Dever
Emmanuel
O dever define a submissão que
nos cabe a certos princípios estabelecidos como leis pela Sabedoria Divina, para
o desenvolvimento de nossas faculdades.
Para viver em segurança, ninguém
desprezará a disciplina.
Obedecem as partículas elementares
no mundo atômico, obedece a constelação na glória da Imensidade.
O homem viajará pelo firmamento,
a longas distâncias do lar em que se lhe vincula o corpo físico; no entanto,
não logrará fazê-lo sem obediência aos princípios que vigem para os movimentos
da máquina que o transporta.
Dessa forma, pode-se simbolizar o
dever como sendo a faixa de ação no bem que o Supremo Senhor nos traça à responsabilidade,
para a sustentação da ordem e da evolução em Sua Obra Divina, no encalço de
nosso próprio aperfeiçoamento.
Cada consciência bafejada pelo
sol da razão será interpretada, assim, à conta de raio na esfera da vida,
evolvendo da superfície para o centro, competindo-lhe a obrigação de respeitar
e promover, facilitar e nutrir o bem comum, atitude espontânea que lhe valerá o
auxilio natural de todos os que lhe recolhem a simpatia e a cooperação.
Com semelhante
atitude, cada espírito plasma os reflexos de si mesmo, por onde passa,
abrindo-se aos reflexos das mentes mais elevadas que o impulsionam à
contemplação de mais vastos horizontes do progresso e à adequada assimilação de
mais altos valores da vida.
Desse modo, pela execução do
dever — região moral de serviço em que somos constantemente alertados pela
consciência —, exteriorizamos a nossa melhor parte, recolhendo a melhor parte
dos outros.
Acontece, porém, que muitas vezes
criamos perturbações na linha das atividades que o Senhor nos confia, e não apenas
desconjuntamos a peça de nossa existência, como também colocamos em desordem
muitas existências alheias, desajustando outras muitas peças na máquina do
destino.
Surge então para nós o inexorável
constrangimento à luta maior, que podemos nomear como sendo o dever-regeneração,
pelo qual somos compelidos a produzir reflexos inteiramente renovadores de
nossa individualidade, à frente daqueles que se fizeram credores das nossas
quotas de sacrifício.
É dessa maneira que recebemos,
por imposição das circunstâncias, a esposa incompreensiva, o esposo
atrabiliário, o filho doente, o chefe agressivo, o subalterno infeliz, a
moléstia pertinaz ou a tarefa compulsória a beneficio dos outros, como gleba
espiritual para esforço intensivo na recuperação de nós mesmos.
E por esse motivo que de nada vale
desertar do campo de duras obrigações em que nos vejamos sitiados, por força
dos acontecimentos naturais do caminho, de vez que na intimidade da
consciência, ainda mesmo que a apreciação alheia nos liberte desse ou daquele
imposto de devotamento e renúncia, ordena a razão estejamos de sentinela na
obra de paciência e de tolerância, de humildade e de amor, que fomos chamados
intimamente a atender;
sem isso, não obstante a aparência legal de nosso
afastamento da luta, somos invencivelmente onerados por ocultas sensações de
desgosto ante as nossas próprias fraquezas, que, começando por ligeiras
irritações e pequeninos desalentos, acabam matriculando-nos o espírito nos
institutos da enfermidade ou na vala da frustração.
XAVIER, Francisco Cândido pelo
Espírito Emmanuel. Pensamento e Vida, cap.19, p.37-38.
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