O Espiritismo no Brasil
Humberto de Campos
Numerosos companheiros de Allan
Kardec já haviam regressado às luzes da espiritualidade quando inúmeras
entidades do serviço de direção dos movimentos espiritistas no planeta
deliberaram efetuar um balanço de realizações e de obras em perspectiva, nos
arraiais doutrinários, sob a bênção misericordiosa e augusta do Cordeiro de
Deus.
Vivia-se, então, no limiar do
século XX, de alma aturdida ante as renovações da indústria e da ciência, aguardando-se
as mais proveitosas edificações para a vida do globo.
Falava-se aí, nesse conclave do
plano invisível, com respeito à propagação da nova fé, em todas as regiões do
mundo, procurando-se estudar as possibilidades de cada país, no tocante ao
grande serviço de restauração do Cristianismo, em suas fontes simples e puras.
Após várias considerações, em
torno do assunto, o diretor espiritual da grande reunião falou com segurança e
energia:
- "Irmãos de eternidade: no mundo
terrestre, de modo geral, as doutrinas espiritualistas, em sua complexidade e
transcendência, repousam no coração da Ásia adormecida; mas, precisamos
considerar que o Evangelho do Divino Mestre não conseguiu ainda harmonizar
essas variadas correntes de opinião do espiritualismo oriental com a
fraternidade perfeita, em vista das nações do Oriente se encontrarem
cristalizadas na sua própria grandeza, há alguns milênios”.
Em breve, as forças da violência
acordarão esses países que dormem o sono milenário do orgulho, numa
injustificável aristocracia espiritual, afim de que se integrem na lição da
solidariedade verdadeira, mediante os ensinamentos do Senhor!...
Urge, pois,
nos voltemos para a Europa e para a América, onde, se campeiam as inquietações
e ansiedades, existe um desejo real de reforma, em favor da grande cooperação
pelo bem comum da coletividade.
Certo, essa renovação é sinônima de muitas dores
e dos mais largos tributos de lágrimas e de sangue; mas, sobre as ruínas da
civilização ocidental, deverá florescer no futuro uma sociedade nova, sobre a
base da solidariedade e da paz, em todos os caminhos dos progressos humanos...
Examinemos os resultados dos primeiros esforços do Consolador no Velho
Mundo!..."
E os representantes dos exércitos
de operários, que laboram nos diversos países da Europa e da América, começaram
a depor, sobre os seus trabalhos, no congresso do plano invisível,
elucidando-os sinteticamente:
- "A França - exclamava um
deles - berço do grande missionário e codificador da doutrina, desvela-se pelo
esclarecimento da razão, ampliando os setores da ciência humana, positivando a
realidade de nossa sobrevivência, através dos mais avançados métodos de
observação e de pesquisa.
Lá se encontram ainda numerosos mensageiros do Alto,
como Denis, Flammarion e Richet, clareando ao mundo os grandes caminhos filosóficos
e científicos do porvir".
- "A Grã Bretanha - afirmava
outro - multiplica os seus centros de estudo e de observação, intensificando as experiências de
Crookes e dissolvendo antigos preconceitos."
- "A Itália - asseverava
novo mensageiro - teve com Lombroso o início de experiências decisivas.
O próprio Vaticano se interessa
pela movimentação das idéias espiritistas, no seio das classes sociais, onde
foi estabelecido rigoroso critério de análise, no comércio com os planos
invisíveis para o homem terrestre."
- "A Rússia, bem como outras
regiões do Norte - prosseguia outro emissário – conseguira com Aksakof a
difusão de nossas verdades consoladoras.
Até a corte do Czar se vem interessando
nas experimentações fenomênicas da doutrina."
- "A Alemanha - afirmava
ainda outro - possui numerosos físicos que se preocupam cientificamente com os
problemas da vida e da morte, enriquecendo os nossos esforços de novas
expressões de experiência e cultura..."
Iam as exposições a essa altura,
quando uma luz doce e misericordiosa inundou o ambiente da reunião de sumidades
do plano espiritual.
Todos se calaram, tomados de emoção indizível, quando uma
voz, augusta e suave, falou, através das vibrações radiosas de que se tocava a
grande assembléia:
- "Amados meus, não tendes
para a propagação da palavra do Consolador, senão os recursos da falível
ciência humana?
Esquecestes que os excessos do raciocínio prejudicaram o coração
das ovelhas desgarradas do grande rebanho?
Não haverá verdade, sem humildade e
sem amor, porque toda a realidade do Universo e da vida deve chegar ao
pensamento humano, antes de tudo, pela fé, ao sopro dos seus resplendores eternos e divinos!...
Operários
do Evangelho: excelente é a ciência bem intencionada do mundo, mas não esqueçais
o coração, em vossos labores sublimes...
Procurai a nação da fraternidade e da
paz, onde se movimenta o povo mais emotivo do globo terrestre, e iniciai aí uma
tarefa nova.
Se o Cristo edificou a sua igreja sobre a pedra segura e
inabalável da fé que remove montanhas e se o Consolador significa a doutrina
luminosa e santa da esperança de redenção suprema das almas, todos os seus
movimentos devem conduzir à caridade, antes de tudo, porque sem caridade não
haverá paz, nem salvação para o mundo que se perde!..."
Uma copiosa efusão de luzes, como
bênçãos do Divino Mestre, desceu do Alto sobre a grande assembléia, assim que o
apóstolo do Senhor terminou a sua exortação comovida e sincera, luzes essas que
se dirigiam, como aluvião de claridades, para a Terra generosa e grande que
repousa sob a luz gloriosa da constelação do Cruzeiro.
E foi assim que a caridade selou,
então, todas as atividades do Espiritismo brasileiro.
Seus núcleos, em todo o
país, começaram a representar os centros de eucaristia divina para todos os
desesperados e para todos os sofredores.
Multiplicaram-se as tendas de trabalho
do Consolador, em todas as suas cidades prestigiosas, e as receitas mediúnicas,
os conselhos morais, os postos de assistência, as farmácias homeopatas gratuitas,
os passes magnéticos, multiplicaram-se, em toda parte no Brasil, para a fusão
de todos os trabalhadores, no mesmo ideal de fraternidade e de redenção pela
caridade mais pura.
Mensagem recebida pelo médium Francisco
Cândido Xavier, em 5 de novembro de 1938
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito
Humberto de Campos. Novas Mensagens, p.02-03.
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