A Visão De Cada Um
Momento Espírita
Dois homens muito doentes ocupavam uma mesma enfermaria em
um grande hospital.
Sua única comunicação com o mundo de fora era uma janela.
Um
deles tinha a sua cama perto da janela e, todos os dias, tinha permissão para
se sentar em sua cama, por algumas horas.
Tudo como parte do tratamento dos
pulmões.
*
O outro, cuja cama ficava no lado oposto do pequeno cômodo,
ficava o dia todo deitado de barriga para cima.
Todas as tardes, quando o homem, cuja cama ficava perto da
janela, era colocado sentado, ele passava a descrever para o companheiro de
quarto o que havia lá fora.
Falava do grande parque, cheio de grama verde, de árvores
frondosas e flores mais além, em canteiros bem cuidados.
Descrevia o lago, onde havia patos e cisnes.
Falava das
crianças que jogavam migalhas de pão para as aves e dos barcos de brinquedo que
coloriam as tardes de verão.
*
Falava dos casais de namorados que passeavam de mãos dadas
entre as árvores, dos jogos de bola muito disputados entre a criançada.
Dizia que, bem além da linha das árvores, ele podia ver um
pouco da cidade, o contorno dos altos prédios contra o azul do céu.
*
O homem deitado somente escutava e escutava.
Houve um dia em
que ouviu, preocupado, o caso de uma criança que quase caiu no lago, sendo
salva a tempo por sua mãe.
*
Num outro dia, a descrição minuciosa foi a respeito dos
lindos vestidos das moças que saudavam a primavera em flor.
O homem deitado quase podia ver o que o outro descrevia,
tantos eram os detalhes e a emoção do companheiro sentado.
E, aos poucos, foi
se tomando de inveja.
*
Por que somente o outro, que ficava perto da janela, podia
ter aquele prazer?
Por que ele também não podia ter aquela mesma oportunidade?
*
Enquanto assim pensava, mais se envergonhava e, no entanto,
não conseguia evitar que tais pensamentos o atormentassem.
*
Certa noite, enquanto estava ali olhando para o teto, como
sempre, percebeu que o outro começou a passar mal.
Acordou tossindo, parecendo
sufocar.
*
Com desespero, o botão de emergência foi acionado.
As
enfermeiras correram.
O médico veio.
Nova aparelhagem respiratória foi
providenciada.
Mas, tudo em vão.
O homem morreu.
*
Pela manhã, seu corpo sem vida foi retirado dali.
Então, o
homem que permanecia sempre deitado, pediu para que o colocassem na cama do
outro, próximo da janela.
*
Logo que assim foi feito e a enfermeira saiu do quarto, ele
fez um grande esforço, apoiou-se sobre o cotovelo, na tentativa de se erguer no
leito.
*
A dor era intensa mas ele insistiu.
Com muita dificuldade,
ele olhou pela janela e viu... apenas um enorme, alto e feio muro de pedras
nuas.
* * *
A vida tem o colorido que a pessoa lhe dá.
A paisagem se
torna cinzenta ou plena de luz de acordo com as lentes de que se serve a pessoa
para olhá-la.
Sofrer a enfermidade e se fechar na dor ou enfeitar de vivas
cores o quadro que vive, é opção individual.
Há os que sofrem pouco e se desesperam, aumentando sua carga
de dissabores, com as lentes escuras e sombrias de que se servem para
contemplar tudo e todos.
Há os que sofrem muito e se dizem tranquilos, padecendo
serenos.
Redação do Momento Espírita, com base no texto A visão de cada
um, de autoria desconhecida. Disponível no livro Momento Espírita, v. 1, ed.
FEP.Disponível em www.momento.com.br.