9 ASSUNTO DE PAIXÃO
Cornélio Pires
Você deseja notícias,
Meu caro Juca Simões,
Sobre o que existe no Além
Ante a luta das paixões.
O assunto do seu pedido,
Quanto ao que busca saber,
É tão fácil de sentir,
Tão difícil de escrever!...
Reconhecemos: o amor
É luz em todo ser vivo,
Mas quando vira paixão
É processo obsessivo.
Há paixões de toda espécie,
Por encargos, por dinheiro,
Por mando, posse, vingança,
Rolando no mundo inteiro.
Mas a paixão propriamente
É aquele calor que surge
É aquele calor que surge
Por labareda do amor.
No começo é uma faísca,
Com clarão vago e miúdo,
Depois é fogo crescendo,
Incêndio que arrasa tudo.
A pessoa nessa prova
Vagueia tonta e insegura,
Pode enrolar-se no crime,
Quanto cair na loucura.
Veja a tragédia de Alvina,
Apegou-se ao Filomeno,
O moço quis Nominata,
Alvina foi-se a veneno.
Eugênio amava Tintina,
Tintina escolheu Jão Massa,
Só por isso o pobre Eugênio
Vive hoje de cachaça.
Contrariado no amor,
Dedicado à Gabriela,
Excitado, o Longimano,
Deu dois tiros no pai dela.
Você recorda decerto,
O nosso Quinquim da Areia,
Matou Ziziu por ciúme
E afundou-se na cadeia.
Recusado por Tininha,
Irvalmo arrasou Clemente,
Depois disso, exasperado,
Enloqueceu de repente.
Outra cousa, veja esta:
Nessas mortes por paixão
Aparece grande parte
Dos casos de obsessão.
Ninita por desprezar,
Matou Gil de Saramenha,
Mas sem corpo Gil a segue
Como fogo atado à lenha...
Sertório morreu aos poucos,
Envenenado por Zuma,
Sertório desencarnado
Não a deixa hora nenhuma.
Joana desfez-se de Antero
Para entregar-se ao Fontana,
Mas o espírito de Antero
Vive ligado com Joana.
Segundo todos sabemos
Cada qual vive por si,
Cuidado !... Foge à paixão
Que a paixão é isso aí...
Se você gosta de alguém,
Recorde: amor não reclama,
Não prende, nem sacrifica
E ampara sempre a quem ama.
Não procure ser amado
Ame e abençoe por dever,
Mantenha sinceridade
E deixe a vida correr.
Paixão é cousa da sombra,
Dor que a si própria maldiz,
Mas o amor é luz de Deus,
Amor é a vida feliz.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito
Cornélio Pires. Retratos da vida. Cap.9.
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