A Lagarta
Casimiro Cunha
A árvore é grande e bela, mas, na copa que se alteia, intromete-se a lagarta escura, disforme e feia.
No troco maravilhoso, folhas verdes, flores mil. . .
O traço predominante é a nota primaveril.
E basta uma só lagarta de minúscula expressão, por fazer, na árvore toda, estrago e devastação.
De fato, o conjunto verde é nobre, forte e preciso; mas, em todos os detalhes, há sinais de prejuízo.
A lagarta rastejante, mostrengo em miniatura, vai de uma folha a outra, dilacerando a verdura.
As flores, embora belas, perfumosas e garridas, aparecem deformadas, nas corolas carcomidas.
O passeio da lagarta, que demora e persevera, perturba toda expressão da filha da primavera.
Por mais que enflore e se esforce, a árvore peregrina trai, aos olhos, a existência do verme que a contamina.
Encontramos na lição, desse pobre vegetal, o homem culto e bondoso com o melindre pessoal.
Há muitas almas na Terra, de feição nobre e segura, mas o melindre é a lagarta que as persegue e desfigura.
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Cartilha da natureza. São Paulo/SP:Butterflay editora Ltda,2002, ed.1. Cap 28, p.29.
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