sábado, maio 16, 2020

Travessias - César Braga Said




Travessias

César Braga Said


Eu não quero mais a morte
Tenho muito que viver
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver
(F. Brant/ Milton Nascimento)




A vida é repleta de travessias, “momentos-limite”, fases delicadas em que precisamos extrair forças das nossas próprias entranhas.


Forças que ignoramos e julgamos não ter. 


Nessas horas, nem sempre é fácil sorrir, enxugar as lágrimas e seguir...


São instantes em que a nossa fé e a nossa resistência são testadas, postas à prova, desafiando a nossa coragem e a perseverança.


Nas travessias saímos de um para outro lugar, vivendo a mudança e a incerteza, a dor e a apreensão, individual e coletivamente, num misto de amargura e de esperança.


Elas nos viram pelo avesso, mas nos apresentam a versões desconhecidas de nós mesmos.


Podem ser curativas de aspectos doentios, conscientes ou não, que conduzimos desde a nossa infância ou de eras remotas.


Muitas vezes geram descobertas surpreendentes, deixando como herança não apenas dor e cicatrizes, mas também desapego, resiliência e sabedoria.


Que consigamos “atravessar” o que for preciso:


Pontes.


Avenidas.


Rios.


Mares.


Atalhos.


Florestas.


Enfermidades...


Sem esquecermos que a mais difícil travessia é a de “nós a nós mesmos”. 


Ela está dentro e não fora de nós.


É fazer a cartografia dos nossos espaços internos conhecendo cavernas, vales estreitos, desertos, montanhas altaneiras, enseadas tranquilas, bosques perfumados e até constelações fascinantes.


E quando o cansaço chegar?


Será o momento de fazermos uma pausa dessa jornada nos oásis das amizades verdadeiras, recuperando as energias, abastecendo-nos com esses sentimentos puros e delicados, tecidos com o tempo e a ternura, a fim de prosseguirmos mais plenos até a meta final. 


Cezar Braga Said

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