Ando devagar porque já tive pressa
Ando devagar porque já tive pressa...
Pressa de ter tantas
coisas, de chegar a tantos lugares, pressa do ter, do parecer.
Mas hoje ando a passo lento, pois já entendo que a vida é
uma busca de si mesmo, do ser: ser melhor, ser amável, ser amigo, ser sensível,
ser compassivo, ser caridoso...
Hoje compreendo que é preciso paz para poder sorrir, pois o
sorriso verdadeiro, a felicidade autêntica, vem da paz de espírito, a paz de
consciência, de quem segue o caminho do bem a todo custo.
Entendo também que as chuvas são bem-vindas, e que sem elas
não há floradas, pois é preciso chuva para florir.
A dor nos esculpe a alma, quando bem entendida, quando bem
absorvida nos passos diários da lida.
Ando devagar porque já tive pressa...
Pressa do sucesso a
qualquer custo, pressa de ser popular, de ser o primeiro, de agradar a todos...
Mas hoje ando tranquilo, percebendo mais as manhas e as
manhãs, o sabor das massas e das maçãs, absorvendo a vida em toda sua plenitude.
O viver pode ser o mesmo, as circunstâncias podem permanecer
inalteradas, mas minhas lentes são outras.
Enxergo tudo de outra forma.
E o mais importante de tudo: descobri que para cumprir a
vida, para cumprir meu papel, minha missão aqui, preciso compreender minha
própria marcha.
Sêneca, antigo sábio, afirmou que nenhum vento é a favor
para quem não sabe para onde ir.
Então, compreender a marcha é fundamental.
Precisamos saber para onde estamos indo, precisamos saber o que é nossa marcha,
nossa vida.
Só então posso ir tocando em frente, com simplicidade e
devoção, com alegria e coração.
Pois todos temos talento, todos carregamos o dom de ser
capaz e ser feliz.
A felicidade não é para poucos, não, é para todos.
E cada um
a vai encontrando no seu tempo, no seu momento, da sua forma.
Ando devagar porque já tive pressa...
Pressa de partir, já
quis desistir de tudo, em alguns momentos, mas hoje ando como que em câmera
lenta, com a coragem de quem quer ficar e ver tudo até o fim.
Carrego esse sorriso porque já chorei demais, mas isso não
quer dizer que não voltarei a derramar alguma gota dos olhos.
Significa apenas
que os sorrisos serão a regra. A lágrima, exceção.
Ando devagar no passo curto dos meus filhos, pois se
resolver andar acelerado, os deixarei para trás.
Ando devagar para perceber o sabiá cantador, pois se torno
minha vida uma bomba-relógio, passo a não perceber a vida que passa ao largo de
meus passos, e assim, os sabiás passam a não existir mais.
Ando devagar para ainda conseguir olhar onde piso, e não
esmagar nada, nem ninguém com minha desatenção ou deselegância.
Ando devagar para pensar um tanto mais antes de agir, para
escolher as palavras certas, para digerir uma ideia nova, para escolher um
caminho, para silenciar a mim mesmo por alguns instantes.
Ando devagar... Porque já tive pressa.
* * *
A vida é especialmente rica para que se passe por ela, às
pressas, sem atentar para os detalhes.
O mundo é pleno de belezas para que se o percorra aos
saltos, sem nos determos a descobrir as belezas das flores, o segredo das
matas, o encanto das fontes.
Pensemos nisso!
Redação do Momento Espírita, com base na canção Tocando em
frente, de Almir Sater. Disponível em www.momento.com.br.
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