No início de 1861, Allan Kardec lançava O Livro dos Médiuns – guia dos médiuns e dos evocadores. No dia 9/10/1861, em Barcelona, foram queimados centenas de livros espíritas, a maioria de autoria do Codificador, inclusive O Livro dos Médiuns.
Maurice Lachâtre, editor francês , achava-se estabelecido em Barcelona com uma livraria, quando solicitou a Kardec, seu compatriota, em Paris, uma partida de livros espíritas, para vendê-los na Espanha.
Quando os livros chegaram ao país, foram apreendidos na alfândega, por ordem do Bispo de Barcelona, Antonio Palau Termes (1857–1862), sob a alegação de que “A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países“.
O mesmo eclesiástico recusou-se a reexportar as obras apreendidas, condenando-as à destruição pelo fogo.
O Auto de fé de Barcelona ocorreu na esplanada de Barcelona, às 10h30 da manhã.
Conforme lista oficial transcrita na “Revue Spirite“, foram queimados os seguintes títulos:
- “Revue Spirite“, dirigida por Allan Kardec;
- “A Revista Espiritualista“, dirigida por Piérard;
- “O Livro dos Espíritos“, por Allan Kardec;
- “O Livro dos Médiuns“, por Allan Kardec;
- “O que é o Espiritismo?“, por Allan Kardec;
- “Fragmento de sonata“, atribuído ao Espírito de Mozart;
- “Carta de um católico sobre o Espiritismo“, pelo doutor Grand;
- “A História de Jeanne d’Arc“, atribuído a Joana d’Arc pela médium Ermance Dufaux;
- “A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta“, pelo barão de Guldenstubbé.
Um dos últimos Autos de Fé de nossa história, ao queimar os livros espíritas, não conseguiu destruir as ideias e o ideal.
Ao contrário, o fogo resultou a fumaça que subiu alto e se esparziu…
As ideias, o ideal e a difusão se fortificaram com o ato inquisitorial.
Quando passava pela alfândega espanhola, a remessa foi confiscada pela Igreja local, sob a ordem do bispo Antonio Palau Termes (1857-1862), a pretexto da autoridade que lhe era concedida pela Inquisição.
Argumentando que aquelas obras eram contrárias à fé católica, o bispo de Barcelona então sentenciou que fossem queimados, sem qualquer tipo de indenização aos seus proprietários.
O Professor Rivail solicitou por via diplomática pertinente, como era de praxe, que lhe fossem devolvidos os livros, já que não era permitida a sua penetração no país.
Dom Antonio Palau Termens, bispo do Auto de Fé de Barcelona de 9 de outubro de 1861
O bispo Don Antonio Palau e Termens replicou agressiva e impropriamente:
— O Governo não pode permitir que tais obras pervertam a moral e a religião dos países.
Faz então entrada na cena um sacerdote encapuçado levando em uma das mãos a cruz e, na outra, uma tocha acesa.
Seguem-no um escriba encarregado de lavrar a ata do Auto-de-fé, um servidor deste, um empregado superior da administração da Alfândega, um agente da mesma representando o proprietário das obras condenadas.
Finalmente três funcionários da Alfândega que depositam os livros no local, preparando a fogueira que com eles se faria empregando estudada solenidade.
Foi na esplanada da Ciudadela, que se fez a leitura do “Auto-de-fé” promulgado pelo referido bispo.
A execução se efetivou na esplanada central daquela cidade, às 10h30.
Kardec, em decorrência do Auto de fé de Barcelona, comentou:
“Graças a esse zelo imprudente, todo o mundo, em Espanha, vai ouvir falar do Espiritismo e quererá saber o que é; é tudo o que desejamos. Podem-se queimar os livros, mas não se queimam as ideias; as chamas das fogueiras as super-excitam em lugar de abafá-las.
As ideias, aliás, estão no ar, e não há Pirenéus bastante altos para detê-las; e quando uma ideia é grande e generosa, ela encontra milhares de peitos prontos para aspirá-la.“
Allan Kardec
FONTE:
O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA NO BRASIL
O AUTO-DE-FÉ E A REENCARNAÇÃO DO BISPO DE BARCELONA NO BRASIL
Não esqueçais esta data: 9 de outubro de 1861; será marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é a garantia de vosso próximo triunfo! (Allan Kardec)
Cento e cinquenta e quatro anos passados do Auto-de-Fé de Barcelona, um dos últimos atos do Santo Ofício, na Espanha.
O episódio culminou com a apreensão e queima de 300 volumes e brochuras sobre o Espiritismo — enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurice Lachâtre — por ordem do bispo de Barcelona, D. Antonio Parlau y Termens, que assim sentenciou:
“A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países.”
Allan Kardec reagiu dessa forma:
“Podem queimar-se os livros, mas não se queimam ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam, em vez de abafar.
Aliás, as ideias estão no ar, e não há Pireneus bastante altos para as deter.
Quando uma ideia é grande e generosa encontra milhares pulmões prestes a aspirá-la.”
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Kardec ao elaborar profunda reflexão sobre o futuro do Espiritismo, ante as dificuldades que enfrentava e enfrentaria, elaborou um estudo sobre os diversos períodos — curiosidade, filosófico, luta, religioso, intermediário, renovação — do pensamento espírita no mundo, colocando-o como o marco inicial do período de luta.
PADRE SEBASTIÃO BERNARDES CARMELITA
O Brasil tem uma relação curiosa com esse acontecimento, pois aqui, mais especificamente em Uberaba, foi palco do renascimento do bispo inquisidor, D. Antonio, como Sebastião Bernardes Carmelita, (foto) em 20.12.1917, que desempenhou as funções de padre naquela cidade.
Pelo seu modo de vida ficou conhecido como “o padre dos pobres e doentes".
Era reconhecido como o mais ecumênico de todos os sacerdotes.
*
É sempre especulativo e questionável se afirmar sobre a reencarnação de outrem. Esse fato, no entanto, conta com depoimento do próprio e de fontes como Yvonne do Amaral Pereira, Divaldo P. Franco e Francisco C. Xavier, dos Espíritos Bezerra de Menezes e Emmanuel.
A INICIAÇÃO ESPÍRITA
Ao assistir ao programa “Pinga-fogo” (1971), transmitido pela TV Tupi de São Paulo, que entrevistou à época o médium mineiro Francisco Cândido Xavier, ele emocionado confessa:
“(...) E eu não parava de chorar, meus amigos.
Sentia-me ingressar numa nova fase para o meu espírito.
Era como uma mancha do meu passado culposo estivesse se apagando.”
O CONTATO COM YVONNE DO AMARAL PEREIRA
Após ler a Codificação Espírita, padre Sebastião leu algumas obras da Yvonne e desenvolveu uma admiração pela médium, resolvendo escrever-lhe.
Na sua primeira missiva, de uma série que duraria 25 anos, ele narrou a sua identificação com um dos personagens que acompanharam a médium em sua romagem reencarnatória.
Esse primeiro contato despertou em Yvonne lembranças no arquivo de memórias extracerebrais, revelando-lhe a última encarnação do padre.
Ela guardou para si, intuída pelos mentores espirituais, para futura revelação.
Ele tinha conhecimento — declarara finalmente Yvonne — da revelação de ter sido, em existência pretérita, responsável pela incineração pública dos 300 volumes de obras espíritas, fato que ficou conhecido como Auto-de-Fé de Barcelona.
Era um segredo que ele guardava, juntamente com a médium, com o compromisso de ser revelado somente após a sua desencarnação, o que realmente ocorreu, conforme relata Gérson Sestini, em sua obra “Yvonne — A Médium Iluminada”.
Foi também através da médium que o padre se tornou amigo de Francisco Thiesen, presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB).REVISTA REFORMADOR
O padre Sebastião era leitor assíduo da revista “Reformador”, cuja assinatura ele mantinha em nome do seu pai, que o fez admirador da FEB.
Certa feita, esquecera de renovar a assinatura, o que provocou a suspensão do envio do periódico.
Apesar de solucionar a pendência, protestou sobre a interrupção das remessas, inclusive ressaltando ser amigo do Presidente da FEB.
Não satisfeito, recorreu à intervenção de Yvonne para que solucionasse por definitivo a regularização das remessas do mensário espírita.
O médium e orador espírita baiano Divaldo P. Franco, de forma bastante espontânea, confirmou a Francisco Thiesen as notícias quanto à identificação do padre Sebastião Carmelita como Dom Palau y Termens, bispo de Barcelona.
A MEDIUNIDADE DE CURA
Ainda a Gérson Sestini, Yvonne do Amaral afirmou:
“ - (...) Recebeu a mediunidade de cura para apressar sua própria cura, extirpando a arrogância, a soberba e todos os vícios que o orgulho engendra, dentro da mesma batina que não soubera honrar perante Deus.”
Comentarista do “Jornal da Manhã”, de Uberaba, no dia 15.12.1981, publicou um artigo sobre a desencarnação do padre Sebastião, que confirma a faculdade:
“Que dons especiais tinha o Padre Sebastião?
Seria um adivinho?
Seria um observador arguto, capaz de detectar os problemas de todo o mundo com uma simples conversa ou mesmo com a presença da pessoa?
Teria os dons mediúnicos?
Estes dons, evidentemente, não são privilégios dos espiritistas. Mas o Padre era realmente cheio de vibrações.
Quando ele falava, descia fundo no íntimo das pessoas.
Não era simplório, não.
Era um simples, um puro.
Era um humilde de coração.”
O padre Sebastião aplicava passes e receitava homeopatias em doentes, principalmente os do hospital conhecido como do “fogo-selvagem”, fundada por D. Aparecida Ferreira, abnegada amiga de Chico Xavier.
“UM PADRE ESPÍRITA?"
Certa ocasião ao pensar em desistir das lutas como sacerdote católico, por ser incompreendido e hostilizado mesmo na sua igreja, os Espíritos Bezerra de Menezes e Emmanuel deram-lhe mensagem, confirmadas pelos médiuns Yvonne do Amaral e Chico Xavier:
“Se deixar a batina, vindo para a área espírita sem ela, teremos um companheiro a mais do lado de cá; porém, permanecendo onde se encontra, teremos um obreiro penetrando, com luzes da Doutrina dos Espíritos, em ambientes cujo acesso nos é compreensivelmente vedado.”
O padre Carmelita sofreu muito.
Foi submetido a uma cirurgia cerebral, e padeceu de uma micose nos dedos, tendo que ser submetido a extração das unhas sem auxílio de anestesia, face ao quadro inflamatório grave.
A DESENCARNAÇÃO
Padre Sebastião Carmelita desencarnou aos 64 anos de idade, no dia 14 de fevereiro de 1981, em sua cidade natal, às 14 horas.
Desencarnou trabalhando, como sempre quis e repetia constantemente:
“Preferível que a morte me encontre no trabalho a que nos surpreenda numa poltrona de luxo."
A médium Yvonne do Amaral afirmou que Chico Xavier compareceu ao velório e comentou para alguns amigos, quanto à situação bastante favorável do desencarnante na esfera espiritual.
REFERÊNCIAS:
“REFORMADOR”. Rio de Janeiro FEB. Janeiro de 1983;
FREITAS, Alberto M. Yvonne do Amaral Pereira – O Voo de uma alma. Rio de Janeiro. CELD.1999;
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Rio de Janeiro. FEB. 2003;
_____________ Revista Espírita 1863. Rio de Janeiro. FEB. 2004;
SESTINI, Gérson. Yvonne – A médium iluminada. Rio de Janeiro. Léon Denis.2007
FONTE:
CANTEIRO IDEIAS. Disponível em <http://www.canteiroideias.com.br/2014/10/o-auto-de-fe-e-reencarnacao-do-bispo-de.html> Acesso : 09 OUT 2020.
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