Falemos de Carnaval
Jorge
Hessen
Raciocinemos
sobre o tal Carnaval, um termo oriundo de uma festa romana e egípcia em
homenagem ao Deus Saturno, quando carros alegóricos (a cavalo) desfilavam com
homens e mulheres.
Eram
os carrum navalis, daí a origem da palavra “carnaval”.
Há
quem interprete a palavra conforme as primeiras sílabas das palavras da frase:
carne nada vale.
Como
festa popular, poderia ser um acontecimento cultural plausível, não fossem os
excessos cometidos em nome da alegria.
*
Nesses
períodos os carnavalescos alucinados surgem de todos os (re)cantos para caça da
contraversão da ética. Para muitos são longas as estações de dias e noites para
as preparações do delírio insano dos três dias de fantasias.
Vários incautos esfolam as finanças familiares
para experimentar o encanto efêmero de curtir dias de completa paranoia.
Adolescentes
e marmanjos se abandonam nas arapucas pegajosas das drogas lícitas e ílícitas.
Não
compreendem que bandos de malfeitores do além (obsessores) igualmente colonizam
as avenidas das escolas de samba num lúgubre show de bizarrices.
Celerados das escuridões espirituais se
acoplam aos bobalhões fantasiados pelos condutores invisíveis do pensamento, em
face dos entulhos concupiscentes que trazem no mundo íntimo.
*
Sobrevém
uma permuta vibratória em todos e em tudo.
Os
espíritos das brumas umbralinas se conectam aos escravos de momo descuidados,
desvirtuando-os a devassidões deprimentes e jeitos grotescos de deploráveis
implicações morais.
Tramas
tétricas são armadas no além-tumba e levadas a efeito nessas oportunidades em
que momo impera dominador sobre as pessoas que se consentem despenhar na festa
medonha.
*
Enquanto
olhos embaciados dos foliões abrangem o fulgor dos refletores e das fantasias
brilhantes (inspirações ridículas impostas pelos malfeitores habitantes das
províncias lamacentas do além túmulo), nas avenidas onde percorrem carros
alegóricos (que, pasmem! já até transportou a efígie do Chico Xavier sob
aplausos de omissos líderes espíritas), a visão dos espíritos observa o recinto
espiritual envolto em carregadas e sombrias nuvens cunhadas pelas oscilações de
baixo teor mental.
*
Os
três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas
reparações.
É
bom pensarmos um pouco nisso: o que o carnaval traz ao nosso Espírito?
Alegria?
Divertimento?
Cultura?
É
de se perguntar: será que vale a pena pagar preço tão elevado por uns dias de
desvario grupal?
*
Quando
se pretende alcançar essa alegria, através do prazer desregrado e dos excessos
de toda ordem, o resultado é a insatisfação íntima, o vazio interior provocado
pelo desequilíbrio moral e espiritual.
Portanto,
não fossem os exageros, o Carnaval, como festa de integração sócio-racial,
poderia se tornar um acontecimento compreensível, até porque não admitir isso é
incorrer em erro de intolerância.
Porém,
para os espíritas merece reflexão a advertência de André Luiz:
“Afastar-se de
festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval,
inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou
manifestações exteriores espetaculares.
A verdadeira alegria não foge da
temperança.” (1)
*
A
efervescência momesca é episódio que satura, em si, a carga da barbárie e do
primitivismo que ainda reina entre nós, os encarnados, distinguidos pelas
paixões do prazer violento.
Costuma
ser chamado de folia, que vem do francês folle, que significa loucura ou
extravagância.
Nos dias conturbados de hoje, sabe-se que
“(…) de cada dez
casais que caem juntos na folia, sete terminam a noite brigados (cenas de ciúme
etc); que, desses mesmos dez casais, posteriormente, seis se transformam em
adultério, cabendo uma média de três para os homens e três para as mulheres
(por exemplo); que, de cada dez pessoas (homens e mulheres) no carnaval, pelo
menos sete se submetem espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu
dia a dia, como álcool, entorpecente etc.
Dizem,
ainda, que tudo isso decorre do êxtase atingido na Grande Festa, quando o
símbolo da liberdade, da igualdade, mas, também, da orgia e depravação, somadas
ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal (…)”
(2)
*
O
Espírito Emmanuel adverte:
“Ao
lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as
crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras.
(…)
Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e
de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem.”(3)
*
Como
proferi supra, nesse panorama, os obsessores “influenciam os incautos que se
deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis,
comuns por essa época do ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos,
se locupletam de todos os gozos e desmandos materiais, valendo-se, para tanto,
das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo,
aos quais se agarram.” (4)
*
Portanto,
além da companhia de encarnados, vincula-se a nós uma inumerável legião de
seres invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa de
sintonia em que nos encontremos.
As
tendências ao transtorno comportamental de cada um, e a correspondente
impotência ou apatia em vencê-las, são qual imã que atrai os espíritos
desequilibrados e fomentadores do descaso à dignidade humana, que, em suma, não
existiriam se vivessemos no firme propósito de educar as paixões instintivas
que nos animalizam.
*
Será
racional fechar as portas dos centros espíritas nos dias de Carnaval, ou mudar
o procedimento das reuniões?
Existem
alguns centros que fecham suas portas nos feriados do carnaval por vários
motivos não razoáveis.
Repensemos:
uma pessoa com necessidades imediatas de atendimento fraterno, ou dos recursos
espirituais urgentes em caso de obsessão, seria fraterno fazê-la esperar para
ser atendida após as “cinzas”, uma vez ocorrendo essa infelicidade em dia de
feriado momesco?
*
Os
foliões crônicos declaram que o carnaval é um extravasador de tensões,
“liberando as energias”…
Entretanto,
no carnaval não são serenadas as taxas de agressividade e as neuroses.
O
que se observa é um somatório da bestialidade urbana e de desventura doméstica.
Aparecem
após os funestos três dias as gravidezes indesejadas e a consequente
proliferação de assassinatos de intrusos bebês nos ventres, incidem acidentes
automobilísticos, ampliação da criminalidade, estupros, suicídios, aumento do
consumo de várias substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o
aparecimento de novos viciados, dispersão das moléstias sexualmente
transmissíveis (inclusive a AIDS) e as chagas morais, assinalando, densamente,
certas almas desavisadas e imprevidentes.
*
O
carnaval edifica o nosso Espírito?
Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a
participação nas festas de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal
acarreta à nossa integridade fisiopsicoespiritual.
No
entanto, por detrás da aparente alegria e transitória felicidade, revela-se o
verdadeiro atraso espiritual em que ainda vivemos pela explosão de animalidade
que ainda impera em nosso ser.
É
importante lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão, recreação ou
entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, alguns verdadeiros meios de
alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha.
*
Não
vemos, por fim, outro caminho que não seja o da “abstinência sincera dos
folguedos”, do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias,
empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo; o
entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes
instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais,
culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia a dia exige,
cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológica para os embates pela
sobrevivência.
*
Somente
poderemos garantir a vitória do Espírito sobre a matéria se fortalecermos a
nossa fé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos
evangélicos, propostos por Jesus Cristo.
Referências
bibliográficas:
(1) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado
pelo Espirito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 “Perante As
Fórmulas Sociais”.
(2) São José Carlos Augusto. Carnaval:
Grande Festa…De enganos! , Artigo publicado na Revista Reformador/FEB-Fev 1983.
(3) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o
Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação
da FEB fevereiro/1987.
(4) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível,
Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998.
Fonte
PARA LER E PENSAR . Disponível em https://www.paralerepensar.com.br/paralerepensar/texto.php?id_publicacao=27739. Acesso: 19 FEV 2023.
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