Mensagem da árvore
Eros
O aprendiz da vida sentia-se cansado.
Em toda parte havia experimentado a incompreensão alheia e a
dor se lhe agasalhava na alma.
Pelos caminhos percorridos suportara as dificuldades,
padecendo pedradas morais e sarcasmos.
Se sorria, era tido por tolo; quando se recolhia à
meditação, era apontado como alienado.
Os dias constituíam-lhe desafios difíceis e as noites se
transformavam em períodos insones de amargas reflexões.
As aparentes alegrias, quais rosas exuberantes, ocultavam
espinhos que o picavam.
Foi numa dessas reflexões angustiosas, que se deu conta das
próprias dores e planejou desistir...
Atraído por uma árvore frondosa e bela, recolheu-se à sua
sombra e, porque se sentisse vencido, pensou em dar cabo da própria vida.
Enquanto planejava o desatino, pareceu escutar a voz da
árvore altaneira, que lhe disse:
“ - Amigo, ouve-me!
À tua semelhança, cresci suportando
dificuldades.
Quando era frágil temi morrer mil vezes, esmagada ou arrancada,
sem vitalidade nem confiança no futuro.
A vida, que em mim pulsava, lentamente enrijou-me o lenho,
fazendo-me dobrá-lo quando rugiam as tormentas, a fim de não sucumbir, logo
refazendo a postura e insistindo com coragem.
O desdobrar dos ramos atraiu aves que se aninharam em meus
braços buscando amparo.
Vendavais inesperados feriram-me,arrancando-me galhos e
ameaçando-me o tronco.
Raios perigosos caíram próximos de mim, abalando-me
profundamente até às raízes.
Quando comecei a florir e frutescer, desocupados
apedrejaram-me sem consideração nem piedade, numa fúria cruel.
O sol queimou-me por longos períodos e a chuva encharcou-me
vezes sem conto...
Passada cada estação recompunha-me sem desânimo, confiando
na vida.
Partes de mim foram retiradas e hoje adornam vários lares.
Dilaceraram-me com machados afiados, serras elétricas,
plainas e pequenos canivetes abrem-me letras que cicatrizam no meu tronco...
É possível que, um dia, arranquem-me daqui e me transformem
em tábuas ou vigas fortes e os meus ramos frágeis se tornem combustíveis.
Eu,
todavia, esperarei, confiando na vida e tudo fazendo para prosseguir até que
termine o meu ciclo e retorne ao solo amigo, donde emergi, sabendo que as
minhas sementes permanecerão repetindo a minha experiência por tempos sem fim.
Medita, amigo, e bendize as tuas dilacerações, prosseguindo
até o momento em que a libertação natural te chegue e te faça voar nas asas do
vento, no rumo do infinito.”
O homem, que invejava a árvore e queria utilizá-la para
destruir o corpo, meditou, sorriu, agradeceu a mensagem oportuna e retomando o
ânimo, saiu confiante, seguindo adiante, sem mais reclamar.
FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Eros. Do livro Em
algum lugar do futuro, 2.ed, 1987, p. 07-08.
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