O alimento da alma
"Depois de despedido o povo, subiu a um monte, a fim de orar, ele só. Já era noite, e ainda se achava sozinho." (Mateus, 14: 22-23)
"Jesus, porém, se retirou a um lugar solitário para orar." (Lucas, 5: 12-16)
"De manhã, ainda bem escuro, levantou-se, retirou-se para um lugar solitário, onde orou." (Marcos, 1:35-39)
Conta-nos Frei Estefânio Piat, insuspeito biógrafo de São Pedro de Alcântara, que este venerável religioso costumava isolar-se a uma ermida da horta do convento de Plasência. Envolvido pela natureza, em silêncio e solitude, buscava com maior liberdade entregar-se à meditação e à oração.
Certa vez, vieram visitá-lo o Marquês de Mirabel, o Conde Torrejón e outros nobres cavaleiros. Não o encontrando na cela, dirigiram-se à referida ermida. Deparam, então, com uma cena insólita. Levantando os olhos, viram Frei Pedro a levitar, mas tão distanciado da superfície do solo, que parecia elevar-se aos céus.
O devotado frei ainda se encontrava envolto em brilhante claridade e, à sua volta, os nobres cavaleiros testemunharam inúmeras avezinhas muito formosas, entre as sonoridades de uma suave música.
Em outra ocasião, ao ajoelhar-se para uma oração diante da cruz do horto de um mosteiro, “começou a levantar-se do solo e, despedindo seu rosto raios de luz e fogo, subiu até tocá-la com seus lábios.” Seu hagiógrafo acrescenta que a cruz se cobriu de grande esplendor e a estranha claridade inundou as cercanias, enquanto uma nuvem luminosa envolveu o busto do santo cristão.
Cita ainda Piat: “Os habitantes se intrigam pelo halo de luz que lhe aureola a fronte, vêem-no acima das copas das árvores, paralisado na contemplação do crucifixo. Aconteceu mesmo que, no convento de Pedroso, Frei Pedro, através do espaço, alcançou a cruz gigante que coroava lá em cima o cume do monte. Uma nuvem do Tabor parecia envolvê-lo, enquanto ele se oferecia, de braços abertos, ao beijo do divino Sofredor. O céu glorioso da Estremadura andou todo abrasado. E os frades, que pensavam no Estigmatizado do Alverne, ajoelham-se chorando no meio da massa popular que acorrera para ver o espetáculo.”
Comoventes apelos à oração
Em tempos contemporâneos é comovedor o insistente apelo à oração feito por Maria Santíssima nas muitas aparições às suas crianças e a outros humildes mensageiros por ela escolhidos. No início dos ciclos de todas essas grandes aparições pelo mundo, ainda quando nem mesmo a Igreja e as autoridades tenham tomado partido sobre os fenômenos, as crianças videntes contam que a “senhora vestida de sol” as convida para uma transformação interior verdadeira, ao sacrifício pela humanidade e, sobretudo, à recitação diária do rosário.
A oração tem um papel nesses fenômenos, como podemos ver, por exemplo, no episódio de Fátima, Portugal, quando na primavera de 1916 a aparição do denominado “Anjo da Paz” antecede as visitas da Senhora aos três anônimos pastorinhos. As crianças daquela localidade isolada, Lúcia, Jacinta e Francisco (com idades respectivas de 10, 9 e 7 anos) tornar-se-iam, então, protagonistas e mensageiros da mais intrigante e prodigiosa revelação religiosa ocorrida em nossos tempos.
Conforme relatam os documentos, as crianças brincavam após a reza habitual que faziam todos os dias. Repentinamente, um vento forte sacudiu as árvores. Sobre o olival, caminhando em sua direção, elas se deparam com um jovem resplandecente e de grande beleza, aparentando 15 anos. Sua consistência e brilho assemelhavam-se o do cristal atravessado pelos raios do sol.
É a própria Lúcia quem relata a primeira solicitação daquele belíssimo ser espiritual:
“Ao chegar junto de nós, (o anjo) disse: — Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo...”
Meses mais tarde, em seu ciclo de aparições, Maria Santíssima reafirmaria: ‘Rezem o terço todos os dias para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra’.
Também os espíritos benfeitores enfatizaram ao Codificador a sublimidade da prece, o que o levou a registrar em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “A prece é recomendada por todos os espíritos. Renunciar a ela é ignorar a bondade de Deus; é rejeitar para si mesmo a Sua assistência; e para os outros, o bem que se poderia fazer. Ao atender o pedido que lhe é dirigido, Deus tem frequentemente em vista recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Eis porque o homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus, e sempre maior eficácia”.
O próprio Kardec, nos vários períodos das grandes agressões morais e provações pelas quais serena e honrosamente atravessou, buscava elevar-se mental e emocionalmente às Esferas Superiores, sobrepondo-se com dignidade acima de todos os infortúnios e torpezas vindas da parte de seus inimigos gratuitos. Nesses momentos, o venerável educador lionês sabia haurir inspiração e força hercúlea para prosseguir no cumprimento de sua delicada missão.
“A oração é o meu refúgio e o meu sustento”
Nosso saudoso Chico Xavier jamais perdeu oportunidades de reafirmar a importância da prece em sua vida. Dizia: “a oração é o meu refúgio, o meu sustento. De pensamento ligado às Altas Esferas é que tenho conseguido seguir adiante com as minhas lutas... Oro trabalhando e trabalho orando. Eu não entendo como é que a pessoa que não ora pode sobreviver neste mundo...”
Muitas vezes foi considerado místico por parte de alguns confrades mais apegados ao aspecto científico e filosófico da doutrina. Ele então rebatia: “— Não me importa que me considerem místico... Se ser amigo da prece é ser místico, então eu assumo.”
É fato conhecido entre todos os espíritas as inúmeras visitas sublimes que iluminavam o quartinho do Chico quando imerso em suas orações. Mergulhado nas vibrações balsâmicas da prece o humilde médium de Pedro Leopoldo soube catalisar amparo e fortaleza para sua espinhosa missão em nossa pátria.
“Em meio às lágrimas de nossas súplicas, a Providência Divina já atuava”
Os momentos de comunhão com Deus, através da prece, são de fato fundamentais na experiência de todo sincero e devotado trabalhador do bem.
Certa vez interpelamos dona Aparecida Conceição Ferreira, a grande protetora dos portadores de pênfigo foliáceo e fundadora do antigo Hospital do Fogo Selvagem de Uberaba, sobre suas imensas dificuldades pecuniárias em manter aquela obra, uma vez sendo ela tão desprovida de recursos próprios. Com convicção e humildade ela nos respondeu: “—Muitos vêm aqui, mas poucos ajudam meus doentes. No entanto, quando a comida está acabando, os remédios começam a faltar, as contas estão vencidas eu olho para o céu e digo: Meu Deus! Foi o Senhor quem me colocou aqui... Então, por favor, faça agora a Sua parte, porque tudo que estava ao meu alcance eu já fiz...”
Sobre essa questão também ouvimos, pessoalmente, de outro querido companheiro e abnegado servidor do Cristo através do espiritismo, o Tadeu, de Araxá, da Casa do Caminho: “—Muitas vezes, com a dispensa vazia e quando já tínhamos esgotado todas as nossas tentativas e esforços, só nos restava o recurso da oração, rogando a Jesus pelos nossos velhinhos e doentes. E era com grande alegria que tantas vezes testemunhamos, em meio às lágrimas de nossas súplicas, a Providência Divina atuando, através da bondade de amigos ou pessoas que, às vezes, nem sequer conhecíamos pessoalmente.”
“Se soubessem o valor da prece, orariam o tempo todo”
Com certeza foi por todos esses motivos que afirmou André Luiz, através do Chico: “—Se vocês soubessem o valor da prece, orariam o tempo todo.”
Referindo-se a grandeza inimaginável das forças espirituais que se mobilizam no momento da prece, diz-nos também o nobre benfeitor: “(...)o sacerdote de classe elevada, toda vez que aproveita os elementos de sua fé para consolar um espírito desesperado, está impelindo-o à produção de raios mentais enobrecidos, com os quais forma o clima adequado à recepção do auxílio da Esfera Superior; o médico que encoraja o paciente, usando autoridade e doçura, inclina-o a gerar, em favor de si mesmo, oscilações mentais restaurativas, pelas quais se relaciona com os poderes curativos estuantes em todos os escaninhos da Natureza; o professor, estimulando o discípulo a dominar o aprendizado dessa ou daquela expressão, impulsiona-o a condicionar os elementos do próprio espírito, ajustando-lhe a onda mental para incorporar a carga de conhecimento de que necessita”.
Comunhão com as Esferas Superiores
O benfeitor esclarece também sobre a questão do reflexo mental condicionado em todos os momentos da alma, seja no repouso ou na atividade, como “ação independente da vontade que se segue, imediatamente, a uma excitação externa na base das operações da mente, objetivando esse ou aquele gênero de serviço.”
Considerado esse reflexo condicionado mental “resulta o impositivo da vigilância sobre a nossa própria orientação, de vez que somente a conduta reta sustenta o reto pensamento e, de posse do reto pensamento, a oração, qualquer que seja o nosso grau de cultura intelectual, é o mais elevado toque de indução para que nos coloquemos, para logo, em regime de comunhão com as Esferas Superiores”.
“Orar constitui a fórmula básica da renovação íntima”
Lembra o benfeitor que “orar constitui a fórmula básica da renovação íntima, pela qual o divino entendimento desce do Coração da Vida para a vida do coração. Semelhante atitude da alma, porém, não deve, em tempo algum, resumir-se a simplesmente pedir algo ao Suprimento Divino, mas pedir, acima de tudo, a compreensão quanto ao plano da Sabedoria Infinita, traçado para o seu próprio aperfeiçoamento, de maneira a aproveitar o ensejo de trabalho e serviço no bem de todos, que vem a ser o bem de si mesma”.
Sintonia entre criatura e Criador
Citando as sagradas escrituras, recorda-nos André os exemplos de Moisés e Jesus quanto a excelência da oração nas grandes manifestações do divino: “Orando, Moisés recolhe, no Sinai, os mandamentos que alicerçam a justiça de todos os tempos, e, igualmente em prece, seja nas margens do Genesaré ou em pleno Tabor, respirando o silêncio de Getsêmani ou nos braços da cruz, o Cristo revela na oração o reflexo condicionado da natureza divina, suscetível de facultar a sintonia entre a criatura e o Criador.”
Conclusão
Em nossos tempos conturbados e propensos à falta de introspecção parece-nos conveniente refletir sobre esse assunto.
Em meio às nossas tantas distrações cotidianas, muitos de nós deixamos de lado o salutar hábito de investir um tempo no convívio íntimo com o Pai Celestial. E o quanto essa atitude faz-nos falta, cada um bem sabe por si...
Refletindo sobre todo o exposto, estaríamos dispostos a disciplinar alguns minutos diários em oferecer à nossa alma a oportunidade de alçar vôos mais altos ao infinito das misericórdias de Deus?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
“Mediunidade dos Santos”, Clóvis Tavares, IDE“Vida de San Pedro de Alcântara”, por um religioso de la orden de San Francisco Frei Estefânio Piat
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