A Paixão De Jesus
Ewerton Quadros
Cap. XIX – Item 7
O Espiritismo não nos abre o caminho da deserção do
mundo.
Se é justo evitar os abusos do século, não podemos chegar ao exagero de querer viver fora dele.
Usufruamos a vida que Deus nos dá,
respirando o ar das demais criaturas, nossas irmãs.
Para seguir a própria consciência, podemos
dispensar a virtude intocável que forja a santidade ilusória.
Não sejamos sombras vivas, nem transformemos nossos
lares em túmulos enfeitados por filigranas de adoração.
Nossa fé não é campo fechado à espontaneidade.
Encarnados e desencarnados precisamos ser prudentes, mas isso não significa devamos reprimir expansões sadias e não nos abracemos uns aos outros.
A abstinência do mal não impõe restrições ao bem.
Assim como a virtude jactanciosa é defeito quanto
qualquer outro, a austeridade afetada é ilusão semelhante às demais.
Não façamos da vida particular uma torre de marfim
para encastelar os princípios superiores, ou estrado de exibição para
entronizar o ponto de vista.
A convicção espírita não é insensível ou
impertinente.
A inflexibilidade, no dever, não exige frieza de coração.
Fujamos ao proselitismo fanatizante, mas nem por isso cultivemos nos
outros a aversão por nossa fé.
Se o papel de vítima é sempre o melhor e o mais
confortável, nem por isso, a título de representá-lo, podemos forçar a nossa
existência, transformando em verdugos, à força, as criaturas que nos rodeiam.
Não sejamos policiais do Evangelho, mas candidatemo-nos
a servidores cristãos.
Nem caridade vaidosa que agrave a aspereza do
próximo, nem secura de coração que estiole a alegria de viver.
Quem transpira gelo, dentro em breve caminhará em
atmosfera glacial.
A crença aferrolhada no orgulho desencadeia
desastres tão grandes quanto aqueles criados pelo materialismo.
Não sejamos companhias entediantes.
Um sorriso de bondade não compromete a ninguém.
A fé espírita reside no justo meio-termo do bem e
da virtude.
Nem o silêncio perpétuo da meia-morte, que destrói
a naturalidade, nem a fala medrosa da inibição a beirar o ridículo.
Nem olhos baixos de santidade artificiosa, nem
anseio inexperiente de se impor a todo preço.
Nem cumplicidade no erro, na forma de vício, nem
conivência com o mal, na forma de aparente elevação.
Fé espírita é libertação espiritual.
Não ensina a reserva calculada que anula a comunicabilidade, constrangendo os outros, nem recomenda a rigidez de hábitos que esteriliza a vida simples.
Nem tristeza
sistemática, nem entusiasmo pueril.
Abstenhamo-nos da falsa ideia religiosa, suscetível
de repetir os desvios de existências anteriores, nas quais vivemos em
misticismo acabrunhante.
Desfaçamos os tabus da superioridade mentirosa, na
certeza de que existe igualmente o orgulho de parecer humilde.
O Espiritismo nos oferece a verdadeira confiança, raciocinada e renovadora;
eis por que o espírita não está condenado a atividade inexpressiva ou vegetante.
Caridade é dinamismo do amor.
Evangelho é alegria.
Não é sistema de restringir as ideias ou tolher as manifestações, é vacinação
contra o convencionalismo absorvente.
Busquemos o povo – a verdadeira paixão de Jesus –,
convivendo com ele, sentindo-lhe as dores, e servindo-o sem intenções
secundárias, conforme o “amai-vos uns aos outros” – a senda maior de nossa
emancipação.
XAVIER, Francisco Cândido; Waldo Vieira Por Espíritos Diversos. Espírito da verdade, cap 38. Jesus Cristo: Ilustração
Reproduzida da Internet.
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