Ismael: o Anjo do Brasil
Aluizio Elias
“Somos forçados a reconhecer
que Ismael vence sempre” – Humberto de Campos
*
No livro Crônicas de Além-Túmulo, ditado por Humberto de Campos e psicografado por Chico Xavier, existe um capítulo muito curioso intitulado Pedro, o apóstolo.
Digo curioso
porque nos apresenta um encontro inesperado entre o autor do livro e a figura
apostólica em uma praça no centro de Belo Horizonte.
O que se dá em seguida ao encontro é uma entrevista cheia de lições de sublime sabedoria.
Pedro responde ao repórter de além-túmulo com desassombro, comentando os mandos e desmandos de nossa tradição religiosa judaico-cristã.
A certa altura do luminoso bate-papo, Humberto faz a pergunta fundamental, o óbvio inusitado:
Qual o vosso objetivo, atualmente, no Brasil?
Ao que Pedro responde sem titubear:
Venho visitar a obra
do Evangelho aqui instituída por Ismael, filho de Abraão e de Agar.
Este trecho, geralmente, passa despercebido pelo leitor desavisado.
Mas a verdade é que, nesta resposta, está contida toda uma diretiva sobre o destino e o compromisso da nação brasileira junto aos povos de todos os continentes.
A afirmativa de Pedro explica o Brasil; evidencia nossas fragilidades, vícios e, igualmente, nossas maiores virtudes civilizatórias.
Mas, para isso, é preciso aproximar-se do
texto bíblico com um intento exegético genuíno e perguntar: quem são Abraão e
Agar?
No livro Gênesis, uma das obras do pentateuco mosaico, encontramos a narrativa sobre a vida familiar do patriarca Abraão.
Casado com Sahra (ou Saraí), o casal não conseguia gerar um herdeiro para o clã, ato vital para a manutenção de seu patriarcado.
Mas a poligamia era algo comum na cultura da época, por isso, Sahra entregou a Abraão uma de suas servas, a egípcia Agar, para que ambos tivessem um filho juntos.
A
ideia de Sahra era que, sendo a serva sua propriedade, o filho do casal também
seria.
Mas Agar, após o parto, passou a entrar em atrito constante com a sua senhora.
O filho de Agar era benquisto por Abraão, que o amava e o acolhia.
A situação de convívio se agravou quando Sahra também ficou grávida e, meses depois, entregou a Abraão o seu primogênito legítimo; aquele que, sendo filho biológico de Sahra, herdaria o patriarcado e a liderança do clã.
Temendo que o filho de Agar viesse a representar uma futura dor de cabeça para a herança de seu filho Isaac, Sahra exigiu que Abraão expulsasse Agar e a criança.
Os dois, então, a egípcia e o
seu filho, foram entregues à aridez do deserto com apenas um odre de água nas
mãos.
Ali, no deserto, a água se esgotou, logo, Agar se viu entregue ao destino ingrato.
Deixou a criança sob a sombra de um arbusto e aguardou a morte inevitável para os dois.
Mas a criança chorou e gritou a todo pulmão.
Deus ouviu seu clamor e enviou um anjo para socorrê-los.
Por isso, o menino passou a se chamar Ismael — traduzido
literalmente como Deus ouviu.
Não por acaso, o menino cresceu forte e tomou para si a responsabilidade de conduzir os povos do deserto.
Em ambiente mais hostil, mais árido e inóspito, Ismael acolheu os peregrinos fatigados em sua tenda, deu conforto e segurança ao que sucumbiu quando errava sem rumo e fatigado.
Foi por esse povo aflito e sem esperança que Ismael clamou em alta voz.
E Deus ouviu a prece do justo em favor de seus
irmãos, enviando a sua Divina Providência.
Natural que o Cristo de Deus tenha confiado a esse espírito a tutela da nação brasileira.
O Brasil é a grande tenda de Ismael.
O lugar santo onde o bom anjo acolhe os peregrinos que caminham trôpegos pelo deserto da vida.
Espíritos perdidos, desesperados e de consciência atormentada encontraram em nosso país o conforto da hospitalidade fraternal, porque Ismael cumpre, nessas terras, a premissa de vinde a mim vós que estais cansados.
Ele eleva sua misericórdia até o alto e clama por socorro, ora em nosso benefício, advoga em nossa causa.
E Deus, mais uma vez, ouve o brado
dulcíssimo do anjo bom.
Muitos espíritos que rivalizam com as falanges de Jesus não se sentem confortáveis com o efeito regenerativo que esse acolhimento tem sobre aqueles que se entregam à generosidade da falange ismaelita.
A obra de Ismael no Brasil, desde as
primeiras horas da civilização brasileira, sofreu, e ainda sofre, as investidas
daqueles que ainda “dormem”.
Mas os temporais chegam e passam…
E a tenda do anjo permanece firme em seu tríplice pilar:
Deus, Cristo e caridade.
A tradição bíblica já afirmara em Gênesis que seus inimigos não prevaleceram sobre ele.
O compromisso de Ismael é com uma nação de náufragos espirituais; sua obra é, portanto, a caridade estendida aos pecadores de todas as eras e reinos.
Sua ação no Brasil é um empreendimento amoroso; e o amor tudo pode.
Aliás, nesse sentido dispõe Humberto de Campos no capítulo 29 do livro Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho:
Somos forçados a reconhecer que
Ismael vence sempre.
Fonte
PAULO DE
TARSO.ORG.BR.Disponivel em <
https://www.paulodetarso.org.br/anjo-ismael/>.
Acesso 29 Out 2022.
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