No Momento de Julgar
Emmanuel
No momento de julgar alguém, como poderás julgar esse alguém, de todo, se não conheces tudo?
Terá sucedido um crime, estarrecendo a multidão.
Suponhamos que um homem desequilibrado haja posto uma bomba em certa casa, no intuito de destruir-lhe os moradores.
Entretanto, por trás dele estão aqueles que fabricaram o engenho mortífero;
os que o conservaram para utilização em momento oportuno;
os outros que lhe identificaram o perigo, aprovando-lhe a existência;
e aqueles outros ainda que, indiferentes,lhe acompanharam o fogo no estopim, se a mínima disposição de apagá-lo.
De que maneira medirias o remorso do espírito de um homem assassinado, na hipótese desse mesmo assassinado haver provocado o seu contendor até que o antagonista lhe furtasse o
corpo, num instante de insanidade?
E como observarias o pesar do semelhante, à vezes, ilhado no fundo de uma penitenciária, na posição de um vivo-morto, quando o imaginado morto permanece vivo?
E com que metro verificarias o sofrimento de um e outro?
Com que pancadas ou palavras agressivas conseguirias punir, durante algumas horas, a criatura menos feliz que já carrega em si o tormento da culpa, à feição de suplício que lhe atenaza o coração, noite e dia?
Ante a queda moral de alguém, é mais razoável entrarmos para logo no assunto, na condição de partícipes dela, antes que nos alcemos à indébita função de censores.
Não precisaríamos tanto de justiça, se não praticássemos a injustiça e nem tanto de medicina se não tivéssemos doença.
Necessitaríamos, porventura, na Terra, de tantas e tão multiplicadas lições, em torno do bem, se o mal não nos armasse riscos, quase que em todas as direções do Planeta?
E onde estão aqueles que estejam usufruindo a glória da instalação segura no bem, sem o prejuízo de algum mal, ou aqueles outros que atravessam os espinheiros do mal, sem a vantagem de algum bem?
No momento de julgar, peçamos a Inspiração da Providência Divina para os magistrados que as circunstâncias vestiram com a toga, a fim de que acertem, nas suas decisões, em louvor do equilíbrio geral, porquanto é tão delicado o encargo de juiz chamado a interferir no corpo da ordem social, quão difícil é a tarefa do cirurgião convocado para interferir no corpo físico.
E quanto a nós outros, os que não somos trazidos a sentenças de lei, já que não nos achamos compromissados para isso, usemos a sobriedade e a compaixão em todos os nossos processos de vivência pessoal no cotidiano, conscientes, quanto devemos estar, de que os justos são as âncoras dos injustos e de que os bons constituem a esperança para todos aqueles que a maldade ensandece.
No momento de julgar, ainda que te coloquem no último banco, entre os últimos réus, e mesmo que se te negue o direito de defender a própria consciência edificada e tranquila, a ninguém condenes, nem mesmo àqueles que, porventura, te condenem.
Usa sempre a misericórdia e acertarás.
XAVIER, Francisco Candido; PIRES, Herculano. Chico Xavier pede licença.
Espíritos Diversos, Cap 1.
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