Trabalho
Emmanuel
Se nos propomos retratar mentalmente a luz dos Planos
Superiores, é indispensável que a nossa vontade abrace espontaneamente o
trabalho por alimento de cada dia.
No pretérito, apreciávamo-lo por atitude servil de quantos
caíssem sob o ferrete da injúria.
A escola, as artes, as virtudes domésticas, a indústria e o
amanho do solo eram relegados a mãos escravas, reservando-se os braços
supostos livres para a inércia dourada.
Hoje, porém, sabemos que a lei do trabalho é roteiro da
justa emancipação.
Sem ela, o mundo mental dorme estanque.
Fugir-lhe aos impositivos é situar-se à margem do caminho, onde o carro da
evolução marcha, inflexível, deixando à retaguarda quantos se amolgam
à ilusão da preguiça.
O usurário não padece apenas a infelicidade de sequestrar os
bens devidos ao Bem de Todos, mas igualmente o infortúnio de
erguer para si mesmo a cova adornada em que se lhe estiolarão as mais
nobres faculdades do espírito.
Não vale, contudo, agir por agir.
As regiões infernais vibram repletas de movimento.
Além do trabalho-obrigação que nos remunera de pronto, é
necessário nos atenhamos ao prazer de servir.
Nas contingências naturais do desenvolvimento terrestre, o
espírito encarnado é compelido a esforço incessante, para o sustento
do corpo físico.
Recolhe, de graça, a água pura, os princípios solares e os
recursos nutrientes da atmosfera; entretanto, é preciso suar e sofrer
em busca da proteína e do carboidrato que lhe assegurem a euforia
orgânica.
Cativo, embora, às injunções do plano de obscura matéria em
que transitoriamente respira, pode, porém, desde a Terra, fruir
a ventura do serviço voluntário aos semelhantes todo aquele que descerre o espelho da própria alma aos reflexos da Esfera Divina.
O trabalho-ação transforma o ambiente.
O trabalho-serviço, transforma o homem.
As tarefas remuneradas conquistam o agradecimento de quem
lhes recebe o concurso, mas permanecem adstritas ao mundo, nas linhas da
troca vulgar.
A prestação de concurso espontâneo, sem qualquer base de
recompensa, desdobra a influência da Bondade Celestial que a todos nos
ampara sem pagamento.
A maneira que se nos alonga a ascensão, entendemos com mais
clareza a necessidade de trabalhar por amor de servir.
Quando começamos a ajudar o próximo, sem aguilhões,
matriculamo-nos no acrisolamento da própria alma, entrando em sintonia com a
Vida Abundante.
Nos círculos mais elevados do espírito, o trabalho não é
imposto.
A criatura consciente da verdade compreende que a ação no bem
é ajustamento
às Leis de Deus e a ela se rende por livre vontade.
Por isso, nos domínios superiores, quem serve avança para os
cimos da imortalidade radiosa, reproduzindo dentro de si mesmo as
maravilhas do Céu
que nos rodeia a espelhar-se por toda parte.
XAVIER, Francisco
Cândido pelo Espírito Emmanuel. Pensamento e Vida, cap.7, p.12.
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