FINADOS E REENCARNADOS
Cornélio Pires
Caro Armando, recebi
Os bilhetes e os recados;
Você deseja notícias
De alguns dos nossos finados.
Entendo. Finados hoje
Para nós, é a comitiva
Dos irmãos fora da Terra,
Gente morta sendo viva.
Não posso dar muitas notas
De sentido mais profundo,
Falarei de alguns amigos
Já reencarnados no mundo.
As vezes, nos cemitérios,
A gente chora na campa
De amados que já voltaram
Para a Terra, em nova estampa.
Você recorda Nhô Zeca
Que liquidou João Matula?
João voltou à casa dele,
É o netinho que ele adula.
Por causa de Frederico,
Suicidou-se o Tonho Prata,
Tonho, porém, renasceu...
É o bisneto que o maltrata.
Outro suicídio, o de Délio
Que morreu por Lia Benta...
Délio tomou novo berço,
É o filho que ela amamenta.
Por ambição, Carlomanho
Arrasou com Dona Luna;
Ela nasceu neta dele,
A fim de herdar-lhe a fortuna.
Tino e Rita promoveram
A morte de Adão Ramalho;
Adão renasceu com eles,
Trazendo imenso trabalho.
Nhô Téo acabou com Joana
Ao não querê-la por nora,
Mas Joana já reencarnou...
É a netinha que ele adora.
Morreram dois inimigos:
Tião e Juca da Barra...
Agora nasceram Gêmeos,
Vieram irmãos na marra.
Desencarnado, Nhô Gino
Que falava mal de tudo,
Pediu corrigenda a Deus,
Em seguida, nasceu mudo.
Nosso assunto é isto aí...
Recordação de finados
É a vida em torno da vida
Que se expressa por dois lados.
Enquanto estamos na Terra,
Para dizer o que posso,
Muita vez, a gente reza
Em campo que já foi nosso.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Cornélio Pires, Baú de casos. São Paulo: Ideal.
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