segunda-feira, março 15, 2021

16-GRÃOS DA VERDADE - Casimiro Cunha

 


16-GRÃOS DA VERDADE

Casimiro Cunha

 

Se pretendes grande prêmio,


Bela vida e boa fama,


Não te faças tagarela,


Nem te demores na cama.


Suporta com paciência


As dores de teu roteiro.


Mais vale a senda espinhosa


Que as mãos de mau companheiro.


Dois dardos arremessamos,


Lacerando o coração:


– O insulto que sai da boca


E a pedra que sai da mão.


Não publiques teu desgosto


Por mais humilde e singelo.


Quando o touro cai na praça


Alguém afia o cutelo.


Cultiva o silêncio amigo.


O tolo que cerra os lábios


Pode ser admitido


Como sábio entre os mais sábios.


Se procuras a alegria,


Sonhando dias serenos,


Pensa muito na jornada,


Fala pouco e escreve menos.


No serviço construtivo,


Guarda a vida bem segura.


Meio palmo de preguiça


Traz dez léguas de amargura.


Quem adota por sistema


Cerimônia e condição,


Começa gozando a paz


E acaba na solidão.


Haja pranto na bigorna,


Haja aspereza no malho,


Ergue o corpo cada dia


Para a bênção do trabalho.


De opiniões tresloucadas


Não te percas ao sussurro.


O burro que vai a Roma


Segue asno e volta burro.


A caridade cortês,


Desconhecida no céu,


Costuma esconder a bolsa


E arregaçar o chapéu.


Quem foge à paz e à bondade


Semeia discórdia e treva.


Toda obra sem amor


É folha que o vento leva.

 

XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Gotas de luz. Rio de Janeiro: FEB, ed.9 , 1.994. Cap. 16,p.27-28.

 

 

 

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