Afetividade conflitiva
Joanna de Ângelis
A busca da afetividade constitui-se em uma necessidade de
intercâmbio e de relacionamento entre as criaturas humanas ainda imaturas.
Acreditam, aqueles que assim procedem, que somente através de outrem é possível
experimentar a afeição, recebendo-a e doando-a.
Como decorrência, as pessoas
que se sentem solitárias, atormentam-se na incessante inquietação de que
somente sentirão segurança e paz, quando encontrem outrem que se lhe constitua
suporte afetivo.
Nesse conceito, encontra-se um grande equívoco, qual seja
esperar de outra pessoa a emoção que lhe constitua completude, significando
autorrealização.
Um solitário, quando se apóia em outro indivíduo, que também
tem necessidade afetiva, forma uma dupla de buscadores a sós, esperando aquilo
que não sabem ou não desejam oferecer.
É claro que esse relacionamento está
fadado ao desastre, à separação, em face de se encontrarem ambos distantes um
do outro emocionalmente, cada qual pensando em si mesmo, apesar da proximidade
física.
Faz-se imprescindível desenvolver a capacidade de amar,
porque o amor também é aprendido.
Ele se encontra ínsito no ser como
decorrência da afeição divina, no entanto, não poucas vezes adormecido ou não
identificado, que deve ser trabalhado mediante experiências de fraternidade, de
respeito e de amizade.
Partindo-se de pequenas conquistas emocionais e de júbilos
de significado singelo, desenvolve-se mediante a arte de servir e de ajudar,
criando liames que se estreitam e se ampliam no sentimento.
Estreitam-se, pelo
fato de se aprender união com outrem e ampliam-se mediante a capacidade de
entendimento dos limites do outro, sem exigências descabidas nem largas ao
instinto perturbador de posse, nas suas tentativas de submissão alheia...
Resultante de muitos conflitos que aturdem o equilíbrio
emocional, esses indivíduos insatisfeitos, que se acostumaram às bengalas e às
fugas psicológicas, pensam que através da afetividade que recebam lograrão o
preenchimento do vazio existencial, como se fosse uma fórmula miraculosa para
lhe solucionar as inquietações.
Os conflitos devem ser enfrentados nos seus respectivos
campos de expressão e nunca mediante o mascaramento das suas exigências,
transferindo-se de apresentação.
Os fatores psicológicos geradores dessas
embaraçosas situações são muito complexos e necessitam de terapêuticas
cuidadosas, de modo que possam ser diluídos com equilíbrio, cedendo lugar a
emoções harmônicas propiciadoras de bem-estar.
A afetividade desempenha importante labor, qual seja o
desenvolver da faculdade de amar com lucidez, ampliando o entendimento em torno
dos significados existenciais que se convertem em motivações para o
crescimento intelecto-moral.
Quando se busca o amor, possivelmente não será encontrando
em pessoas, lugares ou situações que pareçam propiciatórias.
É indispensável
descobri-lo em si mesmo, de modo a ampliá-lo no rumo das demais pessoas.
Qual uma chama débil que se agiganta estimulada por
combustível próprio, o amor é vitalizado pelo sentimento de generosidade e
nunca de egoísmo que espera sempre o benefício antes de proporcionar alegria a
outrem.
A predominância do egoísmo tolda-lhe a visão saudável do
sentimento de afetividade e impõe-lhe exigências descabidas que,
invariavelmente, o tornam vítima das circunstâncias.
Em tal condição, sentindo
a impossibilidade de amar ou de ser amado, procura, aflito, despertar o
sentimento de compaixão, apoiando-se na piedade injustificada.
Se experimentas solidão no teu dia-a-dia, faze uma análise
cuidadosa da tua conduta em relação ao teu próximo, procurando entender o
porquê da situação.
Sê sincero contigo mesmo, realizando um exame de
consciência a respeito da maneira como te comportas com os amigos, com aqueles
que se te acercam e tentam convivência fraternal contigo.
Se és do tipo que espera perfeição nos outros, é natural que
estejas sempre decepcionado, ao constatares as dificuldades alheias, olvidando
porém que também és assim.
Se esperas que os outros sejam generosos e fiéis no
relacionamento para contigo, estuda as tuas reações e comportamentos diante
deles.
A bênção da vida é o ensejo edificante de refazimento de
experiências e de conquistas de patamares mais elevados, algumas vezes com
sacrifício...
Não te atormentes, portanto, se escasseiam nas paisagens dos teus
sentimentos as compensações do afeto e da amizade.
Observa em derredor e verás outros corações em carência, à
tua semelhança, que necessitam de oportunidade afetiva, de bondade fraternal.
Exercita com eles o intercâmbio fraterno, sem exigências, não lhes transferindo
as inseguranças e fragilidades que te sejam habituais.
É muito fácil desenvolver o sentimento de solidariedade, de
companheirismo, bastando que ofereças com naturalidade aquilo que gostarias de
receber.
A princípio, apresenta-se um tanto embaraçoso ou desconcertante, mas o
poder da bondade é tão grande, que logo se fazem superados os aparentes
obstáculos e, à semelhança de débil planta que rompe o solo grosseiro atraída
pela luz, desenvolve-se e torna-se produtiva conforme a sua espécie...
Observa com cuidado e verás a multidão aturdida, agressiva,
estremunhada, que te parece antipática e infeliz.
Em realidade, é constituída
de pessoas como tu mesmo, fugindo para lugar nenhum, sem coragem para o
autoenfrentamento.
Contribui, jovialmente, quanto e como possas, para atenuar
algum infortúnio ou diminuir qualquer tipo de sofrimento que registres.
Esse
comportamento te facultará muito bem e, quanto menos esperes, estarás
enriquecido pela afetividade que doas e pela alegria em fazê-lo .
Ninguém pode viver com alegria sem experienciar a
afetividade.
A afetividade é mensagem de amor de Deus, estimulando as vidas ao
crescimento e à sublimação.
A afetividade deve ser distendida a todos os seres,
aos vegetais, animais, seres humanos, ampliando-a por toda a Natureza.
Quando se ama, instalam-se a beleza e a alegria de viver.
A
saúde integral, sem dúvida, é defluente da harmonia do sentimento pelo amor com
as conquistas culturais que levam à realização pessoal, trabalhando pelo
equilíbrio e funcionamento existencial.
FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Joanna de Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no dia 17 de novembro
de 2008, na cidade do Porto em Portugal.
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