Votos de Ano Novo de um Espírita de Leipzig
Revista Espírita
Maio de 1868
Um Espírita de Leipzig mandou imprimir em alemão o seguinte cartão, cuja tradução temos o prazer de dar:
MEUS AUGÚRIOS A TODOS OS ESPIRITAS E ESPIRITUALISTAS DE LEIPZIG, PARA O ANO NOVO.
Também a vós que vos chamais materialistas, porque só quereis conhecer a matéria, eu seria tentado a vos mandar os meus augúrios de felicidade, mas temeria que considerásseis isto como uma ousadia de um estranho que não tem o direito de se contar entre vós.
É diferente com os Espiritualistas, que estão no mesmo terreno que os Espíritas, no tocante à convicção na imortalidade da alma, em sua individualidade e em seu estado feliz ou infeliz depois da morte.
Os Espiritualistas e os Espíritas reconhecem em cada homem uma alma irmã da sua e, por isto, me dão o direito de lhes enviar meus augúrios.
Uns e outros que, sustentados por sua graça, terão coragem para suportar as provações dos dias infelizes, a força de trabalhar em seu aperfeiçoamento, dominando suas paixões.
A vós, caros Espíritas, irmãos e irmãs conhecidos e desconhecidos, eu vos desejo particularmente um ano feliz, porque recebestes de Deus, para a vossa peregrinação terrena, um grande apoio no Espiritismo.
A religião a todos veio trazer a fé e bem-aventurados os que a conservaram. Infelizmente ela está extinta num grande número; eis porque Deus envia uma nova arma para combater a incredulidade, o orgulho e o egoísmo, que tomam proporções cada vez maiores.
Essa arma nova é a comunicação com os Espíritos;
por ela temos a fé, porque nos dá a certeza da vida da alma, e nos permite lançar um olhar na outra vida;
assim reconhecemos a vaidade da felicidade terrena, e temos a solução das dificuldades que nos faziam duvidar de tudo, mesmo da existência de Deus.
Disse Jesus a seus discípulos: “Teria ainda muitas coisas a vos dizer, mas não poderíeis ainda suportá-las”.
Hoje, tendo a humanidade progredido, pode compreendê-las.
Eis porque Deus nos deu a ciência do Espiritismo, e a prova que a humanidade está madura para esta ciência, é que esta ciência existe.
É inútil negar e troçar.
Como outrora era inútil negar e troçar os fatos adiantados por Copérnico e Galileu.
Então esses fatos eram tão pouco conhecidos quanto o são agora os do mundo dos Espíritos.
Como outrora, os primeiros opositores são os sábios, até o dia em que, vendo-se isolados, reconhecerão humildemente que as novas descobertas, como o vapor, a eletricidade e o magnetismo, outrora desconhecidos, não são a última palavra das leis da Natureza.
Serão responsáveis perante as gerações futuras por não terem acolhido a ciência nova como irmã das outras e por terem-na repelido como uma loucura.
É verdade que ela não ensina nada de novo proclamando a vida da alma, pois o Cristo dela falou; mas o Espiritismo derruba todas as dúvidas e lança uma nova luz sobre esta questão.
Entretanto, guardemo-nos de considerar como inúteis os ensinamentos do cristianismo, e de os crer substituídos pelo Espiritismo;
ao contrário, fortifiquemo-nos na fonte das verdades cristãs, para as quais o Espiritismo não é senão um novo facho, o fim, que nossa inteligência e nosso orgulho não nos desgarrem.
O Espiritismo nos ensina, antes de mais nada, que “Sem o amor e a caridade, não há felicidade”, isto é, que é preciso amar ao próximo como a si mesmo; apoiando-se nesta verdade cristã, ele abre o caminho para a realização desta palavra do Cristo: “Um só rebanho e um só pastor.”
Assim, pois, caros irmãos e irmãs Espíritas, permiti que meus votos pelo ano novo junte ainda esta prece: Que jamais useis mal o poder de comunicação com o mundo espiritual.
Não esqueçamos que, conforme a lei, sobre a qual repousam nossas relações com os Espíritos, os maus não estão excluídos das comunicações.
Se é difícil constatar a identidade de um Espírito que não conhecemos, é fácil distinguir os bons dos maus.
Estes podem ocultar-se sob a máscara da hipocrisia, mas um bom Espírito os reconhece sempre;
eis porque não nos devemos ocupar dessas coisas levianamente, porque podemos ser joguete de Espíritos mais, posto que inteligentes, como por vezes são encontrados no mundo dos encarnados.
Se compararmos nossas comunicações com as que são obtidas nas reuniões dos Espíritos fervorosos e sinceros, logo saberemos reconhecer se estamos no bom caminho.
Os Espíritos elevados se fazem reconhecer por sua linguagem, que é a mesma por toda parte, sempre de acordo com o Evangelho e a razão humana.
O meio de se preservar dos maus Espíritos é, para começar, fazer uma prece sincera a Deus;
depois, jamais empregar o Espiritismo para coisas materiais.
Os maus Espíritos estão sempre prontos a satisfazer todos os pedidos e, por vezes, se dizem coisas justas, o mais das vezes enganam com intenção ou por ignorância, porque os Espíritos inferiores não sabem mais do que durante sua existência terrestre.
Os bons Espíritos, ao contrário, nos ajudam em nossos esforços a nos melhorarmos e nos dão a conhecer a vida espiritual, a fim de que possamos assimilá-la a nossa.
Tal é o objetivo para onde devem tender todos os Espíritas sinceros.
Adolf, Conde de Poninski.
Leipzig, 1º de Janeiro de 1868.
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INFORMAÇÕES : A Revista Espírita denominada Jornal de Estudos Psicológicos foi publicada sob a direção de Allan Kardec .
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