Fé
Emmanuel
Para encontrar o bem e assimilar-lhe a luz, não basta
admitír-lhe a existência.
É indispensável buscá-la com perseverança e
fervor.
Ninguém pode duvidar da eletricidade, mas para que a lâmpada
nos ilumine o aposento recorremos a fios condutores que lhe
transportem a força, desde a aparelhagem da usina distante até o recesso de nossa
casa.
A fotografia é hoje fenômeno corriqueiro; contudo, para que
a imagem se fixe, na execução do retrato, é preciso que a emulsão
gelatinosa sensibilize a placa que a recebe.
A voz humana, através da radiofonia, é transmitida de um
continente a outro, com absoluta fidelidade; todavia, não prescinde do
remoinho eletrônico que, devidamente disciplinado, lhe transporta as ondulações.
Não podemos, desse modo, plasmar realização alguma sem
atitude positiva de confiança.
Entretanto, como exprimir a fé? — indaga-se muitas vezes.
A fé não encontra definição no vocabulário vulgar.
É força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na
Sabedoria de Deus que é a sabedoria da própria vida.
Palpita em todos os seres, vibra em todas as coisas.
Palpita em todos os seres, vibra em todas as coisas.
Mostra-se no cristal fraturado que se
recompõe, humilde, e revela-se na árvore decepada que se refaz, gradativamente,
entregando-se às leis de renovação que abarcam a Natureza.
Todas as operações da existência se desenvolvem, de algum
modo, sob a energia da fé.
Confia o campo no vigor da primavera e cobre-se de flores.
Fia-se o rio na realidade da fonte, e dela não prescinde
para a sua caudal larga e profunda.
A simples refeição é, para o homem, espontâneo ato de fé.
Alimentando-se, confia ele nas vísceras abdominais que não vê.
Todo o êxito da experiência social resulta da fé que a
comunidade empenhe no respeito às determinações de ordem legal que lhe
regem a vida.
Utilizando-nos conscientemente de semelhante energia, é-nos
possível suprimir longas curvas em nosso caminho de evolução.
Para isso, seja qual for a nossa interpretação religiosa da
ideia de Deus, é imprescindível acentuar em nós a confiança no bem para
refletir-lhe a grandeza.
Recordemos a lente e o Sol.
O astro do dia distribui
equitativamente os recursos de que dispõe.
Convergindo-lhe porém, os raios com
a lente comum, dele auferimos poder mais amplo.
O Bem Eterno é a mesma luz para todos, mas concentrando-lhe
a força em nós, por intermédio de positiva segurança íntima, decerto
com mais eficiência lhe retrataremos a glória.
Busquemo-lo, pois, infatigavelmente, sem nos determos no
mal.
O tronco podado oferece frutos iguais àqueles que produzia
antes do golpe que o mutilou.
A fonte alcança o rio, desfazendo no próprio seio a lama que
lhe atiram.
Sustentemos o coração nas águas vivas do bem inexaurível.
Procuremos a boa parte das criaturas, das coisas e dos
sucessos que nos cruzem a lide cotidiana.
Teremos, assim, o espelho de nossa
mente voltado para o bem, incorporando-lhe os tesouros eternos, e a felicidade
que nasce da fé, generosa e operante, libertar-nos-á dos grilhões de todo
o mal, de vez que o bem, constante e puro, terá encontrado em nós seguro
refletor.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Emmanuel.
Pensamento e Vida, Cap.6, p. 10-11.
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