sábado, novembro 02, 2024

Finados - Dia dos Vivos Richard Simonetti

 


Finados - Dia dos Vivos

Richard Simonetti

 

Antigas culturas orientais pranteavam o nascimento e festejavam a morte, partindo de dois princípios:

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Nascer é iniciar uma jornada de dores e atribulações, enfrentando longo degredo neste vale de lágrimas.

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Morrer é desvencilhar-se das amarras e ganhar a amplidão.

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São perfeitamente compatíveis com a Doutrina Espírita, que nos fala da reencarnação como uma experiência difícil, complicada, mas necessária, no estágio de evolução em que nos encontramos.

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 É, digamos, uma materialização a longo prazo, uma armadura de carne que vestimos, a limitar nossas percepções.

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 Ligação tão íntima, tão entranhada, que o corpo passa a integrar nossa alma, como um apêndice, colocando-nos em contato com vicissitudes como a dor, o desajuste, a doença, a senilidade, próprios dos seres biológicos, a se acentuarem na medida em que se desgastam suas células.

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Por outro lado, o esquecimento das experiências anteriores gera boa dose de insegurança. 


O reencarnante situa-se perdido no presente, a caminhar para o futuro sem o referencial do passado.

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E há, ainda, o contato com pessoas e situações que dizem respeito ao pretérito, envolvendo afetos e desafetos. 


Estará às voltas com sentimentos gratuitos e contraditórios de simpatia e antipatia, afeto e desafeto, amor e ódio, envolvendo gente de seu relacionamento, particularmente os familiares.

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Isso tudo é necessário, uma contingência evolutiva.

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A carne é a lixa grossa que desbasta nossas imperfeições mais grosseiras.

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O esquecimento do passado é a bênção do recomeço, a fim de que possamos superar paixões e fixações que precipitaram nossos fracassos no pretérito.

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 A convivência com afetos e desafetos de vidas anteriores é a oportunidade de consolidar afeições e desfazer aversões.

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Mas… enfrentar tudo isso em estado de amnésia, sem a mínima noção do por que dessas experiências!… Barra pesada!

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A literatura psíquica nos dá notícia das angústias do Espírito, quando se prepara para o mergulho na carne, considerando suas próprias limitações e as dificuldades inerentes à jornada humana.

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Em O Livro dos Espíritos, há a questão 341:




 Pergunta Kardec:

Na incerteza em que se vê, quanto às eventualidades do seu triunfo nas provas que vai suportar na vida, tem o Espírito uma causa de ansiedade antes da sua encarnação?


Responde o mentor:

De ansiedade bem grande, pois que as provas da sua existência o retardarão ou farão avançar, conforme as suporte.

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No livro Nosso Lar, psicografia de Francisco Cândido Xavier, André Luiz reporta-se à ansiedade de Laura, nobre senhora que se preparava para reencarnar.


Não obstante seus incontáveis méritos, encarava com apreensão o mergulho na carne.


E comenta com o Ministro Genésio, um benfeitor espiritual:


  – Tenho solicitado o socorro espiritual de todos os companheiros, a fim de manter-me vigilante nas lições aqui recebidas. Bem sei que a Terra está cheia da grandeza divina.

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 Basta recordar que o nosso Sol é o mesmo que alimenta os homens; no entanto, meu caro Ministro, tenho receio daquele olvido temporário em que nos precipitamos. Sinto-me qual enferma que se curou de numerosas feridas… Em verdade, as úlceras não mais me apoquentam, mas conservo as cicatrizes.

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 Bastaria um leve arranhão, para voltar à enfermidade.

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 Laura reporta-se àquele que talvez seja o maior problema do Espírito reencarnado – a reincidência. Tornar aos mesmos enganos do passado.

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Nas reuniões mediúnicas é comum o contato com Espíritos que simplesmente refugam as oportunidades de reencarnar, alegando que estão muito bem e não se sentem dispostos a enfrentar o mergulho nas incertezas da carne.

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Embora tenham que fazê-lo, mais cedo ou mais tarde, resistem o quanto podem.

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Em face disso tudo, amigo leitor, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que reencarnar é complicado.

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Já desencarnar é o alijar da armadura, a retomada das percepções, o reencontro com os afetos caros.

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É o retorno à amplidão, uma celebração da Vida em plenitude, sem as limitações humanas.

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Se desencarnarmos levando um mínimo de vitórias, na luta contra nossas   imperfeições, se algo fizemos em favor do bem comum, combatendo o egoísmo; se aprendemos a conjugar os verbos amar, perdoar, compreender, na vivência do Evangelho, então seremos muito bem amparados, e nos situaremos felizes como o viajor que finalmente retorna ao lar.

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Estavam certas as antigas culturas orientais.

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Quem sabe, um dia, quando essa realidade for melhor assimilada pela Humanidade, haveremos de mudar as comemorações do dois de novembro.

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Não mais o dia dos mortos.

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Mais apropriadamente, o dia dos vivos.

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FONTE

SIMONETTI, Rchard. Revista "Reformador" - Ano 121 - nº 2.096 - 

Novembro de 2006.Disponível em

 


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