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sábado, janeiro 20, 2018

Sobre o Julgar Incessantemente - Cezar Braga Said




Sobre o Julgar Incessantemente


Cezar Braga Said

O hábito de fazer juízos, exprimindo opiniões e qualificando algo como bom ou ruim, certo ou errado, é algo que desde criança aprendemos a fazer.


Nos diferentes grupos sociais nos quais interagimos, parece haver uma necessidade tácita, um impulso quase irresistível de dizer a todo instante o que pensamos. E se resolvemos apenas ouvir, nos calando um pouco, somos convidados e até cobrados a "pôr para fora" o que nos vai por dentro.


O uso da razão, o exercício do senso crítico, a capacidade de análise são conquistas evolutivas que não devemos desprezar e, por certo, Jesus não nos convida a restringir tais conquistas ao propor cuidado em nossos julgamentos (Mateus 7:1 e Lucas 6:37).


A questão é que julgar o tempo inteiro tudo, todos e a nós mesmos, de modo contínuo, sem intervalos num "ruminar constante de pensamentos", gera um cansaço mental, um esgotamento que pode comprometer a nossa capacidade de sentir e experimentar sensações sem a necessidade de qualificá-las.


Claro que precisamos nos conhecer e a introspecção, a reflexão e as terapias são ferramentas importantes neste processo. 


Elas nos ajudam a perceber quando estamos pensando muito e sentindo pouco ou o contrário. Nos permitem encontrar "um meio termo" que seja saudável e útil.


A questão é que por vezes nos resumimos e nos reduzimos exclusivamente ao que pensamos, não abrindo espaços internos. 


Espaços para:


Contemplar um pôr do sol em silêncio verbal e mental.


Apreciar a chuva, observando o vento balançando as árvores e movimentando as nuvens.


Ver o ir e vir das ondas no mar sem especular questões de física, química, biologia, apenas registrando a beleza, o fluxo, a poesia que tal movimento encerra.


Deixar que uma melodia penetre na acústica da alma sem especulações.


Permitir que uma pintura nos encante, emocione e nada mais...


Trata-se de uma proposta milenar, ainda que desconhecida por alguns e deixada de lado por outros.


Para desenvolver e cultivar esta quietude é preciso, além de outras coisas, controlar o desejo de sempre ensinar, especular, perguntar, problematizar, a fim de curtir, criando espaços na mente para sorver, sentir ...


Avaliemos não apenas a qualidade e a intenção dos nossos juízos, acertados ou equivocados, precisos ou distorcidos, mas igualmente a frequência com que eles se manifestam.


Desse modo, estaremos não apenas desacelerando nosso ritmo frenético, mas adquirindo um pouco mais de harmonia, sensibilidade e empatia na hora em que desejarmos exprimir nossas opiniões e julgamentos.



Cezar Braga Said

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