sobre nosso comportamento e sobre nossos
genes, mas somente se estiverem em harmonia com nossa programação subconsciente
e o mesmo vale para os pensamentos negativos.
Quando entendemos como as crenças
positivas e negativas controlam nossa vida, podemos modificar esses padrões e
passar a ter mais saúde e felicidade.
O Capítulo 6 mostra que tanto as células
quanto as pessoas precisam crescer e se desenvolver e como o medo pode impedir
esse processo.
O Capítulo 7 é sobre a paternidade consciente.
Como pais,
precisamos entender o papel que desempenhamos na programação das crenças de
nossos filhos e o impacto destas crenças em sua vida.
Recomendo a leitura deste
capítulo mesmo a quem não tem filhos, pois um dia todos fomos crianças e
entender esse mecanismo é crucial mesmo agora que somos adultos.
No Epílogo,
explico como a nova biologia me fez perceber a importância da integração
espírito-ciência e como isso modificou radicalmente a visão agnóstica e
científica que eu tinha a respeito do mundo.
Você está pronto para usar sua
mente consciente e ter mais saúde, felicidade e amor sem a necessidade de
recursos da engenharia genética ou de medicamentos?
Está pronto para abrir sua
mente a uma realidade diferente daquela que foi criada pelos modelos médicos,
considerando o corpo humano uma simples máquina bioquímica?
Não se preocupe.
Não estou apresentando um produto novo ou uma nova religião.
E apenas um
convite para que você deixe de lado por alguns instantes todas as crenças
impostas pela mídia e pela ciência tradicional para vislumbrar o universo que
se abre à sua frente com as descobertas da nova ciência.
LIPTON, Bruce H. A biologia da
crença. São Paulo: Butterfly, 2007.Ciência e espiritualidade na mesma sintonia:
o poder da consciência sobre a matéria e os milagres Tradução Yma Vick , p.
11-16.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
“Deixe aqui um comentário”