sábado, agosto 17, 2019

A Visão De Cada Um - Momento Espírita







A Visão De Cada Um

Momento Espírita



Dois homens muito doentes ocupavam uma mesma enfermaria em um grande hospital.


Sua única comunicação com o mundo de fora era uma janela. 


Um deles tinha a sua cama perto da janela e, todos os dias, tinha permissão para se sentar em sua cama, por algumas horas. 


Tudo como parte do tratamento dos pulmões.

*

O outro, cuja cama ficava no lado oposto do pequeno cômodo, ficava o dia todo deitado de barriga para cima.


Todas as tardes, quando o homem, cuja cama ficava perto da janela, era colocado sentado, ele passava a descrever para o companheiro de quarto o que havia lá fora.


Falava do grande parque, cheio de grama verde, de árvores frondosas e flores mais além, em canteiros bem cuidados.


Descrevia o lago, onde havia patos e cisnes. 


Falava das crianças que jogavam migalhas de pão para as aves e dos barcos de brinquedo que coloriam as tardes de verão.

*

Falava dos casais de namorados que passeavam de mãos dadas entre as árvores, dos jogos de bola muito disputados entre a criançada.

Dizia que, bem além da linha das árvores, ele podia ver um pouco da cidade, o contorno dos altos prédios contra o azul do céu.

*
O homem deitado somente escutava e escutava. 


Houve um dia em que ouviu, preocupado, o caso de uma criança que quase caiu no lago, sendo salva a tempo por sua mãe.

*

Num outro dia, a descrição minuciosa foi a respeito dos lindos vestidos das moças que saudavam a primavera em flor.


O homem deitado quase podia ver o que o outro descrevia, tantos eram os detalhes e a emoção do companheiro sentado. 


E, aos poucos, foi se tomando de inveja.

*

Por que somente o outro, que ficava perto da janela, podia ter aquele prazer? 


Por que ele também não podia ter aquela mesma oportunidade?

*

Enquanto assim pensava, mais se envergonhava e, no entanto, não conseguia evitar que tais pensamentos o atormentassem.

*
Certa noite, enquanto estava ali olhando para o teto, como sempre, percebeu que o outro começou a passar mal. 


Acordou tossindo, parecendo sufocar.

*

Com desespero, o botão de emergência foi acionado. 


As enfermeiras correram. 


O médico veio. 


Nova aparelhagem respiratória foi providenciada. 


Mas, tudo em vão. 


O homem morreu.

*
Pela manhã, seu corpo sem vida foi retirado dali. 


Então, o homem que permanecia sempre deitado, pediu para que o colocassem na cama do outro, próximo da janela.

*
Logo que assim foi feito e a enfermeira saiu do quarto, ele fez um grande esforço, apoiou-se sobre o cotovelo, na tentativa de se erguer no leito.

*
A dor era intensa mas ele insistiu. 


Com muita dificuldade, ele olhou pela janela e viu... apenas um enorme, alto e feio muro de pedras nuas.

*   *   *

A vida tem o colorido que a pessoa lhe dá. 


A paisagem se torna cinzenta ou plena de luz de acordo com as lentes de que se serve a pessoa para olhá-la.


Sofrer a enfermidade e se fechar na dor ou enfeitar de vivas cores o quadro que vive, é opção individual.


Há os que sofrem pouco e se desesperam, aumentando sua carga de dissabores, com as lentes escuras e sombrias de que se servem para contemplar tudo e todos.


Há os que sofrem muito e se dizem tranquilos, padecendo serenos.




Redação do Momento Espírita, com base no texto A visão de cada um, de autoria desconhecida. Disponível no livro Momento Espírita, v. 1, ed. FEP.Disponível em www.momento.com.br.

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