2-A ARANHA
Casimiro Cunha
Geralmente, em toda parte, no ângulo mais sombrio dos recantos desprezados, vem a aranha e tece o fio.
Escura, silenciosa, atendendo ao próprio instinto, seja dia, seja noite, vai fazendo o labirinto.
Por manter o enorme enredo, insiste e nunca esmorece, condenar-se por si mesma é seu único interesse.
Desdobrando movimentos nos impulsos insensatos, pratica perseguições, multiplica assassinatos.
Insetos despreocupados, na ilusão cariciosa, transformam-se em prisioneiros da pequena criminosa.
Satisfeita, a aranha escura.
Prossegue na horrenda lida, nos venenos que segrega traz a morte e suga a vida.
Mas um dia, o espanador, na luta material, vem e arranca essa infeliz das teias de horror do mal.
A aranha, porém, não cede, com teimosia e com arte, foge ao bem que se lhe fez, e vai tecer noutra parte.
Quem medita na conduta dessa aranha renitente, encontra a cópia fiel da vida de muita gente.
A muitos presos do engano, Deus envia a dor e as provas; Mas, depois de liberdade, Vão prender-se em redes novas.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha.Cartilha da natureza.São Paulo/SP:Butterflay Ltda,2002, ed.1. Cap 2, p.3.
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