Saúde
Emmanuel
A saúde é assim como a posição de uma residência que
denuncia as condições do morador, ou de um instrumento que reproduz em
si o zelo ou a desídia das mãos que o manejam.
A falta cometida opera em nossa mente um estado de
perturbação, ao qual não se reúnem simplesmente as forças desvairadas de
nosso arrependimento, mas também as ondas de pesar e acusação da
vítima e de quantos se lhe associam ao sentimento, instaurando
desarmonias de vastas proporções nos centros da alma, a percutirem sobre a nossa
própria instrumentação.
Semelhante descontrole apresenta graus diferentes,
provocando lesões funcionais diversas.
A cólera e o desespero, a crueldade e a intemperança criam
zonas mórbidas de natureza particular no cosmo orgânico, impondo
às células a distonia pela qual se anulam quase todos os recursos de
defesa, abrindo-se leira fértil à cultura de micróbios patogênicos nos órgãos
menos habilitados à resistência.
É assim que, muitas vezes, a tuberculose e o câncer, a lepra
e a ulceração aparecem como fenômenos secundários, residindo a causa
primária no desequilíbrio dos reflexos da vida interior.
Todos os sintomas mentais depressivos influenciam as células
em estado de mitose, estabelecendo fatores de desagregação.
Por outro lado, importa reconhecer que o relaxamento da
nutrição constrange o corpo a pesados tributos de sofrimento.
Enquanto encarnados, é natural que as vidas infinitesimais
que nos constituem o veículo de existência retratem as substâncias
que ingerimos.
Nesse trabalho de permuta constante adquirimos imensa
quantidade de bactérias patogênicas que, em se instalando comodamente no
mundo celular, podem determinar moléstias infecciosas de variegados
caracteres, compelindo-nos a recolher, assim, de volta, os resultados de
nossa imprevidência.
Mas não é somente aí, no domínio das causas visíveis, que se
originam os processos patológicos multiformes.
Nossas emoções doentias mais profundas, quaisquer que sejam,
geram estados enfermiços.
Os reflexos dos sentimentos menos dignos que alimentamos
voltam-se sobre nós mesmos, depois de convertidos em ondas mentais,
tumultuando o serviço das células nervosas que, instaladas na pele, nas
vísceras, na medula e no tronco cerebral, desempenham as mais avançadas funções
técnicas;
acentue-se, ainda, que esses reflexos menos felizes, em se
derramando sobre o córtex encefálico, produzem alucinações que podem variar
da fobia oculta à loucura manifesta, pelas quais os reflexos daqueles
companheiros encarnados ou desencarnados, que se nos conjugam ao modo de proceder e
de ser, nos atingem com sugestões destruidoras, diretas ou indiretas,
conduzindo-nos a deploráveis fenômenos de alienação mental, na obsessão
comum, ainda mesmo quando no jogo das aparências possamos aparecer como
pessoas
espiritualmente sadias.
Não nos esqueçamos, assim, de que apenas o sentimento reto
pode esboçar o reto pensamento, sem os quais a alma adoece pela carência de equilíbrio interior, imprimindo no aparelho somático os
desvarios e as perturbações que lhe são consequentes.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Emmanuel. Pensamento
e Vida, cap.15, p.27-28.
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