Dom Helder Câmara (Espírito) em Psicografia
Recente
Recentemente foi lançado no mercado
cultural um livro mediúnico trazendo as reflexões de um padre depois da morte,
atribuído, justamente, ao Espírito de Dom Hélder Câmara, bispo católico,
arcebispo emérito de Olinda e Recife, desencarnado no dia 28 de agosto de 1999
em Recife, Pernambuco.
É do conhecimento geral,
principalmente dos católicos brasileiros: Dom Hélder Câmara foi um dos
fundadores da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e grande
defensor dos direitos humanos durante o regime militar brasileiro, cuja luta,
nesse processo político da nossa história, o notabilizou no mundo todo, como
uma das figuras mais expressivas do século XX, na defesa dos fracos contra a
tirania dos fortes e dos pobres contra a usura dos ricos. Pregava uma igreja simples
voltada para os pobres e a não-violência.
Por sua atuação, recebeu diversos
prêmios nacionais e internacionais. Foi indicado quatro vezes para o prêmio
Nobel da Paz. Em 1969 - Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Saint Louis,
Estados Unidos. Este mesmo título foi-lhe conferido por diversas universidades
brasileiras e estrangeiras: Bélgica, Suíça, Alemanha, Holanda, Itália, Canadá e
Estados Unidos.
Foi intitulado cidadão honorário de 28
cidades brasileiras e da cidade de São Nicolau, na Suiça e Rocamadour, na
França. Recebeu o prêmio Martin Luther King, nos EUA e o prêmio Popular da Paz,
na Noruega e diversos outros prêmios internacionais.
Por isso, o livro psicografado pelo
médium Carlos Pereira, da Sociedade Espírita Ermance Dufaux, de Belo Horizonte,
causou muita surpresa no meio espírita e grande polêmica entre os católicos.
O
que causou mais espanto entre todos foi a participação de Marcelo Barros, monge
beneditino e teólogo, que durante nove anos foi secretário de Dom Hélder
Câmara, para a relação ecumênica com as igrejas cristãs e as outras religiões.
Marcelo Barros secretariou Dom Hélder
Câmara no período de 1966 a 1975 e tem 30 livros publicados. Ao prefaciar o
livro Novas Utopias, do Espírito Dom Hélder, reconhecendo a autenticidade do comunicante,
pela originalidade de suas idéias e, também, pela linguagem, é como se a Igreja
Católica viesse a público reconhecer o erro no qual incorreu muitas vezes, ao
negar a veracidade do fenômeno da comunicação entre vivos e mortos, e desse ao
livro de Carlos Pereira, toda a fé necessária como o Imprimatur do Vaticano.
É importante destacar, ainda, que os
direitos autorais do livro foram divididos em partes iguais, na doação feita
pelo médium, à Sociedade Espírita Ermance Dufaux e ao Instituto Dom Hélder
Câmara, de Recife, o que, aliás, foi aceito pela instituição católica, sem
nenhum constrangimento.
No prefácio do livro aparece também o aval do filósofo
e teólogo Inácio Strieder e a opinião favorável da historiadora e pesquisadora
Jordana Gonçalves Leão, ambos ligados à Igreja Católica. Conforme eles mesmos
disseram, essa obra talvez não seja uma produção direcionada aos espíritas, que
já convivem com o fenômeno da comunicação, desde a codificação do Espiritismo;
mas, para uma grandiosa parcela da população dentro da militância católica, que
é chamada a conhecer a verdade espiritual, porque "os tempos são
chegados"; estes ensinamentos pertencem à natureza e, consequentemente, à
todos os filhos de Deus.
A verdade espiritual não é propriedade
dos espíritas ou de outros que professam estes ensinamentos e, talvez, porque,
tenha chegado o momento da Igreja Católica admitir, publicamente, a existência
espiritual, a vida depois da morte e a comunicação entre os dois mundos.
Na entrevista com Dom Hélder Câmara, realizada pelos editores, o
Espírito comunicante respondeu as seguintes perguntas sobre a vida espiritual:
- Dom Hélder, mesmo na vida
espiritual, o senhor se sente um padre?
- Não poderia deixar de me sentir padre, porque minha alma, mesmo antes
de voltar, já se sentia padre. Ao deixar a existência no corpo físico, continuo
como padre porque penso e ajo como padre. Minha convicção à Igreja Católica
permanece a mesma, ampliada, é claro, com os ensinamentos que aqui recebo, mas
continuo firme junto aos meus irmãos de Clero a contribuir, naquilo que me seja
possível, para o bem da humanidade.
- Do outro lado da vida, o senhor tem alguma facilidade a mais para
realizar seu trabalho e exprimir seu pensamento ou ainda encontra muitas
barreiras com o preconceito religioso?
- Encontramos muitas barreiras. As pessoas que estão do lado de cá
reproduzem o que existe na Terra. Os mesmos agrupamentos que se formam aqui se
reproduzem na Terra. Nós temos as mesmas dificuldades de relacionamento, porque
os pensamentos continuam firmados, cristalizados em determinados pontos que não
levam a nada. Mas, a grande diferença é que por estarmos com a vestimenta do
espírito, tendo uma consciência mais ampliada das coisas podemos dirigir os
nossos pensamentos de outra maneira e assim influenciar aqueles que estão na
Terra e que vibram na mesma sintonia.
- Como o senhor está auxiliando nossa sociedade na condição de
desencarnado?
- Do mesmo jeito. Nós temos as mesmas preocupações com aqueles que
passam fome, que estão nos hospitais, que são injustiçados pelo sistema que
subtrai liberdades, enriquece a poucos e colocam na pobreza e na miséria
muitos; todos aqueles desvalidos pela sorte. Nós juntamos a todos que pensam
semelhantemente a nós, em tarefas enobrecedoras, tentando colaborar para o
melhoramento da humanidade.
- Como é sua rotina de trabalho?
- A minha rotina de trabalho é, mais ou menos, a mesma. Levanto-me,
porque aqui também se descansa um pouco, e vamos desenvolver atividades para as
quais nos colocamos à disposição. Há grupos que trabalham e que são organizados
para o meio católico, para aqueles que precisam de alguma colaboração.
Dividimo-nos em grupos e me enquadro em algumas atividades que faço com muito
prazer.
- Qual foi a sua maior tristeza depois de desencarnado? E qual foi a sua
maior alegria?
- Eu já tinha a convicção de que estaria no seio do Senhor e que não
deixaria de existir. Poder reencontrar os amigos, os parentes, aqueles aos
quais devotamos o máximo de nosso apreço e consideração e continuar a
trabalhar, é uma grande alegria. A alegria do trabalho para o Nosso Senhor
Jesus Cristo..
- O senhor, depois de desencarnado, tem estado com freqüência nos
centros espíritas?
- Não.Os lugares mais comuns que visito no plano físico são os
hospitais; as casas de saúde; são lugares onde o sofrimento humano se faz
presente.
Naturalmente vou à igreja, a conventos, a seminários, reencontro com
amigos, principalmente em sonhos, mas minha permanência mais freqüente não é na
casa espírita.
- O senhor já era reencarnacionista antes de morrer?
- Nunca fui reencarnacionista, diga-se de passagem. Não tenho sobre este
ponto um trabalho mais desenvolvido porque esse é um assunto delicado, tanto é
que o pontuei bem pouco no livro. O que posso dizer é que Deus age conforme a
sua sabedoria sobre as nossas vidas e que o nosso grande objetivo é buscarmos a
felicidade mediante a prática do amor. Se for preciso voltar a ter novas
experiências, isso será um processo natural.
Mediunidade
- Qual é o seu objetivo em escrever mediunicamente?
- Mudar, ou pelo menos contribuir para mudar, a visão que as pessoas têm
da vida, para que elas percebam que continuamos a existir e que essa nova visão
possa mudar profundamente a nossa maneira de viver.
- Qual foi a sensação com a experiência da escrita mediúnica?
- Minha tentativa de adaptação a essa nova forma de escrever foi muito
interessante, porque, de início, não sabia exatamente como me adaptar ao médium
para poder escrever. É necessário que haja uma aproximação muito grande entre o
pensamento que nós temos com o pensamento do médium. É esse o grande problema
de todos nós porque o médium precisa expressar aquilo que estamos intuindo a
ele. No início foi difícil, mas aos poucos começamos a criar uma mesma forma de
expressão e de pensamento, aí as coisas melhoraram. Outros (médiuns) pelos
quais tento me comunicar enfrentam problemas semelhantes.
- Foi uma surpresa saber que poderia se comunicar pela escrita
mediúnica?
- Não. Porque eu já sabia que muitas pessoas portadoras da mediunidade
faziam isso. Eu apenas não me especializei, não procurei mais detalhes, deixei
isso para depois, quando houvesse tempo e oportunidade. Imaginamos que haja
outros padres que também queiram escrever mediunicamente, relatar suas
impressões da vida espiritual.
- Por que Dom Hélder é quem está escrevendo?
- Porque eu pedi. Via-me com a necessidade de expressar aos meus irmãos
da Terra que a vida continua e que não paramos simplesmente quando nos colocam
dentro de um caixão e nos dizem "acabou-se". Eu já pensava que
continuaria a existir, sabia que haveria algo depois da vida física. Falei isso
muitas vezes. Então, sentir a necessidade de me expressar por um médium, quando
estivesse em condições e me fossem dadas as possibilidades. É isto que eu estou
fazendo.
- Outros padres, então, querem escrever mediunicamente em nosso país?
- Sim. E não são poucos. São muitos aqueles que querem usar a pena
mediúnica para poder expressar a sobrevivência após a vida física.. Não o fazem
por puro preconceito de serem ridicularizados, de não serem aceitos, e
resguardam as suas sensibilidades espirituais para não serem colocados numa
situação de desconforto. Muitos padres, cardeais até, sentem a proteção
espiritual nas suas reflexões, nas suas prédicas, que acreditam ser o Espírito
Santo, que na verdade são os irmãos que têm com eles algum tipo de apreço e
colaboram nas suas atividades.
- Como o senhor se sentiu em interação com o médium Carlos Pereira?
- Muito à vontade, pois havia afinidade, e porque ele se colocou à
disposição para o trabalho. No princípio foi difícil juntar-me a ele por conta
de seus interesses e de seu trabalho. Quando acertamos a forma de atuar foi
muito fácil, até porque, num outro momento, ele começou a pesquisar sobre a
minha última vida física. Então ficou mais fácil transmitir-lhe as informações
que fizeram o livro.
- O senhor acredita que a Igreja Católica irá aceitar suas palavras pela
mediunidade?
- Não tenho esta pretensão. Sabemos que tudo vai evoluir e que um dia,
inevitavelmente, todos aceitarão a imortalidade com naturalidade, mas é demais
imaginar que um livro possa revolucionar o pensamento da nossa Igreja. Acho que
teremos críticas, veementes até, mas outros mais sensíveis admitirão as
comunicações. Este é o nosso propósito.
- É verdade que o senhor já tinha alguns pensamentos espíritas quando na
vida física?
- Eu não diria espírita; diria espiritualista, pois a nossa Igreja, por
si só, já prega a sobrevivência após a morte. Logo, fazermos contato com o
plano físico depois da morte seria uma consequência natural. Pensamentos
espíritas não eram, porque não sou espírita. Sem nenhum tipo de constrangimento
em ter negado alguns pensamentos espíritas, digo que cheguei a ter, de vez em
quando, experiências íntimas espirituais.
Igreja
- Há as mesmas hierarquias no mundo espiritual?
- Não exatamente, mas nós reconhecemos os nossos irmãos que tiveram
responsabilidades maiores e que notoriamente têm um grau evolutivo moral muito
grande. Seres do lado de cá se reconhecem rapidamente pela sua hombridade, pela
sua lucidez, pela sua moralidade. Não quero dizer que na Terra isto não ocorra,
mas do lado de cá da vida isto é tudo mais transparente; nós captamos a
realidade com mais intensidade. Autoridade aqui não se faz somente com um cargo
transitório que se teve na vida terrena, mas, sobretudo, pelo avanço moral.
- Qual seu pensamento sobre o papado na atualidade?
- Muito controverso esse assunto. Estar na cadeira de Pedro,
representando o pensamento maior de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma responsabilidade
enorme para qualquer ser humano.. Então fica muito fácil, para nós que estamos
de fora, atribuirmos para quem está ali sentado, algum tipo de consideração.
Não é fácil. Quem está ali tem inúmeras responsabilidades, não apenas
materiais, mas descobri que as espirituais ainda em maior grau.
Eu posso ter uma visão ideológica de como poderia ser a organização da
Igreja; defendi isso durante minha vida. Mas tenho que admitir, embora acredite
nesta visão ideal da Santa Igreja, que as transformações pelas quais devemos
passar merecem cuidado, porque não podemos dar sobressaltos na evolução. Queira
Deus que o atual Papa Ratzinger (Bento XVI) possa ter a lucidez necessária para
poder conduzir a Igreja ao destino que ela merece.
- O senhor teria alguma sugestão a fazer para que a Igreja cumpra seu
papel?
- Não preciso dizer mais nada. O que disse em vida física, reforço.
Quero apenas dizer que quando estamos do lado de cá da vida, possuímos uma
visão mais ampliada das coisas. Determinados posicionamentos que tomamos, podem
não estar em seu melhor momento de implantação, principalmente por uma
conjuntura de fatores que daqui percebemos. Isto não quer dizer que não devamos
ter como referência os nossos principais ideais e, sempre que possível,
colocá-los em prática.
- Espíritas no futuro?
- Não tenho a menor dúvida. Não pertencem estes ensinamentos à nossa
Igreja, ou de outros que professam estes ensinamentos espirituais. Portanto,
mais cedo ou mais tarde, a nossa Igreja terá que admitir a existência
espiritual, a vida depois da morte, a comunicação entre os dois mundos e todos
os outros princípios que naturalmente decorrem da vida espiritual.
- Quais são os nomes mais conhecidos da Igreja que estão cooperando com
o progresso do Brasil no mundo espiritual?
- Enumerá-los seria uma injustiça, pois há base em todas as localidades.
Então, dizer um nome ou de outro seria uma referência pontual porque há
muitos, que são poucos conhecidos, mas que desenvolvem do lado de cá da vida um
trabalho fenomenal e nós nos engajamos nestas iniciativas de amor ao próximo.
Amor
- Que mensagem o senhor daria especificamente aos católicos agora depois
da morte?
- Que amem, amem muito, porque somente através do amor vai ser possível
trazer um pouco mais de tranqüilidade à alma. Se nós não tentarmos amar do
fundo dos nossos corações, tudo se transformará numa angústia profunda. O amor,
conforme nos ensinou o Nosso Senhor Jesus Cristo, é a grande mola salvadora da
humanidade.
- Que mensagem o senhor deixaria para nós espíritas?
- Que amem também, porque não há divisão entre espíritas e católicos ou
qualquer outra crença no seio do Senhor. Não há. Essa divisão é feita por nós,
não pelo Criador. São aceitáveis porque demonstram diferenças de pontos de
vista, no entanto,
a convergência é única, aqui simbolizada pela prática do amor, pois
devemos unir os nossos esforços.
- Que mensagem o senhor deixaria para os religiosos de uma maneira
geral?
- Que amem. Não há outra mensagem senão a mensagem do amor. Ela é a
única e principal mensagem que se pode deixar.
FONTE
PEREIRA, Carlos pelo Espírito Dom Helder Câmara.Novas Utopias. Ed. Dufaux.