Minutos de Paz !

terça-feira, março 31, 2009



Os mistérios da vontade



Por Raul Teixeira


A vida da gente é algo bastante fascinante, porque existe um leme e muito pouca gente se dá conta de que a nossa vida tem um leme.





É muito comum encontrarmos, em cada momento, nas nossas conversas, junto às pessoas de nosso relacionamento, aqueles discursos que dizem: Eu não consigo.



Isso aí eu não consigo. Não sou capaz.



Eu não dou conta.



Ah! Isso é muito difícil.



Certamente quando encontramos esse tipo de discurso, percebemos que existe uma grande fragilidade do indivíduo, do dono do discurso, em função do que ele pretende expressar.



Quase sempre ele deseja dizer da sua incapacidade, da sua impossibilidade.



Mas, existe um fator preponderante, torno a dizer, que é o leme das nossas ações.



Esse leme de tudo quanto nós fazemos, chama-se vontade.



Naturalmente que somos pessoas dotadas de vontade, no entanto, existe uma coisa chamada boa vontade e outra, má vontade.



Às vezes, temos má vontade de fazer as coisas para nós próprios e, certamente, em nível de psicologia humana, isso representa um grande paradoxo, porque a coisa que nós mais queremos é crescer, é evoluir, é progredir.



Ao mesmo tempo, parece que fazemos tudo para que esse estágio de evolução não se concretize e aí saímos com esses discursos vazios, frágeis: Eu não sou capaz, eu não posso, eu não consigo.



Eu não dou conta.



Já fiz de tudo.



Já tentei tudo.



E sabemos que não é verdade, porque se tivéssemos tentado de fato, com boa vontade, teríamos conseguido.



Em verdade, a vontade é um leme, através de cuja ação, a embarcação da nossa vida, as nossas ações, se dirigem para onde nós quisermos.



Há pessoas que têm vontade de ser paparicadas, de serem vistas como coitadinha, de serem vistas como alguém que está sempre precisando de um afago alheio.



Não é a melhor opção, não é isso que deve ser a regra de nossa vida.



A regra de nossa vida deve ser a da independência, de sabermos o que queremos e, ao sabermos o que queremos, tratarmos de marchar para esse objetivo.



Nada de ficarmos com essas justificativas injustificáveis, de que não é capaz, de que não consegue.



Porque quando nós dizemos assim, já estipulamos a incapacidade, já estabelecemos a nossa derrota.



É como se alguém fosse fazer um exame, uma prova, um concurso e dissesse: Eu sei que eu não vou passar.



Já determinou que não quer passar.



É diferente daquela criatura que diz assim: Apesar de tudo eu vou fazer.



Tive pouco tempo para estudar, tive pouco tempo para me preparar, porque trabalhei muito, porque viajei ou por qualquer outro motivo, mas eu vou tentar, eu vou conseguir.



Esse estado de ânimo em que a criatura diz: Eu vou conseguir, já deu a ela um background excelente para que ela alcance os objetivos de sua vida.



A vontade é esse timão, através do qual dirigimos a embarcação de nossa existência.



Em todas as coisas que fazemos, só fazemos porque temos vontade.



Quando fazemos alguma coisa sem ter vontade, significa que é sem ter boa vontade.



Mas, se estamos fazendo alguma coisa sem que tenhamos boa vontade, aí estaremos fazendo com má vontade.



A vontade sempre existe, mas ela pode ser uma vontade capaz de nos fazer crescer ou uma vontade capaz de nos atirar ao chão.



Qual é a nossa proposta de vida?



Já que vontade vem do latim: volere, volere que deu volição, a vontade de, a vontade de realizar alguma coisa.



E a partir dessa volição, dessa vontade de realizar alguma coisa, nós somos responsáveis pela nossa vida, pelos passos da nossa vida, pelas coisas que desejamos ou não realizar.



Muitas vezes, o nosso discurso é de quem quer, mas a nossa prática é a de quem não quer.



Muitas vezes dizendo não querer, o nosso discurso estabelece o que nós de fato desejamos.



Quando a criatura diz: Eu já tentei tudo, certamente essa é uma postura de comodidade, porque tudo ninguém jamais foi capaz de fazer.



Nós fizemos algumas coisas e dessas coisas que fizemos, algumas deram certo, outras não deram certo.Jesus Cristo foi especial ao nos dizer que tudo é possível àquele que crê.



Lemos isto nas anotações do evangelista Marcos.



E se tudo é possível àquele que crê, por que se torna possível a ele?



Porque essa crença está amalgamada sobre a vontade. Está alicerçada sobre a vontade.



Tudo é possível àquele que tem vontade, poderíamos dizer assim.



Porque quando nós temos vontade superamos problemas.



Quando temos vontade superamos dificuldades, quando temos vontade nos esforçamos.



Essa vontade é um elemento catalisador que impulsiona dentro de nós as reações mais impossíveis.



Aquela criatura que dizia assim: Não, com essa paralisia eu não serei capaz.



E aí chega um fisioterapeuta, um médico, um amigo e diz assim: Você vai conseguir.



Você é capaz.



E começa a fazer o exercício, começa a mostrar que é possível.



No começo dói, no começo é difícil, no começo... mas o indivíduo vai vencendo as dificuldades.



Na medida em que vamos vencendo as nossas dificuldades, tudo se torna possível.



É por isso que vimos Aleijadinho, com as deficiências que portava, ter se tornado o excelente engenheiro do barroco.



É por isso que vimos a notável Helena Keller, cega, surda, muda, tornar-se notável professora de cegos, surdos e mudos, viajar pelo mundo, fazer conferências.



É por causa disso que encontramos hoje as Olimpíadas para deficientes físicos, as Paraolimpíadas.



E ficamos estupefatos, entusiasmados de ver o que vemos.



É por isso que hoje vemos criaturas cheias de mazelas orgânicas fazendo verdadeiros milagres, com o poder da sua vontade.



Quando temos vontade, o céu se move para nós.



Quando temos vontade, arrastamos as montanhas mais pesadas e essa vontade é pródromo da fé, alimenta nossa fé.



E o Mestre Nazareno nos disse que, se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda, que é tido como dos menores grãos do mundo, uma das menores sementes do mundo, seríamos capazes de dizer às montanhas para que se afastassem e elas se afastariam.



Essas montanhas certamente não são as de granito, não são as montanhas da nossa geologia, são as montanhas da alma, as montanhas de problemas, as montanhas de dificuldades, de deficiências.



É por essa razão que somos movimentados pela nossa vontade.



No mundo social, quando as obras não são feitas para a comunidade, dizemos que falta vontade política.



A vontade é, de tal forma identificada nas realizações da vida, que passamos a usá-la popularmente, sem que o povo se dê conta de que está enunciando uma grandíssima verdade.



Falta vontade política nos políticos, mas falta vontade política em nós.



Às vezes, pela nossa política doméstica achamos que, se superarmos determinados problemas, não teremos mais o aconchego de Fulano, a paparicação de Beltrano.



Às vezes, na nossa política de vivência social com os nossos amigos, achamos que, se demonstrarmos a nossa capacidade, as pessoas não irão mais fazer para nós.



A nossa vontade precisa se associar à orientação de Jesus Cristo ao nos dizer que, tudo é possível àquele que crê.



Creiamos, desde hoje, que é possível sair da nossa deficiência, da nossa limitação, da nossa desordem interior.



Pessoas de pouca memória que dizem: Ah! Eu não sou capaz de lembrar.



Não digam assim. Será melhor dizer: Vou fazer esforços para me lembrar.



Porque estaremos trabalhando no positivo.



Quando eu já garanto que não serei capaz, de que já tentei tudo, estou me condenando à falência.



A nossa vontade é o leme da embarcação da nossa vida.



Se o timoneiro for um bom timoneiro, levará o barco da sua vida para o porto da paz e da realização.



Mas, se ele for um mau timoneiro, certamente arremessará a nau de sua vida sobre os arrecifes, sobres as montanhas, e seu barco possivelmente, se não chegar a isso, adernará nas ondas bravias.



Vontade, volere, querer.



Querer é poder, afirma o brocado popular



.E é por essa razão que, quando sentirmos a necessidade de querer, por que é que não vamos querer o bem, o amor e a paz, para que tudo mais se complete em nossa existência?



Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 122, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná. Programa gravado em janeiro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 24.08.2008.



Dois Espíritos de escol, uma data em comum


As grandes idéias jamais irrompem de súbito.



As que assentam sobre a verdade sempre têm precursores que lhes preparam parcialmente os caminhos.



Depois, em chegando o tempo, envia Deus um homem com a missão de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos, de reuni-los em corpo de doutrina.



Desse modo, não surgindo bruscamente, a idéia, ao aparecer, encontra espíritos dispostos a aceitá-la.[1]


No dia 31 de março de 1596, aportava na França um personagem cujo nome ficou gravado na história da humanidade: René Descartes.



Foi ele que implantou, no Ocidente, as bases fundamentais da filosofia e da ciência modernas.



Viveu numa época em que a Europa ardia sob as chamas das guerras religiosas.



Como a sua realeza não pertencia à Terra, não se deixou seduzir pelo brilho dourado dos tesouros fugidios apreciados pelos potentados de seu tempo, embora convivendo em seu meio.



Acostumado a olhar a vida de um ponto de vista alto e abrangente, preferiu viajar pelo mundo e conhecer as diferenças de crenças, costumes e tradição cultural dos povos, para descobrir que esses fatores são decisivos no tocante à maneira que as pessoas pensam a vida e criam suas leis.



Possuidor de um grande coração, aquecido pela razão, usou suas potencialidades em benefício da humanidade, preferindo ser mais observador do que ator nos palcos do mundo.



Sem os instrumentos que a tecnologia disponibiliza hoje aos pesquisadores, ele descobriu verdades importantes sobre o Espírito e sobre matéria, preparando o terreno para outra alma, dessas que Deus envia com a missão de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos e reuni-los em corpo de doutrina.



Esse homem foi Allan Kardec, cujo nome também ficará para sempre gravado na história da humanidade terrestre.Kardec sabia o objetivo pelo qual viera aos palcos terrenos.



Sabia que o reino do Céu ainda não é aqui, mas veio prestar sua colaboração aos habitantes rebeldes deste planeta.



Sofreu, como os demais missionários que vieram antes dele, o acicate da prepotência dos homens disfarçada de autoridade.



Era preciso que Descartes viesse antes, como um precursor, como um revelador de primeira ordem, para que Kardec pudesse assentar o edifício da Doutrina Espírita sobre as bases firmes e racionais da Ciência, pois a Ciência tinha de contribuir poderosamente para a eclosão e o desenvolvimento de tais idéias. Importava, pois, dar à Ciência tempo para progredir.[2]



O dia 31 de março é, sem contradita, uma data especial para a humanidade, pois abriu as cortinas para a entrada de uma alma nobre, e as cerrou para o homem que brilhou na terra com luz própria; que trouxe ao mundo a Ciência da alma, e cujas idéias perfumam aqueles que se deixam por elas contagiar.


Dois missionários de Jesus...


Dois Espíritos de escol...


Uma data em comum...



[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Int., § IV[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. I, item 4 (do site www.ipeak.com.br)

A Paz do Cristo - Joanna de Ângelis



A Paz do Cristo


O Evangelista Mateus anotou palavras de Jesus que, até hoje, causam um certo espanto ao estudioso dos Evangelhos, ao menos no primeiro momento.
Dentre elas, a afirmativa: Não cuideis que vim trazer a paz à Terra.
Não vim trazer a paz, mas a espada.Acontece que o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos está viciado.
Na expressão comum, ter paz significa ter atingido garantias do mundo, dentro das quais possa o homem viver, sem maiores cuidados.
Paz, para muitos, significa ter a garantia de grandes somas de dinheiro, não importando o que tenha que fazer para as conseguir.
Isso porque muito dinheiro significa poder se rodear de servidores, de pessoas que realizem as tarefas que, normalmente, a criatura deveria executar.
Também tem a ver com viagens maravilhosas para todos os lugares possíveis, ida a restaurantes caros, roupas finas, perfumes exóticos.
Desfrutar de tudo o que é considerado bom no mundo.
Naturalmente, Jesus não poderia endossar esse tipo de tranquilidade, onde o ser vegeta e não vive realmente.
Assim, em contrapartida ao falso princípio estabelecido no mundo, Jesus trouxe consigo a luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação Divina, para que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo.
Jesus veio instalar o combate da redenção.
É um combate sem sangue, uma frente de batalha sem feridos.
A guerra que o Senhor Jesus propõe é contra o mal.
Ele mesmo foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios supremos.
Convidado a se sentar no Sinédrio, junto aos poderosos do Templo de Jerusalém, optou, sem desprezar ninguém, por se dedicar à gente simples, para quem ensinou bondade, compaixão, piedade.
Exatamente numa época em que a lei do mais forte imperava.
O dominador romano mandava e o povo escravo deveria obedecer.
Uma época em que os portadores de hanseníase, que conheciam como lepra, eram colocados para fora das cidades, longe do convívio dos seus amores, sem cuidado algum.
Uma época em que as crianças enjeitadas eram abandonadas nas ruas, entregues a ninguém.
Há mais de vinte séculos a Terra vive sob esses impulsos renovadores da mensagem de Jesus.
Buscar a mentirosa paz do conforto exclusivo, pensando somente em si próprio, é infelicitar-se.
Todos aqueles que pretendem seguir Jesus encontram, pela frente, a batalha pela conquista das virtudes.
Mas, igualmente, a serenidade inalterável, na Divina fonte de repouso dos corações que se unem ao amor de Jesus.
Ele é o sustentáculo da paz sublime para todos os homens bons e sincero.
A conquista da paz do Cristo, em essência, é fácil.
Basta seguir pequenas regras: não ter ambição em demasia e saber valorizar o que se tem.
Amar e perdoar, sem acumular mágoas, que somente pesam na economia da alma, infelicitando-a.
Cumprir fielmente os seus deveres, na certeza de que a paz de consciência se alcança com o dever retamente cumprido.
Finalmente, entregar-se confiante aos desígnios de Deus.
O bom Deus, que cuida das aves do céu e dos lírios do campo, vela incessantemente por todos nós.


Redação do Momento Espírita com base no cap. A espada simbólica, do livro Caminho,verdade e vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier,ed. Feb e no verbete Paz, do livro Repositório de sabedoria, v.2, pelo EspíritoJoanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

segunda-feira, março 30, 2009



História de um Pão


Por Irmão X



Quando Barsabás, o tirano, demandou o reino da morte, buscou debalde reintegrar-se no grande palácio que lhe servira de residência.



A viúva, alegando infinita mágoa, desfizera-se da moradia, vendendo-Ihe os adornos.



Viu ele, então, baixelas e candelabros, telas e jarrões, tapetes e perfumes, jóias e relíquias, sob o martelo do leiloeiro, enquanto os filhos querelavam no tribunal, disputando a melhor parte da herança.



Ninguém lhe lembrava o nome, desde que não fosse para reclamar o ouro e a prata que doara a mordomos distintos.



E porque na memória de semelhantes amigos ele não passava, agora, de sombra, tentou o interesse afetivo de companheiros outros da infância...



Todavia, entre eles encontrou simplesmente a recordação dos próprios atos de malquerença e de usura.



Barsabás, entregou-se as lágrimas de tal modo, que a sombra lhe embargou, por fim, a visão, arrojando-o nas trevas.



Vagueou por muito tempo no nevoeiro, entre vozes acusadoras, até que um dia aprendeu a pedir na oração, e, como se a rogativa lhe servisse de bússola, embora caminhasse às escuras, eis que, de súbito, se lhe extingue a cegueira e ele vê, diante de seus passos, um santuário sublime, faiscante de luzes.



Milhões de estrelas e pétalas fulgurantes povoavam-no em todas as direções.



Barsabás, sem perceber, alcançara a Casa das Preces de Louvor, nas faixas inferiores do firmamento.



Não obstante deslumbrado, chorou, impulsivo, ante o Ministro espiritual que velava no pórtico.



Após ouvi-lo, generoso, o funcionário angélico falou sereno:



- Barsabás, cada fragmento luminoso que contemplas é uma prece de gratidão que subiu da Terra ...



- Ai de mim - soluçou o desventurado - eu jamais fiz o bem...



- Em verdade - prosseguiu a informante -, trazes contigo, em grandes sinais, a pranto e a sangue dos doentes e das viúvas, dos velhinhos e órfãos indefesos que despojaste, nos teus dias de invigilância e de crueldade; entretanto, tens aqui, em teu crédito, uma oração de louvor...



E apontou-lhe acanhada estrela, que brilhava a feição de pequenino disco solar.- Há trinta e dois anos - disse, ainda, o instrutor -, deste um pão a uma criança e essa criança te agradeceu, em prece ao Senhor da Vida.



Chorando de alegria e consultando velhas lembranças, Barsabás perguntou:



- Jonakim, o enjeitado?



- Sim, ele mesmo - confirmou a missionário divino.



- Segue a claridade do pão que deste, um dia, por amor, e livrar-te-ás, em definitivo, do sofrimento nas trevas.



E Barsabás acompanhou a tênue raio do tênue fulgor que se desprendia daquela gota estelar, mas, em vez de elevar-se as Alturas, encontrou-se numa carpintaria humilde da própria Terra.



Um homem calejado aí refletia, manobrando a enxó em pesado lenho...



Era Jonakim, aos quarenta de idade.



Coma se estivessem as dois identificados no doce fio de luz, Barsabás abraçou-se a ele, qual viajante abatido, de volta ao calor do lar...



(...)Decorrido um ano, Jonakim, a carpinteiro, ostentava, sorridente, nos braços, mais um filhinho, cujos louros cabelos emolduravam belos olhos azuis.



Com a benção de um pão dado a um menino triste, por espírito de amor puro, conquistara Barsabás, nas Leis Eternas, o prêmio de renascer para redimir-se.



Xavier, Francisco Cândido. Da obra: O Espírito da Verdade. Ditado pelo Espírito Irmão X. 3 edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1977.



Sócrates

Por Humberto de Campos




Foi no Instituto Celeste de Pitágoras que vim encontrar, nestes últimos tempos, a figura veneranda de Sócrates, o ilustre filho de Sofronisco e Fenareta.



A reunião, nesse castelo luminoso dos planos erráticos, era, nesse dia, dedicada a todos os estudiosos vindos da Terra longínqua.



A paisagem exterior, formada na base de substâncias imponderáveis para as ciências da atualidade, recordava a antiga Hélade, cheia de aromas, sonoridades e melodias.



Um solo de neblinas evanescentes evocava as terras suaves e encantadoras, onde as tribos jônias e eólias localizaram a sua habitação, organizando a pátria de Orfeu, cheias de deuses e harmonias.



Árvores bizarras e floridas enfeitavam o ambiente de surpresas cariciosas, lembrando os antigos bosques de Tessália, onde Pan se fazia ouvir com as cantilenas de sua flauta, protegendo os rebanhos junto das frondes ventustas, que eram as liras dos ventos brandos, cantando as melodias da Natureza.



O palácio consagrado a Pitágoras tinha aspecto de severa beleza, com suas colunas gregas à maneiras das maravilhosas edificações da gloriosa Atenas do passado.



Lá dentro, agasalhava-se toda uma multidão de Espíritos ávidos da palavra esclarecida do grande mestre, que os cidadãos atenienses haviam condenado à morte, 399 anos antes de Jesus Cristo.



Ali se reuniam vultos venerados pela filosofia e pela ciência de todas as épocas humanas, Terpandro, Tucidides, Lísis, Esquines, Filolau, Timeu, Símias, Anaxágoras e muitas outras figuras respeitáveis da sabedoria dos homens.



Admirei-me, porém, de não encontrar ali nem os discípulos do sublime filósofo ateniense, nem os juízes que o condenaram à morte.



A ausência de Platão, a esse conclave do Infinito, impressionava-me o pensamento, quando, na tribuna de claridades divinas, se materializou aos nossos olhos o vulto venerando da filosofia de todos os séculos.



Da sua figura irradiava-se uma onda de luz levemente azulada, enchendo o recinto de vibração desconhecida, de paz suave e branda.



Grandes madeixas de cabelos alvos de neve molduravam-lhe o semblante jovial e tranqüilo, onde os olhos brilhavam infinitamente cheios de serenidade, alegria e doçura.



As palavras de Sócrates contornaram as teses mais sublimes, porém, inacessíveis ao entendimentos das criaturas atuais, tal as transcendência dos seus profundos raciocínios. À maneira das suas lições nas praças públicas de Atenas.



Falou-nos da mais avançada sabedoria espiritual, através de inquirições que nos conduziam do âmago dos assuntos; discorreu sobre a liberdade dos seres nos planos divinos que constituem a sua atual morada e sobre os grandes conhecimentos que esperam a humanidade terrestre nos seu futuro espiritual.



É verdade que não posso transmitir aos meus companheiros terrenos a ex­pressão exata dos seus ensinamentos, estribados na mais elevada das justiças, levando-se em conta a grandeza dos seus conceitos, incompreensíveis para as ideologias das pátrias no mundo atual, mas, ansioso de oferecer uma palavra do grande mestre do passado aos meus irmãos, não mais pelas vísceras do corpo e sim pelos laços afetivos da alma, atrevi-me a abordá-lo:



- Mestre - disse eu -, venho recentemente da Terra distante, para onde encontro possibilidade de mandar o vosso pensamento.



Desejaríeis enviar para o mundo as vossas mensagens benevolentes e sábias?-



Seria inútil - respondeu-me bondosamente -, os homens da Terra ainda não se reconheceram a si mesmos.



Ainda são cidadãos da pátria, sem serem irmãos entre si.



Marcham uns contra os outros, ao som de músicas guerreiras e sob a proteção de estandartes que os desunem, aniquilando-lhes os mais nobres sentimentos de humanidade.



- Mas... - retorqui - lá no mundo há uma elite de filósofos que se sentiriam orgulhosos de vos ouvir!...



- Mesmo entre eles as nossas verdades não seriam reconhecidas.



Quase todos estão com o pensamento cristalizado no ataúde das escolas.



Para todos os espíritos, o progresso reside na experiência.



A história não vos fala do suicídio orgulhoso de Empédocles de Agrigento, nas lavas de Etna, para proporcionar aos seus contemporâ­neos a falsa impressão de sua ascensão para os céus?



Quase todos os estudiosos da Terra são assim; o mal de todos é o enfatuado convencimento de sabedoria.



Nossas lições valem somente como roteiro de coragem para cada um, nos grandes momentos de experiência individual, quase sempre difícil e dolorosa.



Não crucificaram, por lá, o Filho de Deus, que lhes oferecia a própria vida para que conhecessem e praticassem a Verdade?



O pórtico da pitonisa de Delfos está cheio de atualidade para o mundo.



Nosso projeto de difundir a felicidade na Terra só terá realização quando os Espíritos ainda encarnados deixarem de ser cidadãos para serem homens conscientes de si mesmos.



Os Estados e as Leis são invenções puramente humanas, justificáveis, em virtude da heterogeneidade com respeito à posição evolutiva das criaturas; mas, enquanto existirem, sobrará a certeza de que o homem não se descobriu a si mesmo, para viver a existência espontânea e feliz, em comunhão com as disposições divinas da natureza espiritual.



A Humanidade está muito longe de compreender essa fraternidade no campo sociológico.Impressionado com estas respostas, continuei a interrogá-lo:



- Apesar dos milênios decorridos, tendes a exprimir alguma reflexão aos homens, quanto à reparação do erro que cometeram, condenando-vos à morte?



- De modo algum. Mélitos e outros acusadores estavam no papel que lhes competia, e a ação que provocaram contra mim nos tribunais atenienses só podia valorizar os princípios da filosofia do bem e da liberdade que as vozes do Alto me inspiravam, para que eu fosse um dos colaboradores na obra de quantos precederam, no planeta, o pensamento e o exemplo vivo de Jesus Cristo.



Se me condenaram à morte, os meus juízes estavam igualmente condenados pela natureza; e, até hoje, enquanto a criatura humana não se descobrir a si mesma, os seus destinos e obras serão patrimônios da dor e da morte.



- Poderíeis dizer algo sobre a obra dos vossos discípulos?



- Perfeitamente - respondeu-me o sábio ilustre -, é de lamentar as observações mal avisadas de Xenofonte, lamentando eu igualmente, que Platão, não obstante a sua coragem e seu heroísmo, não haja representado fielmente a minha palavra junto dos nossos contemporâneos e dos nossos pósteros.



A História admirou na sua Apologia os discursos sábios e bem feitos, mas a minha palavra não entoaria ladainhas laudatórias aos políticos da época e nem se desviaria para as afirmações dogmáticas no terreno metafísico.



Vivi com a minha verdade para morrer com ela.



Louvo, todavia, a Antístenes, que falou com mais imparcialidade a meu respeito de minha personalidade que sempre se reconheceu insuficiente.



Julgáveis então que me abalançasse, nos últimos instantes da vida, a recomendações no sentido de que pagasse um galo à Esculápio?



Semelhante expressão, a mim atribuída, constitui a mais incompreensível das ironias.



- Mestre, e o mundo? - indaguei.-



O mundo atual é a semente do mundo paradisíaco do futuro.



Não tenhais pressa.



Mergulhando-me no labirinto da História, parece-me que as lutas de Atenas e Esparta, as glórias do Pártenon, os esplendores do século de Péricles, são acontecimentos de há poucos dias; entretanto, soldados espartanos e atenienses, censores, juízes, tribunais, monumentos políticos da cidade que foi a minha pátria estão hoje reduzidos a um punhado de cinzas!...



A nossa única realidade é a vida do Espírito.



- Não vos tentaria alguma missão de amor na face do orbe terrestre, dentro dos grandes objetivos da regeneração humana?



- Nossa tarefa, para que os homens se persuadam com respeito à Verdade, deve ser toda indireta.



O homem terá de realizar-se interiormente pelo trabalho perseverante, sem o que todo esforço dos mestres não passará do terreno puro verbalismo.



E, como se estivesse concentrado em si mesmo, o grande filósofo sentenciou:



- As criaturas humanas ainda não estão preparadas para o amor e para a liberdade...



Durante muitos anos, ainda, todos os discípulos da verdade terão de morrer muitas vezes!...



E, enquanto o ilustre sábio ateniense se retirava do recinto, junto de Anaxágoras, dei por terminada a preciosa e rara entrevista.



In: CAMPOS, Humberto; XAVIER, Francisco Cândido. Crônicas de além-túmulo, Rio de Janeiro: FEB.



Bilhete Paternal

Irmão X



Sim, meu filho, talvez por um capricho dos seus treze anos, você deseja receber um bilhete do amigo desencarnado, cujas páginas começou a ler.



Você – um menino! – solicita orientação espiritual.



Tenho escrito muitos contos, depois da morte, mas sinceramente não me recordo de haver dirigido, até hoje, qualquer recado a gente verde do seu porte.



Perdoe se não lhe correspondo à expectativa.



Diz você que não espera uma estória da carochinha, baseada em gênios protetores.



E remata: "quero, irmão X, que você me diga quais são as coisas mais importantes da vida, apontando-me aquilo de bom que devo querer e aquilo de mau que preciso evitar".



Lembro-me, assim, de oferecer a você uma lista curiosa que um velho amigo me ofereceu, ai no mundo, precisamente quando eu tinha sua idade.



A relação apresentava o título "Aprenda meu filho..." e continha as seguintes informações:



1. O maior e melhor amigo: DEUS.



2. Os melhores companheiros : os pais.



3. A melhor casa: o lar.



4. A maior felicidade: a boa consciência.



5. O mais belo dia: hoje.



6. O melhor tempo: agora.



7. A melhor regra para vencer: a disciplina.



8. O melhor negócio: o trabalho.



9. O melhor divertimento: o estudo.



10. A coleção mais rica: a das boas ações.



11. A estrada mais fácil para ser feliz: o caminho reto.



12. A maior alegria: o dever cumprido.



13. A maior força: o bem.



14. A melhor atitude: a cortesia.



15. O maior heroísmo: a coragem de ser bom.



16. A maior falta: a mentira.



17. A pior pobreza: a preguiça.



18. O pior fracasso: o desânimo.



19. O maior inimigo: o mal.



20. O melhor dos esportes: a prática do bem.



Siga esta lista de informações, sempre que você puder, e veja por si como vai indo sua orientação.

E se quer mais um aviso de amigo velho, cada noite acrescente esta pergunta a você mesmo, depois de sua oração para o repouso: "Que fiz hoje de bom que somente um amigo de Jesus conseguiria fazer?"




Xavier, Francisco Cândido. Ditado pelo Espírito Irmão X.



Confia Sempre

Meimei




Não percas a tua fé entre as sombras do mundo.



Ainda que os teus pés estejam sangrando, segue para a frente, erguendo-a por luz celeste, acima de ti mesmo.



Crê e trabalha.



Esforça-te no bem e espera com paciência.



Tudo passa e tudo se renova na terra, mas o que vem do céu permanecerá.



De todos os infelizes os mais desditosos são os que perderam a confiança em Deus e em si mesmo, porque o maior infortúnio é sofrer a privação da fé e prosseguir vivendo.



Eleva, pois, o teu olhar e caminha.



Luta e serve.



Aprende e adianta-te.



Brilha a alvorada além da noite.



Hoje, é possível que a tempestade te amarfanhe o coração e te atormente o ideal, aguilhoando-te com a aflição ou ameaçando-te com a morte...



Não te esqueças, porém, de que amanhã será outro dia.



Xavier, Francisco Cândido. Ditado pelo espírito Meimei




Solução

André Luiz




Se você procura solução adequada ao seu problema, não olvide o grande remédio do Trabalho, doador de infinitos recursos, em favor do progresso do Homem e da Humanidade.



Seu cérebro vive cheio de perguntas? Trabalhe e o serviço conferir-lhe-á respostas exatas.



Suas mãos permanecem paralisadas pelo desânimo? Insista no trabalho e o movimento voltará.



Seus braços jazem fatigados?Confie-se ao esforço novamente e a ação simbolizará para eles o lubrificante preciso.



Seu coração vive pesaroso e sem luz?Procure agir no bem incessante e a alegria ser-lhe-á precioso salário.



Seus ideais encontraram sombra e gelo no grande caminho da vida?Dê seu concurso às boas obras sem desfalecer e claridades novas brilharão no céu de seus pensamentos.



A parada que não significa descanso construtivo para recomeçar as atividades úteis é alguma coisa semelhante à morte.



Todos os males da retaguarda podem surpreender aquele que não avança.



Mas se você acredita no poder do Trabalho, aceitando o serviço aos semelhantes, por norma de viver em paz, na obediência a Deus, o seu espírito terá penetrado realmente o verdadeiro caminho da salvação.



Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Endereços de Paz. Ditado pelo Espírito André Luiz. CEU.

sábado, março 28, 2009




Em Torno da Felicidade

André Luiz

Em matéria de felicidade convém não esquecer que nos transformamos sempre naquilo que amamos.



Quem se aceita como é, doando de si a vida o melhor que tem, caminha mais facilmente para ser feliz como espera ser.



A nossa felicidade será naturalmente proporcional em relação a felicidade que fizermos para os outros.



A alegria do próximo começa muitas vezes no socorro que você lhe queira dar.



A felicidade pode exibir-se, passear, falar e comunicar-se na vida externa, mas reside com endereço exato na consciência tranquila.



Se você aspira a ser feliz e traz ainda consigo determinados complexos de culpa, comece a desejar a própria libertação, abraçando no trabalho em favor dos semelhantes o processo de reparação desse ou daquele dano que você haja causado em prejuízo de alguém.



Estude a si mesmo, observando que o auto-conhecimento traz hulmildade e sem humildade é impossível ser feliz.



Amor é a força da vida e trabalho vinculado ao amor é usina geradora de felicidade.



Se você parar de se lamentar, notará que a felicidade está chamando o seu coração para vida nova.




Quando o céu estiver em cinza, a derramar-se em chuva, medite na colheita farta que chegará do campo e na beleza das flores que surgirão no jardim.



Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Sinal Verde. Ditado pelo Espírito André Luiz. 42 edição. Uberaba-MG: CEC. 1996.




A benéfica influência da música



No mês de março de 2008, a revista científica Brain divulgou um estudo realizado por cientistas da Universidade de Helsinque, na Finlândia, com pacientes que sofreram derrame cerebral.



Sessenta voluntários participaram da pesquisa, divididos em três grupos.



O primeiro, formado por pacientes que foram expostos à audição musical, por duas horas diárias.



O segundo, por pacientes que ouviam livros-áudio.



O terceiro grupo não ficou exposto a nenhum tipo de estímulo auditivo.



Após três meses, os cientistas observaram que a memória verbal melhorara 60% entre os pacientes que ouviam música, comparado com apenas 18% do grupo dos livros-áudio e 29% entre os pacientes que não receberam estímulos auditivos.



A pesquisa demonstrou ainda que os pacientes que ouviram música, durante a recuperação, revelaram uma melhora de 17% na concentração e na habilidade de controlar e realizar operações mentais e resolver problemas.



Teppo Sarkamo, que liderou o estudo, disse que a exposição à música durante o período de recuperação estimula a atividade cognitiva e as áreas do cérebro afetadas pelo derrame.



Além de ajudar a prevenir a depressão nos pacientes.



A notícia é alvissareira e demonstra que, a cada dia, o homem avança no conhecimento, ampliando seus conceitos.



Que cientista conceberia, em anos recuados, que a arte poderia auxiliar a recuperação do cérebro humano?



Os que acreditam no Espírito, os artistas, os estetas, mais de uma vez sentiram o êxtase ao ouvirem determinadas peças musicais e falaram de suas propriedades.



A respeito da ação da música, em março de 1869, o Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec estampou, em sua Revista Espírita, uma página mediúnica, assinada pelo consagrado Rossini.



O compositor italiano Gioachino Antonio Rossini, autor de música sacra, de música de câmara e de 39 óperas, dentre elas as célebres O barbeiro de Sevilha e Cinderela, escreveu:A influência da música sobre a alma, sobre o seu progresso moral, é reconhecida por todo o mundo.



A harmonia coloca a alma sob o poder de um sentimento que a desmaterializa.



Tal sentimento existe num certo grau, mas se desenvolve sob a ação de um sentimento similar mais elevado.



A música exerce uma influência feliz sobre a alma.



E a alma, que concebe a música, também exerce sua influência sobre a música.



A alma virtuosa, que tem a paixão do bem, do belo, do grande, e que adquiriu harmonia, produzirá obras-primas capazes de penetrar as almas mais encouraçadas e de comovê-las.



Por fim, diz o compositor que moralizando os homens, o Espiritismo exercerá grande influência sobre a música.



Produzirá mais compositores virtuosos, que comunicarão suas virtudes, fazendo ouvir suas composições.




Utilizemos a música em nossa vida.


A música que emociona, que eleva.


Não há necessidade de se ouvir somente música erudita, clássica.


Há tantos compositores populares, de tantos países, com músicas belíssimas, que encantam e extasiam os que as escutam.


Busquemo-las e deixemos que nossa alma cresça, enchendo-se de sons, de harmonia, de beleza.



Redação do Momento Espírita, com base em notícia colhida no Boletim SEI nº 2121e do artigo Dissertações espíritas, da Revista Espírita, março de 1869, ed. Feb