No santuário Interior
Casimiro Cunha
Meu Senhor, Pai de Bondade,
De luz e de Amor sem fim,
Não me abandones à treva
Que trago dentro de mim.
*
Não me deixes repousar
No leito em flor da ilusão,
Dá-me a bênção luminosa
De tua repreensão.
*
De espírito encarcerado
Nos débitos que inventei,
Tenho sede do equilíbrio
Que nasce de tua lei.
*
Controla-me a aspiração
De ganhar e possuir,
Sou teimoso e invigilante,
Ensina-me a discernir.
*
Entrecruzam-se, em meu peito,
Divergências, dissensões...
Não me relegues ao jugo
De minhas imperfeições.
*
A chaga alheia, Senhor,
Sei curar, lenir ou ver,
Mas sou tardo de visão
Na esfera de meu dever.
*
Sou ágil no bom conselho
Ao coração sofredor;
Todavia, surdo e cego,
Nas dias de minha dor.
*
Nas orações, quase sempre,
Sou cópia dos fariseus,
Sentindo-me, presunçoso,
Dileto entre os filhos teus.
*
Não escutes, Pai Bondoso,
Os rogos e brados mil
Da ignorância que eu trago,
Vaidosa, bulhenta, hostil...
*
Não satisfaças, no mundo,
O orgulho atrevido e vão
Que me faz triste e abatido
Nos tempos de provação.
*
Põe freios duros e fortes
Ao meu serviço verbal,
Muita boca leviana
Tem dado guarida ao mal.
*
Meus sentidos, enganados,
Perturbam-me, muita vez.
Às emoções desvairadas,
Por compaixão, não me dês!
*
Que a tua vontade, enfim,
Pronta a prever e prover,
Seja em tudo e em toda a vida
A minha razão de ser.
*
Meu Senhor, Pai de Bondade,
De Luz e de Amor sem fim,
Não me abandones à treva
Que trago dentro de mim.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Gotas de luz. Rio de Janeiro: FEB, ed.9 , 1.994. Cap.24,p.43-44.
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